terça-feira, dezembro 13, 2022

Um ser de um outro mundo atravessa a estrada à nossa frente

 


Pois o que tenho a dizer é que o mundo não pára de me surpreender. 

Nem sempre a surpresa é das boas, reconheço. Ainda hoje tive várias e quase todas desconcertantes, maioritariamente mais desagradáveis do que agradáveis. 

Tento relativizar, dou desconto, desvalorizo, sigo adiante. Mentalmente, incentivo-me: bola para a frente. Faço-o porque sim (o que é das mais incontornáveis razões) e porque sei que, no meio das crises, há sempre qualquer coisa de bom. Pode ser alguém que, vindo de outras vidas, nos liga para uns dedos de conversa, ou alguém de quem chegam palavras inesperadamente simpáticas, ou charadas que, aos poucos, se vão revelando. E, no cômputo geral, o que fica é o que é bom. O resto vai para reciclagem e, pouco depois, da reciclagem para o lixo. Delete forever. 

Não vale a pena teorizar muito sobre o imparável devir de circunstâncias. Sempre houve e, enquanto houver vida humana, sempre haverá quem nos surpreenda pela positiva ou pela negativa e, a bem dizer, pouco há de definitivo. Por isso, há que ir aceitando a imprevisibilidade, a imperfeição, a precaridade de tudo. Com o tempo a gente vai aprendendo a crivar as coisas, a desvalorizar grande parte do que não agrada. A gente pensa: não interessa. E segue adiante. Aliás, sempre fui assim. Mas, apesar disso, sinto que, cada vez mais, o sou.
  • Àquilo ou àqueles que não interessam de todo chuto-os para canto. Não os quero junto a mim nem pintados. E esqueço-os para todo o sempre.
  • Aos que chateiam um bocado mas com quem temos, porque temos, que conviver, vou desculpando, toda eu tolerância, tentando seguir na maior paz.
  • E tento é concentrar-me no que é bom, no que vem em paz e por bem.
E, dessa forma muito simples, vou seguindo. E, nesta boa onda, seguindo pelas estradas que me transportam ao longo do tempo, dou graças pelas surpresas com que me deparo.

Podem ser insignificantes. Mas vêm envoltas em oxigênio.
  • Por exemplo, a senhora muito simpática que, do nada, para para conversar e nos conta sobre o cão, grande amigo, que perdeu e sobre aquele que ali vemos, ainda infante e mal comportado.
  • Ou o ciclista afável que nos cumprimenta numa língua que não compreendemos ou com um bom dia que mal se percebe e que pedala com um cão ao colo e outro que vai pela trela, correndo ao lado dele.
  • Ou a jovem mulher, muito alta e muito elegante, talvez modelo, talvez ginasta, talvez nada disso, que passeia sozinha e nos cumprimenta com um sorridente Bom Dia mas que logo prossegue o telefonema numa língua muito curiosa.
  • Ou o grande sapo que, na noite escura, para grande surpresa nossa e do inocente ex-cachorrrinho pastor, atravessava a estrada, andando de forma apressada, luzidio, insólito, vindo não se sabe de onde, indo não se sabe para onde. 
[Com o telemóvel tentei captar o momento mas a falta de luz e a agilidade do ser de outro mundo impediram o rigor da reprodução. Mas, ainda assim, aqui está para que vejam com os vossos próprios olhos.]

O mundo é um lugar muito curioso. E essa é que é essa.


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E, já agora, igualmente de um outro mundo, de um outro tempo,
que entre a pequena Maria Armanda que, como sabemos, também viu um sapo


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Uma boa terça-feira
Saúde. Boas ondas. Paz.

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