Ultimamente pouco tenho falado do Presidente Marcelo pois a sensação que tenho é que entrou em derrapagem num plano descendente. Portanto, não precisa que o empurrem pois ele próprio já ganhou o balanço suficiente.
Mas a verdade é que, contra o que a vulgar prudência aconselharia, ele próprio continua a acelerar em direcção ao fim da rampa por onde desce, embalado. Não sei se, aí, no fim, haverá uma parede ou um precipício mas, seja o que for, não será boa coisa para quem se atira, à força toda, para lá.
Não há dia em que ele não nos apareça: ora anda em campanha pelo Brasil, ora anda em tournée pelos States, ora opina sobre o orçamento ora sobre as previsões ou sobre a ausência delas, sobre os carros da TAP, sobre o défice, sobre o que calha. Pelo meio insinua que pode dissolver a assembleia (e, não nos esqueçamos, em tempos mais passados, no meio das habituais tropelias, até já conseguiu a proeza de pegar no João Miguel Tavares e o apresentar como pessoa respeitável nas cerimónias do Dia de Portugal).
Li (ou sonhei que li?) que vai a Fátima de duas em duas semanas. Mas isso também não será nada demais pois também vai regularmente beber uma ginjinha à tasca do Zé da Gatinha, dar um mergulho em Carcavelos ou ao Guincho, à feira do livro aqui e ali e onde houver, dar um beijinho à velhinha mais fofa do lar, fazer festinhas na cabeça do bebé chorão e tirar uma selfie com duas gordas, com três carecas, com uma magra e outra assim-assim, com quatro domésticas, com cinco catedráticos, com seis enfermeiras, com uma dúzia de bombeiros e com uma senhora que vai a passear um cão.
Claro que, acelerado e em tal rodopio, não podia deixar de ficar como está: almareado. Portanto, parece já não medir o que diz ou faz.
Isto dos 400 casos, coisa pouca segundo ele, é outra nódoa de que jamais se livrará. Poderá engendrar mil leituras criativas para tornar a coisa menos escabrosa. Mas, por mais que vire do avesso o que disse, não conseguirá que alguém o volte a ver de camisa lavada. Há nódoas que não saem nem por mais uma e esta é uma delas.
Aliás, em todo o tema da pedofilia, por razões que certamente não lembrarão ao diabo, Marcelo tem feito de tudo para se manchar. Percebe-se que, ao querer desvalorizar os encobrimentos ou a dimensão do crime, quer absolver a Igreja... mas quem é ele para, perante tantas acusações tão graves, pretender absolver a organização que tem andado a encobrir tão graves crimes?
Sabendo-se que, por cada vítima que ganha coragem para denunciar um abuso, há muito mais vítimas que preferem manter o sofrimento bem enterrado no passado, a única coisa que se pode dizer é que se as denúncias são 400, então, as vítimas serão milhares. Não é coisa pouca. É uma monstruosidade.
E mesmo que fosse apenas 1 criança abusada por um padre só isso já seria um escândalo imperdoável.
Portanto, a única coisa que, em minha opinião, Marcelo pode fazer é pedir desculpa às vítimas por ter dito que 400 até são poucas e prometer-nos que no próximo mês se vai abster de comentar o que quer que seja.
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Em alternativa, poderá falar por anagramas pois assim não apenas ninguém perceberá nada como poderá sempre vir dizer que o que ouvimos não foi aquilo, foi outra coisa e que as palavras que pensámos que eram afinal eram outras. Casos? Eu não queria dizer casos, queria dizer sacos. 400 sacos são poucos. Ou não? Se calhar, são muitos, querem lá ver? Ou socas. 400 socas, o que é isso? Nada, peanuts.
The man who speaks in anagrams - Monty Python's Flying Circus
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Um dia bom
Saúde. Força. Alegria. Paz.
2 comentários:
Nunca votei Marcelo, por entender, que era uma personalidade ainda que, respeitável, mas sem condições pessoais para o mais alto cargo da Nação exatamente pela inconstância permanente que todos agora reconhecem.
Marcelo ao fazer comentário diário sobre tudo e o seu contrario, banalizou irremediavelmente o poder da "palavra" que todos os anteriores Presidentes preservaram, quer para enaltecer o cargo que ocupavam, quer para sua defesa politica, mantendo a distância para com os demais.
Hoje António Costa, retribuiu o beijo de "judas" que Marcelo lhe dera noutras circunstâncias, isto é, António Costa com um tiro, mata dois coelhos, por um lado mete a mão de baixo ao PR, por outro, deixa Marcelo no bolso do primeiro-ministro.
Olá Ccastanho
Pois, na verdade o Prof. Marcelo sempre foi assim desde que o conhecemos, hiperactivo, efervescente, incapaz de sair do palco, sempre desejando de receber provas de atenção. Se necessário, criava factos, efabulava em torno dos factos criados, comentava o que os outros tinham dito sobre os factos e... era uma festa. Desde os tempos do Expresso aos longos anos de comentário na TVI, isso impregnou-se totalmente nele. Aliás, creio que é genético e os longos anos de prática ainda mais o reforçaram.
Como presidente deveria conseguir conter-se. Mas não consegue. Ele gosta de andar com as televisões atrás e gosta de ter microfones para onde falar. Perde-se. E agora parece que anda em roda livre. Se calhar está esgotado. E enquanto nas outras pessoas o burnout dá para a prostração nele é capaz de dar para ficar desenfreado.
Deveria descansar, reflectir, colocar-se em pausa.
António Costa fez bem. Está a tentar aguentar a respeitabilidade de um orgão institucional tão importante como a Presidência da República.
Um bom dia, Ccastanho!
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