domingo, setembro 11, 2022

Amor, medo, noites sem dormir. O telefone ao lado da cama.

  



“É um triângulo impossível e todos se sentem magoados”, diz ela. “Algumas pessoas conseguem. Eu não. Foi uma situação destrutiva. É preciso coragem. Percebi perfeitamente o dano que isso pode causar. Para cada um de nós, foi doloroso. No entanto, não se consegue parar. É o que é. É como se tivéssemos que estar na frente de um dragão e tivéssemos que enfrentá-lo, sabe?” 

Porque é que não conseguia escolher entre os dois homens da sua vida? 

“Nós amamos de maneiras diferentes, acho que se pode dizer”, responde. “É como perseguir uma necessidade dentro de nós. Quando estamos no meio de uma situação destas, não percebemos porque é que acontece”

Penso no conselho que foi dado a Binoche aos 14 anos por uma amigo artista da sua mãe, quando ela não conseguia decidir entre atuar ou pintar. “Juliette: escolhe fazer tudo!”

Mesmo enquanto Sara está a planear encontros com François, ela convence Jean de que não há nada em andamento, que ela e ele foram feitos um para o outro. Porquê submeter os dois a essa tortura? "Tem que ser", diz Binoche decisivamente. “Ela está perante uma necessidade em si mesma, um apelo sexual, como uma onda de calor, talvez de amor. Tem que ser vivido. Ela tem que perceber o que é. Se ela não fizer isso, ela estaria a colocar-se entre parênteses, ou... no frigorífico! É o que a torna humana e verdadeira.”

 “Permitir-se passar por isso é incrível porque muitos de nós diriam: ‘Não, é muito destrutivo’ ou ‘vou perder o que já tenho’. Tornam-se conservadores antes mesmo de começar. Mas quando uma onda tão grande está a chegar, é difícil não dizer sim, eu acho. Ela pede para ter essa liberdade de ser ela mesma, sem saber qual será o resultado. Isso é tão corajoso. E terrível! Eu sei o quão doloroso e perigoso pode ser.”

Tradução livre do artigo: ‘I fell in love with two men – it was unbearable!’: Juliette Binoche on love triangles and ‘little boy’ Gérard Depardieu. A propósito do filme Both Sides of the Blade


Porque há Leitores que me acompanham há muito tempo não vou entrar em pormenores ao voltar a recordar os épicos tempos em que vivi uma situação de intenso triângulo amoroso. Durou três, quatro meses, não mais, mas foi o que Juliette tão bem descreve: amor, medo, noites sem dormir. 

E é tanto mais difícil quanto se decide expor a situação aos envolvidos. Pretendia ser franca, pensava eu, mas no fundo talvez esperasse que ambos aceitassem a situação. Melhor: nem sei bem o que esperava quando contei ao mais recente que eu já namorava, namoro firme, intenções de casamento já em andamento e quando contei ao legítimo namorado que achava que tinha conhecido o homem da minha vida. Não sei o que esperava quando me despedia de um dizendo que ia passar o fim de semana com o outro ou quando, ao domingo, me despedia deste dizendo que me ia encontrar com o outro no dia seguinte.

Claro que, se o 'intruso' começou por aceitar bem a situação, pois ele é que estava a entrar em terreno ocupado, já o outro aceitou pessimamente desde o início. E digo que aceitaram pois não podiam impedir-me e, portanto, deram por eles a viver essa situação. E claro que o 'intruso' ao fim de algum tempo também já não aceitava bem que eu me despedisse dele para me ir encontrar com o outro. Uma situação que se complicava de dia para dia.

E claro que, por fim, por defesa pessoal e também deles, eu já não podia ser completamente sincera. E não ser sincera dava cabo de mim. E claro que, por fim, já andava era sempre com medo que se cruzassem e que a coisa desse para o torto. Aliás, uma vez quase deu.

Não é fácil. Mas é o que Juliette Binoche diz: quando acontece parece que não há volta a dar, a tentação fala mais forte.

Até que um dia, inevitavelmente, há que tomar uma decisão, fazer uma escolha. 

No entanto, tenho para mim que a escolha só tem que acontecer porque os homens são muito territoriais. Se fossem menos picuinhas, talvez a convivência fosse pacífica. Para quê tanto drama?



_________________________________________________________________

Já agora, e porque Juliette Binoche também pinta e são suas as pinturas que aparecem no filme Words and Pictures também referido no artigo acima citado, aqui fica o trailer desse filme em que contracena com um dos meus xodós, Clive Owen.


______________________________________

E é verdade, Lucy, Juliette Binoche é uma das mulheres que aos 58 anos continua belíssima e sem problemas em mostrar a idade que tem. Belíssima, sedutora, fantástica actriz.

_________________________________________________

A todos um bom dia de domingo
Saúde. Vontade de viver. Paz.

2 comentários:

Arménio Pereira disse...

Too much worrying and rumination goin’ on on things which elude any control.
Why’s that?
Why aren’t we all wise? Why aren’t we all handsome & fair?

God doesn’t care about ethics.
Evolution doesn’t care about fairness.
The Everlasting Dissatisfaction cares only for endless aesthetic rearrangements.

The Forever Child & the Infinite Kaleidoscope.


Cuidando e cogitando sem parar sobre o que ilude qualquer controle.
Porquê?
Por que não sábios? Por que não belos e justos?
A Deus não Lhe importa a ética.
A evolução não zela p'la justiça.
À Insatisfação Eterna só a estética dos cambiantes infindos interessa.

Perene Criança, Caleidoscópio sem fim.

Um Jeito Manso disse...

Olá K, bilingue Arménio,

Há quanto tempo... Espero que esteja tudo bem consigo. Continua, pois, agarrado à sua eterna insatisfação. Eu não. Aliás, como sabe. Posso perseguir a eterna curiosidade mas, como me deslumbro com pouco, com a eterna insatisfação vem o eterno deslumbramento.

Mas em algumas coisas dou-lhe razão. A beleza é fundamental. A bondade, a generosidade também. E a justiça, claro.

E não digo que aquilo que não controlamos mereça grande cogitação. Mas somos humanos, imperfeitos. Por isso, queremos introduzir a racionalidade sempre que a coisa parece estar a derrapar para o caos. Mas o pior é que a racionalidade, por vezes, só atrapalha.

E obrigada, K. Os seus comentários são sempre curiosos.

Dias felizes, perene criança.