Não tenho muito a dizer. Apesar de cansada só devo ter adormecido por volta das seis. Uma espertina das antigas. A meio da noite lembrei-me: o café. Só posso beber café de manhã senão está o caldo entornado. E, com a animação da churrascada e da cantoria festiva, tinha-me distraído e bebido um belo e encorpado café. Fatal.
Mas depois dormi bem e, a seguir ao almoço, adormeci de novo. E a dor no joelho desapareceu. Já não é a primeira vez que isto me acontece: estou cansada, aparece-me uma dor e, depois de dormir bem, a dor desparece.
Mal me levantei o meu marido disse-me que tinha visto um esquilo a beber água. Diz que, de longe, não percebeu. Temeu que fosse um gato morto. Depois o esquilinho levantou a cabeça, levantou o rabo, subiu o muro e desapareceu. Diz que era castanho e que o rabo é muito grande.
Ainda andei de cabeça no ar a ver se o descobria mas não. Devem estar escondidos nos esconsos dos pinheiros ou das azinheiras.
O chão está coberto de pinhas roídas. Em contrapartida, vejo poucas bolotas no chão. Na volta comem-nas.
Não consigo perceber como lá apareceram. Vêm andando, andando, quilómetros e quilómetros, até descobrirem o habitat ideal? Vieram de onde até chegarem aqui? Gostava de perceber.
Antes de nos virmos embora, fui buscar a banheira onde lavávamos os meninos quando eram pequenos, enchi-a de água e coloquei-a debaixo do telheiro para terem água limpa para beber. A ver se não aquece muito. O meu marido disse para não encher com tanta água se a ideia não fosse os esquilos tomarem banho. Mas receio que se evapore.
Também andei a apanhar mais orégãos. Mas não muitos, há poucos e estava muito calor. Os da semana passada já estão praticamente secos mas como basicamente passei o dia a dormir ainda não os escolhi nem embalei. Para a semana trato disso.
Há muitas lagartixas, muitas mesmo. E borboletas. E abelhas. E cigarras. Adoro estar in heaven. É campo, campo. Em dias assim, só nós dois, descanso e reponho energias que é um regalo.
De ameixas já nem vestígio. As que caíram alguns bichos as devem ter comido e das que resistiram nas árvores os pássaros devem ter-lhes chamado um figo.
As uvas sofreram com o calor. Os cachos, com bagos ainda minúsculos, estão quase secos. Os calores travaram o crescimento, desidrataram-nos.
A ver como saem os figos. Tomaram que medrem e fiquem doces. Adoro carnalmente os figos.
Olho à volta e só vejo coisas para fazer. E só espero que faça menos calor para ver se deitamos mão à obra.
(É deste plural, que é tudo menos majestático, que o meu marido se queixa: vejo coisas para fazer mas, quando é para fazê-las, falo no plural. Ou seja, ele também vai ser chamado a fazê-las. Tem que ser. A casinha que foi pintada de verde a pensar que era no tom das árvores afinal tem um verde garrafa que fica ali mais chamativa do que devia. Pensei em pintá-la de verde muito escuro ou mesmo de preto e, depois, pintar-lhe, por cima desse fundo, umas flores em verde mais claro. O banco de pedra que tem na parede que dá para o caminho também merece alguma reflexão. Quiçá no mesmo tom escuro mas com florzinhas como se estivessem a nascer do chão. O murinho baixo também precisa de ser pintado de branco. E lá em baixo nem se fala, montes de coisas a precisarem de repintura. E isto já para não falar em varrer os caminhos. Geralmente varro os cá de cima, mais próximos da casa e os lá de baixo, coitados, ficam entregues a si próprios. Também acho que deveríamos levantar muito mais as copas dos pinheiros. Levantámo-los até onde conseguimos alcançar mas acho que devemos ver se encontramos daqueles brasileiros que trepam às árvores e cortam os ramos lá em cima. Falo de brasileiros pois, sempre que ouço falar disto, só ouço falar 'nuns brasileiros que sobrem até ao cimo das árvores'. Claro que o meu marido nem quer ouvir falar em nada disto pois o grande anseio dele é ter uns dias ou um período em que não tenha nada que fazer. Contudo, acho que não vai ter sorte.)
Dentro de casa, quando chegámos, estava um calor absurdo, de sauna, desconfortável. Felizmente o ar condicionado resolve o problema em dois tempos. Anos de frio e calor absurdos porque me parecia que os aparelhos iam desfear a casa. Afinal nem damos por eles. Há coisas que comprovam a minha burrice e esta é uma delas.
Talvez devesse dizer: uma de muitas. Assim de repente poderia referir outra: antes de começar a escrever isto, estive a despachar assuntos. Poderia deixá-los para daqui por uns dias, talvez até mesmo para esta segunda-feira de manhã. Mas começo a pensar que sou viciada. Apareceu-me há pouco um mail daqueles que me irritam: microsoft viva. Ninguém pediu nada mas eles aparecem a resumir-me a semana e a aconselhar-me. Dizem que devia intervalar mais e não trabalhar nas horas de descanso. Metediços, abelhudos, os tipos da microsoft. Só me apetece mandá-los bugiar mas, ainda assim, não mando. Tenho a secreta e inconfessável esperança que um dia me dê para lhes prestar atenção.
Ask the Artist | Questions for Cornelia Parker | Tate
Cornelia Parker is one of Britain's best loved and most acclaimed contemporary artists. Always driven by curiosity, she reconfigures domestic objects to question our relationship with the world. Using transformation, playfulness and storytelling, she engages with important issues of our time, be it violence, ecology or human rights.
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