Não frequento o Twitter, não tenho conta, não tenho curiosidade.
Não tenho (mas até nem me importava de ter) um Tesla.
Não penso ir a Marte nem me apetece pensar que um dia colonizaremos esse planeta.
Ainda não tive vontade de perceber bem o que vai ser o Optimus, o robot humanoide de que se aguarda o protótipo este ano e a comercialização para o ano que vem (talvez porque receie que venha abrir uma porta muito perigosa).
A Musk pouca atenção tenho, pois, prestado.
No entanto, de Musk muito se tem falado, sobretudo agora por ter comprado o Twitter.
Contudo, penso que mais se deveria saber.
Creio que é o homem mais rico do mundo mas ele diz que Putin é mais rico que ele. Não faço ideia. Mas que é muito, incomensuravelmente, rico, isso creio que não oferece dúvidas.
Do pouco, muito pouco que sei dele, não me tenho sentido especialmente ameaçada. Tenho ideia que pende para o lado bom das coisas. Preocupa-se com o planeta, por exemplo. Contudo, mexe com coisas demasiado perigosas. A inteligência artificial, os poderosos meios de computação de que dispõe, a indústria de topo que tem ao seu dispor, o domínio da Física que subjaz a muitos dos seus empreendimentos, o imenso capital de que dispõe, um certo lado solitário e, por vezes, rebelde, e a sua infância que certamente lhe deixou marcas -- parecem-me ingredientes de um cocktail potencialmente perigoso. Até ver, não me parece daqueles malucos maléficos que não se ensaiam nada em destruir a humanidade. Pelo contrário, tem dado mostras de se preocupar com ela. Mas creio ser uma pessoa dotada de uma curiosidade insaciável, de uma vontade imparável, de uma inteligência arguta e, por ter meios para ir atrás das suas ideias, pode aproximar-se de portas que, uma vez abertas, jamais se fecharão. E não sei se, estando perante essas portas, não será sempre tentado a abri-las. E, solitário como tende a ser, não sei se haverá ao seu lado alguém que o segure quando chegar o momento de o segurar.
Aparentemente agora não anda com ninguém pois foi à Met Gala com a sua bela, jovial e bem disposta mãe, uma modelo com uma grande pinta, Maye Musk.
Há algum tempo Elon Musk anunciou que lhe foi diagnosticado autismo -- o que não estranho.
E, se não tenho tido curiosidade em saber muito sobre as suas actividades pessoais e sociais e sobre a sua extraordinária carreira, não deixo de pensar que estas pessoas que se tornam tão poderosas e que operam em sectores tão novos e tão desregulados, um dia podem tornar-se, mesmo que não voluntariamente, demasiado perigosas e, se isso acontecer, ninguém saberá como lhes deitar a mão.
[Estou a escrever e a pensar em Putin. Não terão muito que ver um com o outro. Mas Putin também meteu umas ambições na cabeça e, por ser poderoso e por não haver a seu lado quem consiga travá-lo, está na bárbara deriva imperialista em que está sem que o mundo saiba bem como travá-lo]
Hoje tive curiosidade em ouvir Elon Musk. A entrevista é interessante. O entrevistador tem pinta, sabe ouvir, sabe questionar.
Elon Musk diz coisas curiosas (o título deste post foi extraído de uma destas entrevistas). E di-las com alguma contenção e sem aquela segurança com que habitualmente falam os que se encontram no patamar em que ele está (Bill Gates, por exemplo).
Ao contrário de Bezos ou Gates que falam como quem já atingiu objectivos inimagináveis, Elon Musk fala como se ainda estivesse a dar passos no sentido dos objectivos que gostaria de alcançar. E isso ainda me parece mais preocupante.
Mas pode ser que esteja a preocupar-me à toa.
8 comentários:
(a paixão pela "verdade" que convém)
Seres humanos & A Verdade / Azeite & Água / Realidades imiscíveis
A Verdade: todos a adoramos quando nos respalda; odiamo-la de paixão quando não.
Não espanta que ninguém em seu perfeito juízo queira embarcar numa tal relação de amor/ódio.
Não fomos feitos para isso: nunca aceitaremos a verdade integralmente; só conseguimos conviver com ela por instantes ridiculamente breves e se for servida em porções que mal se distinguem de tão diminutas.
A Verdade tal como é, nua & crua, não a toleramos: se crua, queixamo-nos de que é intragável; se nua, repugna a sua fealdade (será por isso que existem quer o manto diáfano da fantasia quer o rude saco da mentira, creio.)
A Verdade é como fugu sashimi (inglês): precisa de ser servida em fatias tão finas que se torna indistinguível como um todo; de igual modo, como o fugu, a Verdade pode induzir dormência localizada e, nalguns casos, ser letal.
(Corolário) A Verdade (se sabe o que é): se possível, evitar a todo o transe; caso contrário, use-A com muita moderação, extrema cautela e por sua conta e risco. (Mentiras, por outro lado, podem ser engolidas com frequência - como as cerejas - e de preferência inteiras - como os jaquinzinhos: afinal, para que servem os enemas, eméticos e pílulas do dia seguinte desta vida?)
(the delicate filigree)
To have only the "right" thoughts, to use only the "just" words... how sensible would it be: for all intents & purposes, to speak less, to think slow.
(to my mind, all interpretations are skies)
Planets & Stars
Comets & Satellites
Real Fantasies
Opposite Realities
(I will never reach the Moon)
(a delicada filigrana)
Dizer só as palavras "certas", ter apenas ideias "correctas"... exequível conveniência: exige tão só falar menos, lucubrar com (c)alma.
(p'ra mim, todas as interpretações são firmamento)
Estrelas e Planetas
Satélites e Cometas
Enigma sem Respostas
Realidades Opostas
(A Lua? Argentina Quimera.)
(standing on the shoulders of giants / às cavalitas de grande gente)
O homem de letras distingue-se
pela excelência do dicionário
que o adoptou.
(flawed pearls)
humans look at Reality
a baroque's all they see
not pearl, nor empty shell
Reality's both
and both it shall
* baroque: irregular in shape (said of pearls) (Source)
"Tenho ideia que pende para o lado bom das coisas". Talvez...
Mas, não dariam essa mesma ideia indivíduos que fizeram eleger-se democraticamente para governar destinos de nações e, uma vez empoleirados, não tardaram a evidenciar as verdadeiras intenções, tudo e todos dominando e subjugando com o limite único da satisfação da própria cupidez, ânsia de poder e necessidade de ostentação?
"Estou a escrever e a pensar em Putin", que até poderá nem ter sido o pior deles todos. Adolf Hitler, talvez? Nestas coisas, é difícil a classificação...
Preocupemo-nos, sim. Não será "à toa".
Votos de uma ótima semana!
Olá K (aka Arménio)
Extraordinárias palavras. Diria mesmo que é um comentário com o seu quê de barroco.
Acho que até vou compor um mantra a partir de alguns trechos. Por exemplo:
For all intents & purposes,
to speak less, to think slow.
Real Fantasies
Opposite Realities
Not pearl, nor empty shell
Reality's both
and both it shall
Por vezes sorrio ao ler, por vezes fico a pensar, por vezes tenho vontade questionar. Outras vezes prefiro deixar pousar (speak less, think slow).
Com o que escreve, poderia também fazer um jardim.
Muito obrigada.
Olá Mosaicos,
Há, na nossa história recente, pessoas que, por muito poderosas e sem mecanismos de 'regulação' à altura, empreenderam derivas insanas de desvario imperialista. Hitler, claro, mas também Estaline e, agora, Putin.
Mas, noutros domínios, domínios mais intangíveis e em que a força bruta não é usada, em que ninguém tem que 'meter as botas no terreno', há casos recentes muito preocupantes. São pessoas que criam 'coisas' que se espalham exponencialmente, que assentam em meios de computação, armazenamento ou execução poderosíssimos -- e em matérias desreguladas e que, para a maioria das pessoas, são temas que não suscitam apreensão. Mais são 'coisas' que causam habituação e de uso massificado. Facebook, Instagram, Whatsapp, Twitter, TikTok, etc.
Podem ser verdadeiras bombas atómicas em relação à democracia.
Claro que, pelo meio, têm muitas coisas boas, úteis e inócuas. Só que encerram um potencial de perigo imenso e se o perigo acontecer ninguém saberá como enfrentá-lo.
Até que se perceba como agir perante estas realidades, vamos esperar que nada de mau aconteça.
Uma óptima semana também para si!
Já não passava por aqui aqui há algum tempo. Curiosa a sua (generosa) caracterização de Musk. Não o acho particularmente perigoso tão-pouco, Twitter ou sem Twitter (parece que já não quer...). Mas por motivos diferentes. Acho que é um idiota, um lunático, um tonto do género do Trump. Talvez algum jeito agora negócios, embora a esse nível nem isso se pode avaliar, são uma cambada de gente que vive na estratosfera, não no mundo normal onde tem relevância ser bom ou mais para o negócio. Musk é um bocado tarado, mas acho que pende mais para o burro-espero, como Trump, do que para o inteligente. Não é nenhum Bll Gates, muito menos um Steve Jobs.
Olá Anónimo/a
Não sou condescendente nem deixo de ser. Como disse, conheço-o pouco. E, como disse também, acho um perigo a concentração de tanto poder (com ou sem Twitter) nas mãos de uma pessoa, em especial se for alguém com tanto capital e em especial se for em matérias ainda tão desreguladas.
Uma boa semana!
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