Tenho estado aqui a ver se arranjo energia para começar a escrever. O dia foi muito bom mas começou cedo e acabou tarde e veio na sequência de uns tempos bastante atarefados. Talvez por isso, agora me sinta sem pilhas.
Festejámos mais um aniversário. Não foi hoje o dia dos anos mas foi o dia da festa da família.
Entre caminhada matinal, compras no supermercado, ir buscar a minha mãe, almoço, preparar as coisas, ténis em grupo, lanche e brincadeiras e, no fim, ir levar a minha mãe, foi muito bom mas, quando chegámos, estávamos os dois com vontade que não viesse aí uma segunda-feira mas um domingo. A minha mãe dizia, no carro: "Vocês deviam era ir uma semana para um hotel para dormirem até tarde, para dormirem a sesta, para descansarem. Vocês não descansam.". Ao ouvi-la pensei que isso deveria acontecer no primeiro dia, dormirmos bastante, mas que, ao segundo, já não deveríamos aguentar-nos sem nada que fazer.
Os meninos estão crescidos, bonitos, amigos uns dos outros, sempre bem dispostos. Desta vez quem fez anos foi o menino que, durante algum tempo, aqui tratei por bebé e a quem, pouco depois, passei a chamar ex-bebé. Chorava que se fartava, em especial de noite, quando era bebé. Não se percebia o que se passava mas a verdade é que não deixava a mãe dormir. O pai, nessa altura, estava a trabalhar longe e ela, sozinha com dois pequenos, um dos quais a chorar toda a noite, passou um mau bocado. Quando resolvi tentar eu, até para dar lhe dar tréguas a ela, não consegui fazer nada dele. Chorava, fazia birras, não se cansava. O meu marido perguntava-me, espantado: 'Mas que é que o puto tem? Alguma coisa deve ter para berrar desta maneira...'. Mas, que se soubesse, não tinha nada a não ser o não dormir nem deixar dormir. Noites em branco. Quando se deixou disso, virou um menino tranquilo, meigo, muito boa pessoa. Como sempre foi muito dado ao desporto e a tudo o que sejam actividades físicas, acabámos por ficar surpreendidos por ser tão bom aluno e por, afinal, ser também dado a gostar de história (imagine-se...) e ser sensível, mesmo sentimental. Nunca se zanga com ninguém, nunca arranja problemas, ajuda os outros, tenta ir de encontro ao que os outros gostam e, claro, toda a gente gosta dele.
É o padrinho da pequena fera. Tanto queria um cão, tanto pediu e tanto logo se afeiçoou, mais que qualquer dos outros meninos, que só poderia ser ele o padrinho.
Nestes dias, a pequena fera anda de um para outro, todos brincam com ele e o enchem de festas e de mimo.
Quando estão juntos, os meninos falam muito, têm sempre imenso a conversar. Dois deles, dois homónimos, os que sabem muito de futebol, tentam apanhar o outro em falso. O mais novo desses dois, o que hoje foi repórter e é um bacano bem disposto e cheio de marotice, bem tenta desarmar o primo mas o primo, o mais velho dos cinco, é enciclopédico no que se refere a jogadores, nacionalidade e clubes, treinadores e sei lá que mais. Não faço ideia onde se adquire este género de conhecimento mas a verdade é que nada o finta.
Têm um apetite de dar gosto. Quando chegam ao pé de mim perguntam logo o que há para comer. Desta vez, dois deles perguntaram se era um lanche ajantarado. Talvez. Mas com o apetite que têm e com a energia que gastam, por muito que comam, acho que, pouco depois, estão capazes de se sentarem de novo à mesa e jantar e cear. Numa das fotografias que a minha filha mandou há bocado estão os cinco sozinhos à mesa, comendo e conversando. Uma graça. Fico feliz ao vê-los assim. Tomara que, ao longo da vida, seja qual o for o rumo que sigam, se mantenham sempre amigos.
Hoje são amigos e quer os filhos do meu filho adoram a tia quer os dela adoram o tio. Aliás, quando cá estão, quaisquer deles perguntam logo se os tios não vêm ou quando é que os primos chegam. E o meu coração enche-se de alegria. Não há cansaço que se sobreponha ao contentamento por vê-los juntos e amigos uns dos outros.
A minha mãe gosta de estar no meio da confusão, admira-se por vê-los cada vez maiores. Diverte-se com a voz aguda da bisneta e com o seu sentido de organização. Ainda hoje, ao entrar no carro da tia começou logo a perguntar que bolas eram aquelas no chão, três bolas de futebol!, e a querer começar a fazer arrumações. E espanta-se com o vocabulário e a desenvoltura do mais novo, que sabe tudo. Ainda hoje, quis pôr uma raquete nas costas, presa entre o corpo e a tshirt. Dizia que era como se fosse uma espada. Depois puxava-a e apontava-a. E eu perguntei-lhe: 'Sabes o que se diz, nessa situação? En garde'. E ele, como que corrigindo-me, pronunciando o r arranhado, mesmo à francesa: 'En garrrde. Como na esgrima'. Não sei porquê, hoje esteve parte da tarde, depois de lanchar, de máscara. Nem sei que máscara é aquela. Trouxe-a lá de baixo, quando o aniversariante esteve com o tio, o seu grande amigo, a jogar ping pong. Se calhar é uma máscara de paintball.
Já sei que amanhã, quando perguntar à minha mãe se dormiu bem, me vai dizer ora!, que nem uma pedra, que adormeceu mal se sentou no sofá ou que caiu na cama e que dormiu muitas horas de seguida. O movimento acelerado e ruidoso destas tardes em grupo são para ela uma verdadeira terapia de choque em termos de sono e de boa disposição.
A vida é uma caminhada, na verdade. E que a façamos juntos, em harmonia, em paz -- isso é o que é preciso.
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