O dia esteve escuro, chuvoso. Por razões que não vêm ao caso, têm sido dias muito trabalhosos para mim. Chegámos a casa tarde tal como ontem e tal como outros dias desta semana. Antes ainda tinha passado pelo supermercado e, depois de arrumarmos as coisas, ainda adiantei o almoço deste domingo. Mal consegui saber as notícias.
Mas, ao jantar, com a televisão ligada, voltei a ver imagens que me revoltam, me entristecem, me angustiam e comovem. Ainda mal estávamos a sair da pandemia e quando, um pouco por todo o mundo, queríamos respirar e voltar à normalidade, eis que um homem pérfido e transtornado resolve invadir e dizimar um país. O mundo quer paz e tranquilidade e, no entanto, descobrimo-nos impotentes perante o poder de um psicopata narcisista que usa a guerra como o seu espelho pessoal.
E tudo o que se diga sobre a Nato ou sobre antecedentes históricos disto ou daquilo é areia para os olhos dos que ainda têm dúvidas de que, neste momento, só há uma coisa a ter em mente: acabar a guerra.
Hoje, em conversa, interrogava-me porque não senti eu esta revolta, este profundo pesar, noutras situações de guerra. Ouvi ontem a Aida Cerkez ler uma carta aos ucranianos na qual recorda o que sofreu em Sarajevo.
Claro que acompanhei com ansiedade o que ali se passava mas, a esta distância, a ideia que tenho é que não devo ter percebido bem a verdadeira dimensão daqueles crimes pois, embora me indignasse, não sentia o que hoje sinto. Na minha cabeça havia a ideia de que eram questões mal resolvidas aquando do fim da União Soviética, rivalidades, questões de fronteiras, gente habituada a brutalidades. Mas talvez a comunicação social não tivesse feito a cobertura que hoje faz e não havia informação a toda a hora nem os vídeos que hoje temos. Também eu era menos consciente de tudo, andava assoberbada a ser mãe de filhos pequenos enquanto trabalhava em projectos que me obrigavam a trabalhar muito. Não estou a desculpar-me, estou apenas a tentar perceber a razão que me leva a ficar doente de repúdio e inquietação com a brutal invasão da Ucrânia pela Rússia e não fiquei assim noutras situações quase igualmente inaceitáveis.
Bosnian War Survivor Reads Moving Letter to Ukrainian People | Amanpour and Company
The last time war engulfed Europe was in the Balkans during the 1990s. The city of Sarajevo was under siege for 46 months -- the longest siege in modern history. Serbian strongman Slobodan Milosevic sought to punish Bosnia for choosing a democratic, pro-European future -- a clear parallel to Ukraine's plight vis-a-vis a Russian dictator today. Bosnian journalist Aida Cerkez joins the program to share her thoughts and read a letter she wrote to the people of Ukraine.
Mas, dizia eu, ao ver a televisão vi reportagens que mostram o extraordinário trabalho que tantos voluntários de todo o mundo, Portugal incluído, têm estado a levar a cabo. Saem das suas casas, saem das suas zonas de conforto, arriscam-se e de que maneira, dão tanto de si para ajudar quem deixa para trás as suas casas, as suas famílias, as suas vidas.
E os que vão combater? Suspendem a sua vida segura, confortável e previsível para irem arriscar a vida, lutando contra um inimigo poderoso, cruel, bárbaro, inumano. Não sei onde arranjam tanta coragem. Não são apenas os ucranianos, de todas as idades e profissões, que se oferecem para combater: são também os estrangeiros. A força do apelo da liberdade, a vontade de lutar ao lado dos que querem a democracia e ser livres, o forte chamamento que sentem tantos para se colocarem ao lado dos bravos ucranianos que se batem contra Putin, um homem autoritário, um ditador, um nazi.
Sinto uma infinita admiração por toda esta gente valorosa. Emociono-me muito com isto. E, no meu íntimo, desejo, desejo, desejo mil vezes, peço, peço, peço mil vezes que nunca nós, portugueses, nos vejamos envolvidos em tamanho sofrimento e que nunca, nunca, nunca, os meus filhos e os meus netos sofram tormentos assim. Nunca, nunca, nunca.
E o meu coração está com todas as mulheres ucranianas, tão corajosas, tão fortes, tão incrivelmente resistentes que sofrem o sofrimento delas e a tremenda, tremenda, tremenda angústia pelo sofrimento dos seus filhos e netos.
E, ali tão perto, na bela e ainda livre Kiev, dando o peito aos balas, corajoso e inspirador, Zelenskyy.
Ukraine ‘Will Fight to the Last Soldier’, Says President Zelenskyy
Ukraine’s teenage students prepare to fight the Russian army - BBC News
As Russian forces approach Ukraine’s capital Kyiv, thousands of people are enlisting to defend the city. Among them are teenage students who have set aside their studies to take up arms.
Inside Ukraine's reserve army: 'anxiously waiting for the enemy to arrive'
Many civilians who remain in the Ukrainian capital have signed up to become military reservists, and are busy preparing the city for an expected ground attack by Russian forces.
Sem comentários:
Enviar um comentário