Quando eu era bem mais nova gostava das casas tradicionais, perto do estilo dito português suave. Varandas, varandins, terraços, telheiros e, por dentro, as divisões numa disposição tradicional.
Por essa altura, visitei pela primeira vez uma casa de arquitectura moderna. Um amigo convidou-me para ir conhecer a sua segunda casa, uma grande casa no Estoril. Falava dessa casa como sendo a casa de praia e a casa do golf. Tinha sido desenhada por um arquitecto amigo e decorada por uma vizinha italiana com quem tinha uma amizade colorida, segundo ele uma bela mulher que apanhava banhos de sol nua, apenas com um chapéu de palha de abas bem largas.
Era uma casa que parecia ser quase toda aberta, de linhas direitas, em que tudo o que dava para o jardim era de vidro.
Quando entrei, olhei e não encontrei aqueles elementos que associava ao aconchego, ao conforto, os recantos onde se pode ter um cadeirão, um quadro por cima, um candeeiro de pé alto, uma mesinha de apoio. Ali quase não havia paredes. Também estava habituada a pinturas com belas molduras, por vezes um passe-partout, conjuntos de quadros. Ali, que me lembre, só vi um único quadro. Havia uma mesa comprida e, encostado à parede, um móvel muito comprido. Essa parede estava pintada cor de tijolo. Por cima do móvel, uma pintura moderna, abstracta, gigante, uma coisa insólita de tão gigante.
Havia um conjunto de sofás gigantes, claros, dispostos em U, virados para o grande pano de vidro que dava para o jardim. Não me lembro de lá ver almofadas que era uma coisa que me parecia, e ainda parece, essencial para que as pessoas se acolham e encostem e aninhem. Não me lembro de tapetes, não me lembro de móveis com bibelots. Lembro-me, sim, numa zona estreita de parede, junto a mais uma vidraça, um escultura de pedra.
Ele orgulhoso da sua casa e eu apenas sentindo estranheza. Não vim de lá convencida. Mais ou menos por essa altura, talvez uns dois ou três anos depois, depois de muito procurarmos descobrimos a nossa casa in heaven, uma casa que nada tem a ver com o harmonioso e tradicional estilo Raul Lino. Esta casa era uma casa acrescentada em relação a um núcleo antigo, várias vezes centenário. Toda ela atípica. E, no entanto, foi atracção imediata de todos nós, os quatro. Um desafio para a mobilar mas tão única, tão especial, que a minha mente de imediato se abriu a novas ideias.
Esta casa em que agora vivo, perto da cidade, é um misto. Mais tradicional que moderna mas, ainda assim, com espaços amplos, abertos, comunicantes. Chegámos a hesitar sobre uma outra, moderníssima, escultural, uma obra de arte. Mas também quase sem paredes, certamente também uma aventura para mobilar e decorar. Felizmente, prevaleceu esta.
Quando passeamos pelas vizinhanças, um dos meninos, o meu pimentinha mais crescido, passa-se com as casas de linhas direitas, estilo minimalista, grandes planos lisos. Diz que é assim que gostará que seja a sua casa, um dia que tenha uma casa sua. Percebo-o. Imagino-o adulto, divertido, culto, sempre com ideias e vontade de as alcançar -- e numa casa assim. Não o imagino com moveizinhos, quadrinhos, almofadinhas. Não. Há-de viver numa casa sofisticada mas isenta de rodriguinhos. Claro que pode ter que fazer concessões à sua companheira mas, se bem o conheço, com a personalidade dominante que tem, há-de convencê-la a aceitar a simplicidade despojada e elegante que ele aprecia.
Os outros meninos ainda não têm ideias definidas sobre isso, pelo menos que eu me tenha apercebido.
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Em dias complicados, e se o de hoje o foi, chego à noite à sala e só me apetece ver vídeos que não têm nada a ver, que não afloram problemas, nem ninguém fala de crises, depressões, fracassos ou antevisões negras para o futuro.
Não sou grande admiradora de Gwyneth Paltrow. Vi-a no Shakespeare in Love e gostei. -- mas não me lembro de mais. E agora deu em comerciante, por vezes de produtos e conceitos meio bizarros. Goop. As velas com cheiro a vagina e os artefactos sexuais curiosos e envoltos numa prosa meio filosófica são meros exemplos.
Mas hoje fui à boleia do algoritmo do youtube e aproveitei que ela mostrou a casa para a ver. Não acho extraordinária mas é interessante. E tem aqueles azulejos simples, bonitos, portugueses. E só por isso já acho que vale a pena partilhá-la convosco.
Inside Gwyneth Paltrow's Tranquil Family Home
| Open Door | Architectural Digest
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