terça-feira, dezembro 28, 2021

Para 2022, alguns dos meus desejos e as antevisões do Economist

 

Estamos quase lá e creio que já ninguém se aventura a fazer grandes previsões. Com sorte, entre vacinas, reforços, sprays, comprimidos e outras gracinhas, haveremos de conseguir controlar as nossas vidas. Mas enquanto a luz ao fundo do túnel não está ao alcance das nossas mãos, mais vale batermos a bolinha baixa e assumirmos a nossa insignificância perante um enxame invisível de merdinhas, pior que praga de microscópicos gafanhotos ranhosos.

Hoje fui à farmácia à hora de almoço. No balcão, entre uma miríade de produtos, vi uma lata grande onde dizia que era um desinfectante para o ar. Fiquei sem perceber se era para matar moscas, melgas ou mosquitos. Apurei a vista pois o que fazia tal coisa no balcão de uma farmácia? Pois bem. Entre várias coisas, dizia que matava vírus. Claro que não sei se, de caminho, não mata também um bocadinho das pessoas que respiram o ar assim desinfectado mas em tempo de guerra não se limpam armas e, portanto, se a prioridade é matar coronas, que se lixem as pessoas. Dum-dum para cima de toda a gente a ver se a malta se desencarde deste sebo covídico.

Isto para dizer que eu, pouco dada a visões e, ainda por cima, com um bocado de miopia e de estrabismo, ainda pior para ver ao longe. Sei lá o que vai acontecer em 2022... E não é estrabismo, é outra coisa mas agora não me estou a lembrar. 

Ah, sim, astigmatismo. Na última consulta soube que tenho também um bocado de astigmatismo. Não sei se é coisa que costume aparecer com a idade mas a mim apareceu. Felizmente nada forte de mais já que ando sempre sem óculos... e ainda não me perdi. Melhor: quando me perco não é por não ver bem mas por ter o meu gps interior mal configurado.

Portanto, não me arrisco a avançar com palpites sobre como vai ser o 2022. Gostava era de estar cá para ver como vai ser o 2222. Isso, sim. Os malucos por números vão delirar. É ano para se fazer o pleno e para toda a gente se desforrar antes que seja tarde. 

Dormir ao relento na praia, ao pé de uma fogueira. Por exemplo. Vestir-me de noiva e pregar um susto ao meu marido. Também por exemplo. Contratar o Benedict Cumberbatch para me dizer um poema ao ouvido. Também por exemplo.

Mas, se calhar, por essa altura já cá não estou, pelo menos igual ao que hoje sou. A menos que me congelem e em 2222 me ponham no microondas a descongelar. Pode ser que descongele bem e esteja em boa forma, ou seja, que não me desfaça em água. Nunca se sabe.

Portanto, se não sou capaz de fazer conjecturas sobre o que o longínquo 2222 e o próximo ano nos trazem, posso é dizer aquilo que eu gostaria que acontecesse já para o ano que aí está quase a dar as caras. E, então, sem qualquer outra ordem senão a ocasional, resultante do que me vai ocorrendo, aqui vai:

1) Semanas de trabalho de 4 dias úteis, rotativamente. Ou seja haveria escalas de dias de descanso. Trinta horas de trabalho por semana, no máximo.

2) 26 dias de férias [já muita gente tem 25, seria apenas alargar a todos e acrescentar-lhe 1]

3) Forte incentivo (seja fiscal, seja de que forma for) a que, em férias, pelo menos duas vezes por ano, num mínimo de três dias de cada vez, sejam passados em Portugal, num concelho diferente daquele em que se vive.

4) Oferta de uma viagem por ano de comboio em Portugal a todos os cidadãos portugueses

5) Para todas as profissões que o permitam, pelo menos metade dos dias úteis em teletrabalho

6) Licença parental de 1 ano, sem perda de rendimento, repartido entre pai e mãe, conforme o desejem

7) Abertura de um número significativo de creches gratuitas com horários de 24 horas (nos locais em que tal se justifique, para que os pais que trabalham em turnos tenham onde deixar os filhos em segurança)

8) Abertura de um número significativo de espaços gratuitos de ATL 

9) Abertura de residências séniores públicas, com mensalidades ajustadas aos rendimentos, e com actividades tais com fisioterapia, ginástica, aulas sobre matérias diversas, enfermagem, cabeleireiro e manicure, etc

10) Obrigatoriedade de disponibilização de várias hortas urbanas e jardins partilhados em cada localidade com apoio de agrónomos, agricultores, arquitectos paisagistas e jardineiros

11) Disponibilização de espaços para arte pública (escultura, pintura, azulejaria, artesanato, artes tradicionais, música, dança, etc) em cada localidade

12) Obrigatoriedade de um número mínimo de aulas ao ar livre em cada ano lectivo

13) Obrigatoriedade de aulas de Sustentabilidade e Defesa do Planeta desde o primeiro ao último ano de cada curso (Medicina, Engenharia, Direito, Biologia, Urbanismo, Farmácia, Teatro, etc)

14) Obrigatoriedade de aulas de Língua Portuguesa do primeiro ao último ano lectivo de todos os cursos 

15) Obrigatoriedade de aulas de Nutrição e de Exercício Físico do primeiro ao último ano lectivo de todos os cursos 

16) Reforma compulsiva do Super-Judge Alex e do seu destrambelhado Rosarinho 

17) Criação de um canal televisivo alternativo que mostre o lado bom das coisas e arrume com a TVI, a SIC, Correio da Manhã, CNN Portugal e até com a RTP quando copia os outros

18) Criação, em cada distrito, de residências de acolhimento, escolas e estruturas de apoio para imigrantes

19) Que se descubra maneira de que todos quantos carregam nuvens negras à sua volta -- e que conseguem contaminar com má sorte quem lhes está por perto -- desamparem a loja e vão existir para bem longe, quiçá enviados para o espaço naquelas naves do maluco do Musk.

       (etc. etc. etc. )

Ou seja, não previsões mas uma lista de wishful thinkings

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Mas se eu não passo de uma pomba lesa a antever o futuro, já o The Economist não. Ali bebe-se do fino. Eles falam e é bom que a gente os ouça. Convido-vos a verem o vídeo.

O que é que o futuro nos reserva para 2022?

The World Ahead 2022: five stories to watch out for | The Economist

What will be the biggest stories of 2022? As the pandemic continues to wreak havoc across the globe, President Xi will cement his power as leader of China, tech giants will coax more of us into virtual worlds and the space race reaches new heights. The Economist is back with its annual look at the top stories of the year ahead. Film supported by @TeneoCEOAdvisory

00:00 The World Ahead 2022
00:40 China revels in democracy’s failings
04:11 Hybrid working becomes the new normal
07:48 The metaverse expands
11:26 An African fashion boom
14:12 The space race picks up

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Ilustrações de Nick Knight, 'Flora', ao som de Y La Bamba em Ojos Del Sol 

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Desejo-vos um belo dia, apesar de tudo

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