segunda-feira, dezembro 06, 2021

Desta vez foi a Pfizer. No braço esquerdo. A da gripe no braço direito.
Fui à black friday das vacinas

 



No sábado madrugámos para irmos até a um espaço grande onde há vacinas à discrição e onde não era suposto haver muita gente. Fica numa das cidades perto da nossa casa de campo. Uma vez, estávamos a passar uns dias in heaven e o meu marido auto agendou-se para lá. E aquele lugar ficou-lhe associado pois agora recebeu um sms para ir levar lá a 3ª dose. 

Como na outra vez lhe correu bem, despachou-se rapidamente, resolvi ligar a saber se eu, mesmo sem marcação, poderia ir à boleia. Expliquei que levei a Janssenn. Perguntaram-me a idade. Disseram, então, que estavam com casa aberta para os que levaram Janssenn e têm mais de cinquenta. Encaixo. Então, lá fomos.

Muita gente. Muita gente de idade, muita gente com 'ar de campo'. Todos entusiasmados por estarem a levar a 3ª dose e vários como eu, que antes também tinham sido contemplados com a água pé das vacinas. Uma coisa que quase parecia a black friday das vacinas. Chega a ser quase tocante ver como toda a gente adere tão bem a uma coisa ainda tão cheia de incógnitas. Uns mais racionalmente, outros por medo, outros numa de maria vai com as outras. Não interessa. Toca a reunir e as pessoas reúnem-se.

O meu marido, como era com marcação, ficou despachado por volta das dez e eu perto do meio-dia. 

Pfizer no braço esquerdo e a da gripe no direito. Vim de lá aviada e espero que protegida.

Disseram para tomar ben-u-ron à noite e ben-u-ron de manhã. E para pôr gelo no braço. Como não sou obediente e não me parecia necessário, não tomei o ben-u-ron nem pus gelo. Mas dormi mal com o braço a doer-me bastante.

E passei o domingo cansada, com o braço dorido, com dores musculares, com frio, a sentir-me murcha. Éramos para ir ao campo e não fomos. Nem fui a casa da minha mãe. Só me apetecia estar agasalhada e sossegada. 

O meu marido, que também estava com o braço dorido, atalhou logo de manhã com o dito ben-u-ron mas eu resisti até depois de almoço. Mas depois teve que ser. 

Melhorei mas, ainda assim, não me sinto propriamente em grande forma.

Quando foi da outra, dessa coisa esperta que dá pelo nome de Janssenn e que pelos vistos não é carne nem é peixe e que só dá um bocadinho de imunidade durante menos de três meses, não me doeu braço nem corpo nem fiquei cansada. Mas tive, nesse dia, um acidente isquémico relativamente ao qual não está descartado que não tenha sido provocado pela vacina. 

Mas, pronto, o que lá vai, lá vai. E das sequelas que ficaram trato-me -- e bola para a frente. 

E, supostamente, agora, com este reforço, já estarei mais protegida. Não sei é se o estou da Ómicron mas, enfim, parece que o dito rafeiro de corona não é tão coisa ruim como os manos que o antecederam. 

Mas sabe-se lá. 

O que temos como certo em tudo isto é que temos que ser humildes e ir aceitando que estamos a atravessar um processo de aprendizagem que está em curso, no qual não há muitas certezas e em que o que há para saber á mais do que o que se sabe.

Mas há coisas que são iguais. Enquanto estava à espera, ao meu lado uma senhora falava comigo. Tenho quase a certeza que não abri a boca. Estava com máscara e com óculos escuros. Não estava a fazer-me de diva mas, como receava que chamassem, preferi estar com óculos graduados para ver melhor ao longe. E são escuros. Como estava com franja, pouco ou nada da minha cara estava à vista. E, no entanto, a senhora confiou em mim. Contou-me tudo, o que faz, onde trabalha, a Covid que teve no princípio, os sintomas, como foi de ambulância, como lhe custou cara a ambulância, o que a filha lhe disse, como as senhoras para quem trabalha reagiram. Falou constantemente. Depois da triagem e de ter preenchido o documento, fomos para outra sala. Aí fiquei ao lado de uma outra que me contou o que tinha acontecido ao carteiro de cinquenta anos que não tinha querido levar a vacina, agora o pai que já é tão velho ainda está vivo e o filho, que ainda era novo e saudável, já se foi. Eu ouvia-a e pensava, intrigada, o que se passará comigo que faz com que as pessoas comecem a conversar e a contar-me tudo e mais alguma coisa. Creio que também não abri a boca para falar com a segunda. Sabia que não haveria tempo e não quereria depois interromper uma conversa mais pessoal.

Contei ao meu marido. Ele desvalorizou. Disse: 'O tipo que estava à minha frente também falou comigo'. Fiquei admirada. Não apenas ele é de poucas palavras como parece que as pessoas adivinham pois parece que quase nunca ninguém mete conversa com ele. 

Perguntei o que o senhor lhe tinha dito. Disse-me: 'Pediu que quando chamassem Joaquim Sebastião eu o avisasse porque ele era surdo'. Perguntei: 'Só isso?' E ele: 'Sim'. Esclareci: 'Mas não tem nada a ver. Ele fez-te um pedido, a mim contam-me a vida'. Já não disse mais nada. Acho que não está muito interessado na vida dos outros nem percebe porque ma contam.

A mim o que me intrigou mais foi eu estar de cara praticamente toda tapada. E, mesmo assim, foi o que foi. 

Tenho a certeza que, se eu tivesse feito algumas observações ou perguntas, a conversa resvalaria para o patamar das confidências.

É certo que tenho uma curiosidade infinita e provavelmente isso manifesta-se através da atenção que presto. E sinto também uma profunda simpatia pelas pessoas que, de forma tão espontânea, me dão a conhecer os seus problemas ou as suas vivências. Penso sempre que, se não andasse sempre com o tempo contado, faria verdadeiras entrevistas às pessoas, deixá-las-ia falar de si, dos seus, dos seus assuntos. Mas eu pensava que a confiança que as pessoas depositavam em mim vinha da atenção que me percebiam, do meu olhar, das minhas expressões. Agora com a cara tapada...

Mas não interessa. As coisas são como são, nós podemos é não as compreender. E isso é um problema nosso, não das coisas.

[Na volta isto de me estar a dar para filosofar é outro dos efeitos secundários da vacina... não...?]


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E agora, antes de me despedir, partilho mais um daqueles vídeos bonitos da Green Renaissance..

What Makes You Happy

Most of us have been taught to believe that happiness is linked to our accomplishments. We think that we’ll be happy when we get married, or we’ll be satisfied when we get a promotion at work. We are convinced that we’ll find joy when we finally buy that luxury car.

But happiness is better linked to contentment. It’s about being content with what we have - not hunting for anything more than what we need. The abundance of the present is enough to lead a happy and healthy life.

Of course, this doesn’t mean that we should settle for things as they are. We should continue to dream, set goals, and work towards them. We just need to remember to enjoy the journey and not rush to make it happen.

Being grateful for everything we do have instead of spending most of our time thinking about what we don’t have, makes life a lot more beautiful. So take that first step toward happiness. 

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Pinturas de Evelyn Malgil na companhia de Carminho e Chico Buarque com Falando de Amor 

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Tudo de bom para todos quantos por aqui me acompanham.

2 comentários:

Anónimo disse...

"onde há vacinas à discrição"
Plúvio

Um Jeito Manso disse...

Olá Plúvio,

Bolas... caneco... como foi possível...? Tem razão, tem razão, penitencio-me...

Já emendei.

Daqui da Bracalândia e no meio do maior foguetório vai o meu agradecimento, Mestre.

[E saiba, Mestre, que estou curiosa: será que essa tal Bracalandia é tão colorida e animada quanto aqui os meus aposentos...? Será...]