Durante muito tempo o meu marido viu o programa. Eu nunca vi. Nem prestava atenção nem, sequer, sabia ao certo de que se tratava. É como ele ver futebol. Se me perguntarem que equipas estão a jogar ou qual o resultado não tenho nem ideia.
A minha mãe também via e também gostava. Ela dizia que gostava, ele dizia que gostava. E eu nem sabia bem de que estavam a falar.
Tinha a ideia que era daqueles programas americanos em que filmam uns a irem a casa de outros ou para lhes arrumarem a casa ou para os ensinarem a vestir-se. Nada que me interesse, portanto.
Mas agora, ao procurar vídeos que ensinem a lidar com situações específicas de cães, dei com ele. E tem sido uma agarração. Gosto de ver. Acho incrível a forma como, em três tempos, ele lida com cães, como os interpreta e acalma e controla. Com um gesto, com uma palavra, com a atitude.
Lembro-me sempre de uma vez em que estávamos na bela praia do Castelejo. Nós, uns primos e respectivos filhos. Por ali praticava-se muito nudismo. Nós duas, as mulheres, estávamos apenas em topless. Tenho ideia que a menina adolescente e a menina-menina estavam de biquini. Os homens e os rapazes estavam como sempre, ou seja, com os seus calções. Lembro-me também de uma beldade, louríssima, alta, escultural, completamente nua e com um fio dourado em volta da cintura. Passeava um grande cão. Não sei de que raça. A esta distância diria que um braco alemão. Passeavam, entravam na água, saltavam sobre as ondas. Os homens olhavam e sorriam com a graciosidade da louríssima e nós duas, não tão esculturais, não tão despidas, apreciávamos a cena, sabendo que há situações em que nem vale a pena tentar competir.
Nisto, vindos de longe, aproximaram-se dois grandes pastores alemães. Vinham a ladrar, a ladrar a bom ladrar, ar feroz, a grande velocidade. Fiquei transida, adivinhando tragédia. Pensei logo nos meus filhos. Não sei se os cães vinham prontos para devorar o cão da sílfide, se a própria sílfide, se era pelos miúdos que por ali andavam a jogar à bola e a brincar. O que sei é que o meu primo -- um homem barbudo, possante, algum peso a mais mas bastante ágil -- se levantou, se virou aos cães, soltou um berro. Os cães estacaram, estupefactos, certamente não menos do que eu e que nós todos, deram meia volta e desataram a correr em sentido oposto. Já não ladravam. Iam em silêncio. Fugiam a bom fugir, como se estarrecidos de medo. O meu primo, a correr atrás deles, a gritar-lhes, e eles, a mil à hora, a porem-se a milhas.
Nunca me hei-de esquecer desse momento incrível.
Cesar Millan não precisaria de fazer isso. Provavelmente ficaria imóvel, faria 'Schhhh', mostrar-lhes-ia o dedo espetado -- e os cães estacariam, tranquilos.
Os vídeos abaixo não mostram essas inacreditáveis conversões de cães ferozes em cães bem comportados que não me canso de ver. Aqui, Cesar conversa como se conversasse com o seu cão e, enquanto fala, vê-se a profunda ligação que os une. Ou presta-lhe um sentido tributo, poucos dias depois da sua morte. Ou fala de um outro, um cão espiritual, com quem teve longa e profunda ligação.
O amor profundo que revela pelos animais é tocante. Gosta-se de um cão como se gosta de uma pessoa, disso não tenho qualquer dúvida. Quem me lê e tem ou teve um cão compreende isso. Talvez quem nunca tenha tido a extraordinária experiência de ter um cão não perceba, talvez pense que é exagero, talvez pense que se projecta no animal sentimentos que não se sentem por pessoas. Mas não é isso, não é uma sublimação. É afecto verdadeiro, retribuído, vivido em permanência. É um vínculo intenso que se estabelece.
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Sobre o pequeno urso peludo a ver se falo amanhã. Claro que ainda vive connosco. O meu menino mais novo até se queixa que parece que agora só prestamos atenção à pequena fera.
É terrível, ele, o animal cabeludo. Faz coisas que nos deixam doidos. Do que tenho aprendido com o Cesar, não são os cães que são doidos, são os donos que não sabem lidar com eles. Se calhar estávamos mal habituados com a nossa dócil cãzinha. Este não tem nada a ver. Nada, nada, nada. Este faz disparates que ela nunca na vida fez. Por vezes quer virar-se a nós, mostra os dentes e rosna, ameaçando morder. Outras vezes, no maior descaramento, salta para cima dos sofás e recusa-se a sair de lá, ou arrasta tapetes mesmo que pesados e grandes, ou rouba meias e sapatos, ou aparece com um pequeno prato decorativo na boca... enfim... faz de tudo um pouco. É teimoso como um burro, é forte como um touro, é escapista como Houdini, é incivilizado como um selvagem. Mas é também meigo e fofo como um peluche, inteligente como uma pessoa, brincalhão como uma criança.
Não falo hoje com mais detalhe pois não tenho fotografias desta semana (e, nestas tenras idades, uma semana faz diferença), apenas vídeos que faço com o telemóvel e que não dão para colocar aqui, e acho que, ao falar dele, teria mais piada mostrar como está agora. Por isso, a ver se o fotografo e se falo dele. Me aguardem.
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Desejo-vos um belo sábado
Saúde. Ânimo. Boa disposição.
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