A data deixa-me indiferente. A ter que dizer alguma coisa, direi que é razoável. Mas o tema não é a data. O tema é o absurdo disto tudo.
Marcelo, que gosta de ser ele a estar no centro da agenda mediática, em vez de ser sensato e esperar que o PCP e o BE caíssem neles e constatassem que nunca tinham tido orçamento tão favorável, não senhor, resolveu chamar o protagonismo a si e, precipitadamente, informou que, se o Orçamento fosse chumbado, liquefaria a Assembleia e convocaria eleições.
Com os nervos à flor da pele -- e com medo de desagradar aos membros mais fundamentalistas dos respectivos partidos -- e marimbando-se para o 'povo', o orçamento chumbou mesmo.
Para espanto e incompreensão de toda a gente, o Bloco e o PCP apareceram de braço dado com o PSD, o CDS, a IL e... quem poderia imaginar?... até com o Chega. A esquerda e a direita do PS unidas para fazerem o País perder tempo e andar para trás numa altura crítica em que o sentido de Estado aconselharia a unir esforços num sentido construtivo e não destrutivo. Uma vergonha de que os portugueses não se esquecerão.
Aí chegados, o Marcelo, enfiado na saia justa que ele mesmo costurou, não teve outro remédio senão passar das palavras aos actos.
Confrontados com a consequência dos seus actos, o Bloco e o PCP, na maior imbecilidade, vieram, então, dizer que não queriam que isto acontecesse, queriam esticar a corda mas nunca, jamais, em tempo algum, provocar a liquefacção do parlamento. Tarde demais. Pela segunda vez, a espúria aliança já tinha sido consumada. Uma vez mais, o Bloco e o PCP trairam os seus eleitores. Logicamente, o mais normal é que, nas eleições, sejam dissolvidos de vez.
No meio disto, Marcelo apareceu hoje ao País com ar esvaído, quase a fazer beicinho, aspecto de quem se sente acossado (quando foi ele próprio que se meteu nesta ratoeira), esforçando-se por justificar o que aconteceu. No fim da alocução, saiu de fininho, curvado, enfiado, rabo entre as pernas. Longe vão os áureos tempos em que corria para observar o acidente do eléctrico na Baixa, para acudir na queda da avioneta ou para andar a distribuir beijinhos e selfies pelas feiras, pelas ruas, de casa em casa, e em que, arrebatadamente, não resistia a ligar em directo para o programa da Cristina Ferreira. Longe, muito longe, vão esses tempos.
E a gente percebe que ele percebe que corre sérios riscos de ficar para a história como o presidente que dissolveu não apenas a Assembleia da República mas também os partidos à esquerda e à direita do PS. Dissolvidos, feitos em água, reduzidos a pó. E a ver se, no processo, não se dissolve a ele próprio.
Está bonito isto, está, está.
E, já agora, a propósito de se sentarem do mesmo lado da mesa para ficarem todos no retrato, aqui fica a Última Ceia by Mel Brooks
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Inté
3 comentários:
Sem dúvidas: Excelentes observações.
A.Vieira
Desculpe, e eu dou mérito ao Costa pela habilidade competente, mas o Costa não quis ceder onde podia, porque a situação lhe convinha. O PCP baixou muito as exigências nas negociações, enquanto o PS simplesmente não deu o braço a torcer, e estamos a falar de coisas tão básicas, essenciais e até de exigência constitucional como a questão da caducidade das CCT. Vou votar Costa, porque entre um político competente e hábil e politicos agarrados à teimosia como os outros de esquerda, Costa é melhor, já para nem falar de uma direita que, se sempre foi basicamente interesseira, agora caiu nas profundezas da idiotice. Mas sentido de estado? Se cabia a alguém era ao PM, mas o jogo político deu para outro lado. Tristemente, embora sem grande desilusão, aceito e pactuo.
Muito bom.
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