terça-feira, julho 20, 2021

Portas sucede a Marcelo?
[Vichyssoise strikes back...?]

 



Hoje, ao ver Marcelo a opinar e a contra-opinar, pensei que, na volta, o próximo presidente vai ser Paulo Portas. Depois do percurso jornalístico e político, está a fazer o seu caminho na televisão que, em política, é o caminho mais directo para as cadeiras do poder. Fala bem, sabe falar claro, tem presença, gosta de ser amado. A minha avó acrescentaria: e é um homem bem posto. E isso, parecendo que não, num cargo como o de Presidente da República, também conta (pelo menos junto de parte não despicienda da população).

O meu marido disse que sim, talvez, até porque, depois de Marcelo, já ninguém vai querer voltar a querer um Cavaco. Talvez aceitem alguém menos ubíquo do que Marcelo, menos carente de afecto e de reconhecimento, mas quererão alguém que saiba mostrar algum espírito didáctico, que não os envergonhe em público comendo de boca cheia ou exibindo um perpétuo ressentimento.

Paulo Portas não faz propriamente o meu género. É manipulador, é conservador, frequentemente vê as coisas por um prisma liberal que, em meu entender, poderia ser aceitável num mundo ideal mas que, comprovadamente, não resulta no mundo real. E gosta mais dele próprio do que do país. Mas a sua preocupação em ficar bem visto e sem manchas de maior na História talvez o leve a corrigir exageros e a tentar ser justo e equilibrado. E é culto. E há-de ter herdado genes contraditórios que o levem a ser tolerante e inclusivo.

Provavelmente vai competir com Louçã, a eminência parda, o cardeal que aconselha as princesas. Também não faz o meu género. Também é manipulador, também é conservador, também gosta demais das suas próprias ideias. E gosta de andar pelos corredores a soprar recados e estratégias num registo que me causa até uma certa repulsa.

Apesar de Portas alinhar à direita e Louçã hipoteticamente à esquerda, apesar de tudo o que se conhece a Portas, entre Portas e Louçã prefiro Portas. 

Nenhum dele personifica o presidente que eu desejaria. 

No PS não estou a ver ninguém que se atravesse para presidente. Se forem convencer um Vitorino, por exemplo, também não me sentirei convencida. É um artista das palavras, um tacticista. Não sei se ainda anda por aí a dar o nome em conselhos de administrações ou sei lá por onde é que ele já andou, supostamente respaldado na sua lista de contactos, a aconselhar este e aquele, a abrir portas a este ou a aquele. Não faz o meu género. Aliás, é daquelas picaretas falantes a quem nunca vi obra feita. Posso estar enganada, claro, mas não faz nadíssima o meu género.

Era bom que aparecesse uma mulher que os metesse a todos num chinelo mas não estou a ver nenhuma que me pareça convincente, mobilizadora. A política portuguesa está fraca em mulheres e isso é uma pena.

Hoje ao ver o Marcelo, igual a ele próprio, pensei: iniciou a trajectória descendente. Perdeu a graça. Esgotou-se. Não tarda vão começar a perfilar-se os candidatos.

E, agora que estou a escrever isto, penso que é urgente que se estabeleçam quotas para mulheres em tudo o que sejam lugares de poder: na política, na gestão, nas instituições sociais ou culturais. Durante anos fui contra as quotas. Acreditava que o caminho se faria caminhando, sem os artificialismos das quotas. Já vi que não. Os órgãos de poder estão, na maioria, blindados: as mulheres muito dificilmente lá entram. Só com pé de cabra se conseguirá abrir a porta. As quotas são o pé de cabra necessário. 

Mas não chega: toda a sociedade tem que se organizar de forma mais paritária para que as mulheres que o queiram possam ter a mesma amplitude de movimentos que os homens. E tem que se esbater um mito que tem envenenado isto tudo: o exercício do poder não tem que se uma actividade de 24 horas x 7 dias por semana. Tem que haver a compreensão de que, seja para homem ou mulher, tem que haver espaço na sua vida para a actividade profissional e para a actividade pessoal --- para a família, para o próprio, para o seu lazer. É esta mania que uma pessoa, ao estar num lugar de poder, tem que dar tudo, tem que se entregar em absoluto, que inibe muitas mulheres de tentarem aí chegar receando que isso signifique terem que abdicar de ter uma vida pessoal realizada, de serem boas mães, de terem tempo para si próprias. Este mito tem que ser combatido por palavras e actos, aprendendo todos a gerir melhor a dedicação necessária ao bom desempenho de um cargo.

Gostava de ter no meu país uma mulher presidente mas, infelizmente, a esta distância não estou a ver nenhuma. Por isso, parece-me muito provável que, até para manter viva a memória da célebre vichyssoise virtual, Portas suceda a Marcelo.

Um aparte: ao ouvirmos, nas sondagens, que o Comandante Gouveia e Melo está com um percentagem de apreço superior ao Marcelo, o meu marido disse: está tramado, o Marcelo não lhe vai perdoar isso. Rimo-nos mas, no fundo, vamos esperar para ver.

A autoconfiança é uma virtude. Mas,  na escala da autoconfiança, tal como em tudo, há uma linha vermelha. Quem tem um ego que se alimenta de si próprio, por esse ser um processo autofágico, pode acabar reduzido a nada.

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Obviamente este post é um mero e insignificante exercício de futurologia presidencial. Coisas da silly season, claro.

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Fotografias de David Luraschi na companhia de Adi Mehic no piano e 
Steffi Vertriest na voz interpretando Once Upon A Time In The West de Ennio Morricone
[Disclaimer: Nada tem a ver com nada, como é bom de ver]

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Desejo-vos um dia feliz

3 comentários:

Anónimo disse...

Mulher presidente? Oxalá venha uma mulher primeira ministra! Mas também não estou a ver. Os homens não dão tudo e têm tempo para tudo. E meta tudo em tudo. É só ares. É só ares que se dão. E é aqui que está o problema.

Anónimo disse...

Portas Presidente??!!

Figas, canhoto!

(Ujm, já me estragou o dia com este palpite!)

Fernando Ribeiro disse...

O Paulo Portas na presidência?!!! Havia de ser bonito! O diabo seja surdo, cego, mudo e manquinho! Mal por mal, antes o Marques Mendes...