sexta-feira, julho 23, 2021

Efeitos colaterais da vacina

[Post com bolona encarnada no canto]

 

Há quem se queixe de dor no braço ou de dor de cabeça. Conheço um que passou a noite a tiritar, tapado até ao cocuruto, febril. Outra diz que a mãe passou a semana seguinte sem se poder mexer, um cansaço paralisante.

A mim, que eu desse por isso, nada. Nem dor no braço, nem na cabeça, nem febre nem nada. Se houve alguma coisa, foi na base do mistério -- yes, doc, bem sei, a ser coisa séria como a travadinha que me deu, seria dias depois e não logo a seguir -- e até pode ser que mistérios aconteçam todos os dias, a gente é que não os apanhe em tempo real. 

Mas isto para dizer que a gente, quando pensa em efeitos secundários, só pensa em coisa má. Mas, de facto, ser só coisa má é que é improvável. Na volta dá também coisa boa, a malta é que só põe a boca no trombone quando é para se queixar porque, se a coisa for boa, fica caladinha não vá alguém deitar mau olhado e a coisa boa levar sumiço.

E até há tratamentos que nascem assim, de efeitos secundários que, sem mais nem ontem, por mero acaso, vão curar o que menos se esperava. 

A título de exemplo, transcrevo:

O químico inglês Simon Campbell trabalhava em um medicamento para dilatar as artérias do coração e aliviar a dor no peito da angina. Os efeitos, porém, estavam aquém do desejado. Só que nos testes clínicos os pesquisadores começaram a ouvir relatos de voluntários que sofriam uma estranha (e bem-vinda) reação adversa: o citrato de sildenafila melhorava a ereção. Em 1998, a Pfizer lançava o Viagra. 

Eu, por exemplo, não me ralava nada se o antiagregante plaquetário que agora ando a tomar me retirasse toda e qualquer ruga ou me fizesse ser capaz de dançar em pontas ou rodopiar no ar. 

Ah, agora que falo nisso, estou a lembrar-me que, no outro dia, a minha filha, olhando-me a pele, disse que ando com a pele diferente, melhor. Nesse dia, atribuí isso a um brilhozinho que tinha passado mas ela disse que achava que não era isso. 

Na altura, não me ocorreu mas, na volta, é da vacina.

Um dia destes ainda me dá para tocar piano. Sem se perceber como, ainda sou capaz de surpreender muito boa gente. As mãos voando no teclado, eu Clair de Lune, espantando todo o mundo. Mas como? -- interrogar-se-ão. Se nunca conseguiu, como é que agora, do nada, lhe saem das mãos sonatas, prelúdios, cantatas, sinfonias, tudo o que há de bom?

E eu, feita sonsa: É que levei da boa, como diz o Vice-Almirante; e, vejam só, até pianista me tornei. Caladinha, sem revelar que era efeito colateral da Janssen. 

Já para não falar do grego. Quando me aparecesse um e outro a darem-me lições, a dizerem que não posso perceber nada de nada se não li a Odisseia no original, saia-me com um trecho completo. Οδύσσεια de cabo a raso. Grego do bom, do antigo. 

Ler e escrever. Toda a gente boquiaberta. Mas o que é que lhe aconteceu? Agora até para o grego lhe dá.

E eu, toda prosa:

Έχω ένα καλό σουτ. Τώρα παίζω ακόμη και πιάνο, μιλώ ελληνικά και χορεύω σε γωνίες Και όλα αυτά λόγω του εμβολίου Janssen. Γιούπι! Και ότι οι ελίτ περιφέρονται, οι ηλίθιοι που πιστεύουν ότι είναι οι καλύτεροι. Μπόρα, αλλά όλα είναι καλά αφαιρέστε!

Mas a grande, a mediática divulgação seria no programa do Goucha. Ele a apelar ao sentimento, a escavar fundo nos meus sentimentos, eu já toda à flor da pele, até que, finalmente, indefesa e de olhos lacrimejantes, revelaria toda a verdade. A partir daí, o Vice-Almirante até teria que pôr polícia à porta da casa aberta, toda a gente a querer levar 'da boa' para ver se eram bafejados por iguais prodígios. 

Mas isto é como tudo: a uns sim, a outros não. A vida é assim, o sol quando nasce não é para todos. Temos pena.

É que esta coisa do corona e da vacina anti-corona, quem os fabricou, fê-lo com criatividade, coisa customizada: a cada um seu efeito. Uns a saírem de lá na mesma, monotonamente iguais a quando entraram, quanto muito a queixarem-se do braço, enquanto outros uns a dançarem sapateado, outros a dizerem missas em latim, outros, novos e velhas, a fazerem flic-flacs encarpados com aterragem em espargata ou, até, transformados em estrepitosos helicópteros. 

O próprio do Goucha haveria de lá convidar a sua candidata Garcia para, à desforra, emborcarem bombons recheadinhos da boa. A ver se a malta continuava a criticá-los... É o criticas. O efeito haveria de estar à vista. A ver é se não era o mesmo que é reportado aqui abaixo (no pun intended)

Efeito secundário dos valentes, este aqui abaixo, do Betinho. Pôxa vida, efeito deste deveria vir escrito em letra gorda, não vá dar em todo o mundo. Mas, pronto, parece que dá em quem tomou a AstraZeneca e dessa eu não tomei, não posso testemunhar.

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E que entre ele e o Marcinho, ambos da Porta dos Fundos

[Às vezes um efeito indesejado não é tão indesejado assim, talvez seja realmente algo que você secretamente desejou, algo que você reprimiu. O efeito colateral passa a ser esperado, o adverso vira super agradável. E todo mundo sai feliz!

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Desejo uma very happy friday e uma vida longa e feliz a todos os que forem uns afortunados contemplados
Saúde. 
Tchim-tchim!

3 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Hahaha, que máximo!!!
Domingo vou levar la prima dose da vá-cina.

Très joyeaux vendredi!

Anónimo disse...

Ahahahahaha!!
A foto (gif's) do Goucha está de morte!
Não sei se me aguento!
Parabéns pelas fotos fantásticas!

Estevão disse...

Agora falando sério (como na canção do Chico), quando li a notícia abaixo, lembrei-me da UJM.
Pena que a tenham agora bloqueado, a notícia, para angariar assinantes … o que, diga-se, até pode provocar um efeito bem pior que o descrito na notícia.

https://www.publico.pt/2021/07/09/ciencia/noticia/vacinas-moderna-pfizer-relacionadas-risco-raro-inflamacao-cardiaca-1969826?fbclid=IwAR1btSUGk6lJJwD0rqMISJBrxDE8jQKejGt0AlPhXnlyuALJ7trxSdgkQ94