Ontem não contei mas o dia teve os seus quês. Para começar, eu estava esperançosa de pôr o sono em dia. Estávamos à espera de umas pessoas às oito da manhã para fazer uns arranjos no jardim. O meu marido madrugou para cumprir o seu desporto matinal e estar de volta antes disso. Quando sai deixa o alarme parcialmente ligado. Ao regressar, esqueceu-se e o alarme disparou. Acordei sobressaltada. Quando estava a ver se voltava a adormecer, tocou-me o telemóvel. Levantei-me para ver quem era, tão cedo. Era ele. Estava com o telemóvel no bolso e o telemóvel, com vontade própria, ligou-me. Portanto, desisti de tentar dormir mais. Os homens chegaram muito mais tarde. Depois não tinham as ferramentas necessárias. O meu marido disse-me que, sem aquilo ou eles se iam embora ou iam às compras e nunca mais apareciam. Fomos nós. Depois saíram para almoço antes do meio dia e pouco tinham feito. Regressaram quase às duas. Às três e tal foram-se embora, deixando metade por fazer e tudo desarrumado. Eu furiosa. Ele a dizer que ou nos sujeitamos a estes artistas ou desistimos dos arranjos pois melhor que isto já vimos que não arranjamos.
Ele apanhou algumas coisas mais pesadas para o jardim ficar transitável para os miúdos.
Por volta das cinco, estava chateado e farto e disse: vamos para a praia. Eu ainda disse: não haverá ainda muita gente? Na minha, apenas deveríamos ir lá para as seis. Mas ele estava cansado e com calor e disse que não, que era boa hora, que estava no ir.
Quando chegámos perto, deveríamos ter tido o discernimento de perceber que havia carros a mais e já confusão para sair. Mas, distraída como sou e ele deserto que estava de estar na praia, não valorizámos a questão. Tenho ideia de ter pensado que com a confusão que já estava a sair, a praia capaz de já não estar tão cheia.
Contudo, ao caminharmos, de longe via-se uma compacta mole humana. Como no outro dia, reparámos nos grupos multi-agregado, na falta de cuidado. Mas tínhamos levado a toalha larga e pude deitar-me, estar tranquilamente a sentir o sol e a ouvir o mar -- e não pensar na covid.
Por volta das seis e meia pensámos que íamos andando. Metemo-nos no carro às vinte para as sete.
Pois bem: chegámos a casa mais de três horas depois. Um caos. Um mar de carros.
Em casa tinha estado a beber um chá frio. Por volta das oito e tal comecei a pensar que já fazia chichi. Tentei dormir para não pensar no assunto. Às nove já estava que não podia. O meu marido dizia: sai e faz. Claro que não era possível. Ainda era dia, carros por todo o lado, impossível.
Quando o meu filho ligou, eu já mal conseguia falar. O meu filho dizia: sai e faz. E eu expliquei que não havia onde, que eram só carros. O meu filho disse: ou isso ou arranjares uma infecção urinária. Mas eu já mal o ouvia, estava verdadeiramente transtornada, aflita até ao quinto dos infernos.
Quando, finalmente, aquilo começou a andar eu já não tinha posição, a bexiga quase a rebentar. Pedi que mal saíssemos dali e encontrasse um lugar decente, parasse. Assim fez: talvez às nove e meia, já tinha anoitecido, encostou o carro na berma numa zona de árvores e, logo ali, diluviei. Foi um alívio e um bem estar imediato. Caraças.
Já em casa. entre tomarmos banho, preparamos as coisas e sei lá mais o quê, jantámos perto das onze da noite. Por isso, ontem estava aqui a escrever e quase a dormir.
Este domingo, mal me levantei, fui para a cozinha e fiz sopa de tomate e corvina. Já expliquei como faço, não expliquei?
Enquanto aquilo se cozinhava, tomei banho, tomei o pequeno almoço, depois concluí-a. A seguir fomos fazer a nossa caminhada e depois fomos buscar a minha mãe.
Almoçámos lá fora. Estamos os três vacinados mas já se sabe que as vacinas não previnem o contágio, previnem apenas a gravidade (o que é o mais importante). Por isso, como temos que tirar as máscaras para manducar, manducamos ao ar livre.
Depois chegou a trupe do meu filho. O mais novo foi buscar uma vassoura, pediu para eu ir buscar uma pá para mim e varria e eu apanhava.
Passado um bocado chegou a trupe da minha filha. As crianças vestiram os fatos de banho e puseram o escorrega de água na descida do relvado e foi aquela brincadeira de dar gosto. Fiz vídeos e fotografei-os.
Depois o meu filho com o apoio do sobrinho mais novo e sob acompanhamento do filho mais pequeno, grelhou salsichas. Entretanto, a minha nora preparava o pão bao no forno, cozinhando-o em vapor.
Tivemos, então, a primeira leva de lanche com cachorros em pão bao, com molhos a gosto.
Creio que foi, a seguir, que a tia maquilhou e penteou a sobrinha, a sobrinha pintou as unhas a tia, acho que a minha filha pintou as unhas à avó.
Os rapazes estiveram a ver vídeos de futebol ou a jogar futebol, nem sei.
Ele grelhou os hambúrgueres de vaca enquanto se aquecia o pão de batata doce. Depois da carne grelhada, fizemos os hambúrgueres com o bacon, a cebola e uma fatia de queijo cheddar. Deliciosos.
O meu filho grelhou ainda asas de frango mas o pessoal já estava tão cheio que sobraram muitas asinhas.
Depois nova interrupção. Momento de rugby e de vólei.
Já muito ao fim da tarde, com o bolo de cenoura e chocolate que a minha trouxe, cantámos os parabéns a você e comemos o clafoutis de maçã e os crepes com doce de ovos e chocolate que a minha mãe também trouxe.
Isto ao som de música. E ainda dancei com o meu namorado que até me pareceu que dança melhor do que quando era mais novo. Tenho que tirar isso a limpo.
Daqui por poucos dias teremos a terceira festa de anos desta leva e já disse que vai incluir bailarico.
À saída um dos meninos quis escolher a música, boa, de autor que eu desconhecia. Veio perguntar-me se eu tinha gostado. Gostei pois.
No outro dia, a minha filha e os seus filhos ofereceram-me um vídeo que me deixou emocionada. O mais velho ao ver-me emocionada, virou-se para a mãe: missão cumprida, pusemos a Tá a chorar.
A minha filha mandou o vídeo também à minha mãe que, quando o viu, se fartou de chorar. Disse que não esperava ver ali fotografias do meu pai. Eu também não e gostei de vê-lo ali. Há uma continuidade em tudo isto.
Por volta das nove e tal fomos levar a minha mãe a casa. Provavelmente vai ser como nos outros dias: vai daqui com uma pancada de sono, que cai a dormir que nem uma pedra. Também eu.
E não, não estou de férias. Ainda me falta um bom bocado. Disse que me sinto de férias pois o bom tempo, os dias grandes e uma certa vontade de arranjar tempo para espairecer fazem-me quase sentir que estou numa de férias. Mas, hélas, esta segunda-feira o dever voltará a chamar por mim. Mas vou tentar não acabar depois das seis para ainda aproveitar aquele bocadinho até à hora de jantar. Não sei se nos apetecerá arriscar a praia depois da tortura do outro dia mas, mesmo que seja apenas para ficarmos em casa sem fazer nada, já será bom. Pequenos momentos de férias. Mesmo que sejam momentos de uma ou duas horas.
E é isto. Mais um dia feliz, entre os que me são tão queridos. O tempo vai passando, as crianças crescendo, as estações do ano indo e vindo, as flores nascendo, as folhas caindo, as árvores crescendo, os pássaros felizes da vida, cantando. É assim mesmo, um devir cujo sentido talvez não seja muito óbvio. Mas a vida é mesmo assim, feita de mistérios e coisas mal explicadas. E mais vale a gente rir do que chorar (a menos que seja chorar a rir).
E eu, com vossa licença, vou ver se vou para o meu quarto pois isto, dormir sentada e a escrever, não é lá muito confortável. Estou completamente knocked out. Portanto, je m'en vais.
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Pinturas de Fernando Botero ao som de What a wonderful world por Louis Armstrong
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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira
1 comentário:
Uma bela aguarela by UJM, com churrasquinho e tudo.
Três horas numa bicha de carros, depois da praia??? Que medo! Ainda bem que para aqui não há dessas coisas, aliás se houvesse não me apanhavam nelas.
Uma semana abençoada!
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