quarta-feira, junho 30, 2021

Solitude. The Loneliness of Grief. A Quiet Connection

 


A fotografia de pessoas, quando o fotografado sabe que está a ser fotografado, não é fácil. Se se quer a naturalidade, pode ser difícil o fotografado despir-se da teatralidade encenada que tende a surgir quando se tem pela frente a câmara tal como pode difícil, ao fotógrafo, persistir o tempo suficiente até que o instante se desenhe, perfeito, quase autêntico. Se, pelo contrário, não se quer a naturalidade tem que se ter a inteligência e o bom gosto de obter o ângulo menos óbvio ou a estética depurada que permita chegar à essência da pessoa fotografada.

Não sou fotógrafa, sou uma mera diletante acidental. Mas, desde muito cedo, comecei a fotografar. Penso que é, na minha cabeça, uma forma de tentar captar o momento, registando os vestígios do tempo que passa. Como em tudo em que sou amadora, não gosto de me preparar ou de usar o tempo a disfarçar a artificialidade, prefiro a naturalidade ou a imperfeição que não é ensaiada. Ou seja, não gosto mesmo de fazer retratos preparados, prefiro a espontaneidade. Mas, como geralmente me acontece, admiro o que me é oposto. Neste caso, gosto de ver o retrato estudado.

Do auto-retrato nem falo. Não consigo fotografar-me. Quanto muito, fotografo a minha sombra. Gostava de ser conhecida por não mais do que as a shadow, aquela que é conhecida pelo rasto que deixa e não pelo que é. Um rasto esquivo, efémero, quase inexistente. 

Mas, também aqui, admiro as pessoas que fazem do seu rosto o seu projecto estético. Jorge Molder é um caso muito próximo. Fotógrafos que se auto-retratam têm a tarefa mais difícil de todas: desvendam-se, investigam-se, desafiam-se, revelam-se. Ou não: ou ocultam-se, mascaram-se, disfarçam-se. Seja como for, a sua persistência, minúcia e despojamento são, de modo geral, fantásticos. 

Forough Yavari é australiana, tem um rosto que é uma página em branco sobre a qual ela própria pode escrever mil histórias -- e tem recebido diversos prémios pelo seu trabalho. 

A fotografia lá mesmo em cima, Solitude, a todos os títulos uma extraordinária fotografia, foi a vencedora absoluta do 2021 International Portrait Photographer of the Year. Os muitos rostos da solidão. Uma mulher sozinha, cercada pelas suas personas. Todas e nenhuma. A solidão sem remissão.

E foi também para ela o segundo prémio da categoria portrait story com a igualmente fantástica fotografia The Loneliness of Grief. A solidão do luto. A tristeza a céu aberto. A lamúria a cercar uma mulher que vive para além da morte que testemunhou. 


Já o terceiro lugar da categoria family sitting foi para Nancy Flammea e é a encenação de uma pintura viva: A Quiet Connection, fotografia que eu gostava que alguém tivesse feito comigo e com os meus filhos ou que eu gostaria de fazer com a minha filha ou com a minha nora e os respectivos filhos. A intimidade e o amor incondicional entre mãe e filho aparece aqui amorosamente retratada.




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Mulheres fotógrafas. Mulheres fotografadas. 
O eterno mistério, a total intimidade.
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Junho está a chegar o fim. Meio ano dobrado. Que a metade que se segue seja melhor do que a anterior.
Mas vamos com calma: um dia de cada vez. 
Desejo-vos um dia feliz. 

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