terça-feira, junho 15, 2021

Estou parva com isto.
Pena não me ficar em caminho... senão estava lá caída...

[E, de passagem, o que me tem vindo a acontecer desde que tomei a vacina]

 

Gosto imenso que me mexam na cabeça: pentear, massajar, lavar -- qualquer coisa é boa.

Penso que já contei que a melhor experiência foi com um negão, gigante, salvo erro na 7th Avenue. A cadeira dava massagens no corpo, desde o início da coluna até ao finzinho, e as mãos dele, no couro cabeludo, eram de nos levar aos céus. Agarrava-me a cabeça com as suas mãos e era como se eu estivesse à sua mercê: da minha cabeça ele poderia fazer uma jarra, um prato, um vaso, o que ele quisesse. Parecia moldar o que tinha entre mãos. Quando ele perguntava se já sentia o cabelo limpo, tinha sempre vontade de dizer que qual quê, sujo até dizer chega, que continuasse, que continuasse.

Nesse, a especialidade era mesmo a lavagem. Dali não passava. Uma pena.

Houve também uma rapariga mas essa perto de casa: nela a especialidade era o corte. Era uma aventureira. Grande parte das clientes queriam penteados convencionais. Aí ela certinha, fazia brushing normal e, se lhe pedissem, até punha rolos. Quando chegava a minha vez, eu não queria nada, ela que fizesse o que quisesse. Desforrava-se: cortava como se não houvesse amanhã. 

Foi a altura em que eu usava o cabelo como o da Jean Seberg ou quase como punk, o cabelo tão curto que, forte e farto como é, espetava. E ela punha uma espuma que o retesava e o deixava ainda mais espetado. Ela andava à minha volta de tesoura e faca de aparar e eu nem aí para o resultado. Gostava de ver aquele exercício dela e gostava de sentir as mãos dela entre os meus cabelos, a espetarem-no. 

Houve uma altura em que evoluí para o bob. E aí era esticado, liso. Nessa altura eu usava uns óculos de tipo aviador mas em espelhado azul. Não sei porquê mas eu achava que aquele meu cabelo casava bem com aqueles óculos.

Com o tempo, naturalmente, fui-me tornando mais convencional. Há coisas que a idade não acomoda. Mas são ciclos. Acho que passada essa meia idade e entrando na madura idade, todas as extravagâncias voltam a ser possíveis.

No sábado a minha mãe tinha uns jeans justinhos, uma blusinha justa às risquinhas azuis escuras e brancas, inspiração naval, e uns ténis brancos. Estava lindamente. Há uns anos ela teria achado que não tinha idade para se vestir assim. Agora veste o que lhe apetece e tudo lhe fica bem.

Ao ver este miúdo de seis ou sete anos do vídeo abaixo fico fascinada. 

A destreza das suas mãos pequeninas, o olhar aguçado e atento enquanto se aventura no corte ou na ousadia do penteado, a criatividade e a falta de limites, maravilham-me. 

Fantástico também como as pessoas se entregam às suas mãos. Ele rapa, ele corta, ele apanha no alto da cabeça, ele pinta de encarnado ou de azul... e as pessoas aceitam. Acho isso o máximo. Fico parva com a sua habilidade e com o arrojo com que se atira para técnicas mais arriscadas.

Eu que, em pequena, ambicionava ser cabeleireira e que ainda gosto imenso de cortar e pentear, vejo estes vídeos com espanto e quase inveja (inveja da boa, bem entendido)

E a forma como ele massaja a cabeça, o pescoço, a testa...? Há uma miúda que adormece, uma ternura, e eu pensei logo que seria o que me aconteceria se me metesse nas suas ágeis e hábeis pequenas mãos. 

A intuição dele prova bem que, quando se nasce com uma vocação a sério, ela fala mais forte. Chama-se Jiang Hongqi e é, sem dúvida, um encantador de cabelos. 

_________________________________

Alguns comentários que não publiquei adiantam-me possíveis maleitas e alguns mails mostram a preocupação de alguns de vós a propósito do meu estado (clínico). Não quero adiantar muito pois não gosto de falar antes de estar tudo ultrapassado. Contudo, para evitar especulações ou preocupações talvez exageradas, direi apenas que me sinto quase normal e que creio que o quase resulta essencialmente da medicação. Direi também que há semana e picos apanhei um grande susto (eu e toda a minha família), E apanhei-o por mera coincidência. Calhou, perfeitamente por acaso, fazer um exame de rotina (uma rotina que estava interrompida há quase uns dois anos ou mais -- nem sei) no dia em que apanhei a vacina. De manhã levei a vacina, de tarde fiz o exame. E esse exame detectou alterações significativas, potencialmente graves, em mim. Ao repetir de urgência esses exames, essas alterações tinham-se acentuado e já causado uma aparente sequela, quiçá uma sequela para o resto da vida. A partir daí tem sido uma sucessão de sustos, de mais exames, de toda a espécie de peripécias. 

Não sei se tem a ver com a vacina mas essa hipótese não foi descartada. Para já está a querer perceber-se o que aconteceu e se ainda há risco; e, face ao que se descobrir, o que fazer. 

Desculpar-me-ão mas não vou dizer qual a vacina para não causar receios que poderão ser infundados. 

Tudo nisto é novo e temos que ter calma, não fazer juízos precipitados. Para já quero é ter tudo clinicamente esclarecido pois não ganhei para o susto e quero, sobretudo, saber se posso voltar a ter uma vida normal e descontraída, se tenho que ser medicada forever and ever ou, mesmo, se terei que ser 'intervencionada'. A vacina pode ter sido apenas uma estranha coincidência. 

O resto se verá depois -- se houver alguma coisa para ver.

__________________________________________________

Mas post que é post, aqui no Um Jeito Manso, tem que ter música... certo?

Então que se chegue a nós o Will Stratton com Tokens


________________________________________

Divirtam-se, aproveitem a vida, está bem?
Haja saúde. Haja alegria.
E tenham um dia bom. Força.

3 comentários:

Maria Dolores Garrido disse...

Bom dia!
Quando vou ao cabeleireiro, gosto de fechar os olhos enquanto me lavam o cabelo. Tento não pensar em nada, em nada mesmo, apenas em sentir a cabeça lavada. Nos vários sentidos.
Também já usei penteados diferentes, mas o mais bonito era a trança grossa e escura de quando era menina e moça, mas essa já se desfez há muito muito tempo. Ficou o cabelo. Bem bom.
Eu bem me parecia que havia qualquer coisa. Acontece ao longo da nossa vida. Vai passar, vai ver. O tempo, com ou sem inoculações, também traz ou leva coisas escondidas. Se ficam visíveis, podem-se deitar fora no momento certo.
Cuide-se, escreva, olhe bem as flores e cá estamos pra dar uma forcinha.
Um dia melhor do que ontem e um amanhã ainda melhor.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Riqueza,

Que essas maleitas se ponham a milhas!

O meu abraço.

Anónimo disse...

O que é que é um "negão"?