Pelo verão, havia umas festas de aldeia. Hoje não localizo bem onde seria. Lembro-me de umas casas, um largo. Não sei se ali não seria terra batida. Uma zona de campo. Baile, cavalhada, arraial, jogos populares. Lembro-me que penduravam bilhas com água, se calhar estavam penduradas numa corda que unia duas árvores, e que homens passavam montados em burros a ver quem partia mais bilhas (literalmente falando). De cada vez que um conseguia, era uma festa.
E havia petiscos. Cheirava a chouriço assado, se calhar também a polvo assado, não sei, não posso dizer -- mas era aquela mistura de cheiros que, em noite de festa, abre o apetite e traz alegria. E os miúdos andavam à solta, corriam, brincavam, dançavam. Havia muita música e muita animação. Tudo na rua. Uma recordação de liberdade e alegria.
Não sei se nessa altura as pessoas se vestiam de forma muito colorida. Diria que não. Naquela altura a moda tendia para o soturno, para o ensimesmado. Era o tempo do tecido a metro e das modistas e alfaiates e das camisolas tricotadas.
Contudo, nas festas de arraial na aldeia, nos arraiais no recreio da escola ou nos jogos de futebol em que o pai participava, andavam certamente mais práticos.
Mas, fosse onde fosse, a minha sensação de liberdade era sempre a mesma. Eu a correr por onde queria com outros meninos, a minha mãe a conversar com amigas, o meu pai na sua vida (tenho ideia que fazia parte da organização de várias destas coisas e lembro-me dele atento a ver se as coisas estavam a correr bem) e, portanto, eu à solta.
Ao ver este vídeo com o Jon Batiste a interpretar Freedom foi do que me lembrei: alegria, largueza de movimentos, a rua como cenário para se estar, a rua como lugar de encontro e de festa.
Agora o colorido de todos eles é que é não corresponde à minha memória: aqui, nas cantorias, do Jon Batiste, as cores vibram e brincam e dançam de dar gosto. E aqui o ambiente é urbano enquanto nas minhas memórias é rural. Mas a liberdade é a mesma.
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