terça-feira, maio 18, 2021

Os malefícios colaterais do coiseca

 



Leio por aí que os divórcios e separações estão prestes a rebentar. Pudera. Só quem nasceu um para o outro tolera o outro por perto a toda a hora. Mesmo esses é bom que tenham uma distância higiénica: não sempre por perto, não sempre a toda a hora. Agora para quem tem as suas diferenças e só as suporta quando devidamente espaçadas, condimentadas com situações que distraiam a atenção, imagine-se a pressão que vai crescendo dentro da panela. Não imagino sequer o que seria para mim a tortura se tivesse em casa não o homem da minha vida mas uma amélia, um zé cueca, alguém que, só de existir, estaria a pôr-se a jeito para me levar ao desespero. Ao contrário do que parece ser a tendência, em que o pessoal aguenta até que isto desconfine, acho que comigo a coisa acabaria mal muito antes disso. Não apenas faria o célebre número das malas à porta como não prescindiria também de lhe atirar as cuecas pela janela. E, antes que ele percebesse o que lhe estava a acontecer, já lá estariam os senhores das chaves a mudar a fechadura. E, se o encontrasse na rua, de certeza que já nem o reconheceria. Mas, se calhar, isto seria eu -- eu que sou impaciente. Parece que os pacientes conseguiram respirar fundo, dar um tempo, esperar que o corona dê tréguas. E agora, com a malta a ficar progressivamente mais vacinada e com o bom tempo a convidar à alegria, com cada um a regressar aos poucos à sua vidinha, com o intolerável 'novo normal' a cair em desuso, é que vai ser o adeus oh vai-te embora, bye-bye e chega pr'a lá, oh melga.

Mas, claro, estas provações têm consequências: li que nunca nasceram tão poucas crianças como agora. É que uma coisa é conseguirem tolerar-se, um em cada ponta da casa. Outra, bem diferente, é conseguir passar por cima da raiva contida e, numa de ser só sexo, bora lá, truca-truca. 

E isso, pelo que os números indiciam, é que nem pouco mais ou menos. A malta parece ter abrandado fortemente na coisa: não se suportam, não se desejam. Ou então não é isso, é simplesmente que, fartos de ter as crianças a bombar por perto todo o santo dia, nem pensar em deitar mais uma ao mundo. 

Mas isso já não sei. Que o pipeline está cheio de malta em vias de se separar e que quase não têm nascido crianças é um facto. O que vai no subconsciente, no consciente e no inconsciente de cada um isso já não posso dizer.

Mas estou curiosa.

Como estarão as estatísticas de anticoncepcionais? Alguém me diz? Camisinhas? Como será? Pelas ruas da amargura? Já eram? Pírulas, com a malta toda a dizer que causam mais enfarilhamentos que a astra-zeneca, imagino eu que também estejam em contagem decrescente. 

Sobra o quê? Já nem sei bem o que agora se usa.

Ah... espera aí. Copos menstruais... não é? 

Caraças. Sou muito ignorante. Li no outro dia que uma ex-PAN quer que os haja gratuitos nos centros de saúde e também em escolas, universidades e institutos politécnicos. E eu só pensei: olha a sorte que tenho de estar na menopausa, assim nem tenho que ir ver como é que os ditos funcionam. Bolas. Só de pensar. Serão de que tamanho? Enfiam-se assim sem mais, à papo-seco? E puxa-se e vem cheio? E não há o risco de se entornarem...? Caraças. 

Adiante. 


Mas, então, dizia eu que parece que a malta que, antes, já de si, não se gramava de alma e coração anda a evitar-se. Claro: foi dose, tantos meses de convívio forçado é para quem pode (com p e com ph).

Ora bem. Não sei se, justamente por isso ou por outra coisa qualquer, há outra: parece que nunca se consumiram tantos ansiolíticos e anti-depressivos. A malta anda pelos cabelos. Uns trepam às paredes, outros batem com a cabeça nas paredes. Tudo em ponto de rebuçado.

Percebe-se. 

A minha mãe contou-me que num daqueles programas que vê, creio que disse que era com a Tânia, foi uma médica dizer que há ainda outra: osteoporoses e que tais é a dar com um pau. Pudera. Sem exercício e sem sol, quem é que pode andar escorreitinho e com a ossada em bom estado?

Quem pense que o corona é bicho para só se acolitar nas ventas e por aí abaixo que tire o cavalinho da chuva: aquilo é bicho que vai de A a Z.

E, cá para mim, a coisa não fica pelo abecedário. Aliás, no outro dia, vi um anúncio na televisão de que a malta, com isto do confinamento, já nem anda a pôr a dentadura e, por isso, quando as forem pôr estão largas. Ou apertadas...? Não sei, não prestei muita atenção, só registei que o corona também dá cabo das dentaduras.

Portanto, já sabem.

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Fotografias de Anna Devís e Daniel Rueda na companhia de OK Go Sandbox - Art Together Now

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E o que eu estimo é o que eu desejo.

Tudo de bom. 

Saúde. 

Paz e Amor.

1 comentário:

Estevão disse...

Quanto às dentaduras, o problema é complexo. Pode estar em causa um direito fundamental. O Direito à liberdade de mastigação. O resto será a fase dois da guerra das rosas:

https://youtu.be/SfnQXXerqPY