segunda-feira, maio 10, 2021

Ele disse-me que punha água no cágado todas as semanas. E, mesmo que seja de plástico, vou gostar dele na mesma

 


Estou aqui com umas dúvidas e, quando isso acontece, pesquiso, pesquiso. Mal tenho tempo para me dedicar ao blog ou a outras leituras. Tem a ver com o jardim. Gosto muito dele, muito mesmo. Mas tenho alguma vontade de deixar mais espaço à natureza. Só que não sei como. Não o quero feito matagal, intransitável. Longe disso, Gosto dele amplo, todo bom para se usufruir. Agora anda-se por todo o lado, as crianças correm e jogam à bola, os adultos deitam-se no chão. Há sol e há sombra, há árvores, há recantos. Mas há relva e a relva tem que ser tratada como um animal doméstico cujo pelo tem que ser aparado, tratado, escovado. Esse aspecto aborrece-me um bocado. Gosto de coisas mais espontâneas, gosto de algum improviso. Não acho graça a animais amestrados, apinocados. Com as plantas é a mesma coisa. Gostava que houvesse mais espaço ao curso natural da natureza. O meu filho falou em permacultura. Desde há muito que vejo vídeos sobre permacultura. Só que o que vejo de permacultura é mais virado para a utilidade do que para a estética. E a estética, em volta da casa é fundamental. A horta é lá ao fundo e é lá que está bem. E a relva é verde e o verde é uma maravilha. Se descobrisse uma maneira elegante de usar a permacultura, de conjugar a estética com a o curso natural da natureza...

Tenho que investigar mais.

Enquanto não estiver esclarecida, não sei. Só sei que tenho aqui uma vontade de estudar e descobrir.

O dia foi tranquilo. Cozinhei, arrumei, caminhei. À tarde fomos buscar a minha mãe e fomos passear para a cidade. Quando saiu do carro exclamou, como se estivesse assustada. Pensei que tinha acontecido alguma coisa. Afinal tinha trazido os sapatos com que anda em casa, daqueles de conforto, de renda elástica. Tinha-se esquecido de trocar pelos de vir à rua. Também não reparei. Descansei-a, que ficavam bem, que não tinha mal nenhum. Mas ao princípio estava arreliada, se encontrava alguém conhecido, que vergonha. Depois, distraiu-se disso. 

Andámos à beira rio, andámos pela baixa, andámos a ver as montras. As lojas chinesas eram as únicas abertas. Para além das esplanadas, gelatarias, etc. Não resisti e comi um geladão com duas bolonas, uma de gengibre e canela e outra de maracujá. Quando a minha mãe me viu a sair da loja com aquele exagero, exclamou: sabes quantas calorias estão aí?! Respondo que não nem queria saber. Tão bom, tão bom. Quero lá saber das calorias. Há séculos que andava de desejos por um belo gelado. Adoro elados.

Depois, numa loja chinesa que tinha roupa, ímans, nossas senhoras de fátima e toda a espécie de santos, sacos, chapéus e bonés e toda a espécie de coisas, na montra, no meio de tudo o que se possa imaginar, vi o que me pareceram vasinhos de suculentas ou cactos, nem percebi. Mas bonitos, invulgares. Mínimos. A minha mãe e o meu marido disseram que deviam ser de plástico. Resolvi ir perguntar. O rapaz ficou na dúvida, disse que achava que sim, que eram de verdade. Mas não estava muito confiante na resposta, percebi. Falava um bom português. Disse que eu podia ir ver. Perguntei se podia tirar aquele que me agradara. Disse que sim. Uma coisinha pequenina, bonitinha, curiosa, com uma florzinha ainda mais mínima, uma florzinha que parecia de papel ou de ráfia, como se a florzinha tivesse sido posta ali só para enfeitar. Perguntei se a flor era verdadeira. Olhou, admirado e disse que se calhar não. Depois, em chinês, disse qualquer coisa. De um canto, sentada no meio das roupas, uma jovem, de rabo de cavalo, bonita, com um telemóvel na mão, disse qualquer coisa também em chinês. Nem a tinha visto. Sorriu-me. O rapaz disse-me: A flor não deve ser verdadeira mas o cágado deve ser. Olhei para ele, espantada. E ele: Ponho água no cágado todas as semanas. Percebi. Deveria querer dizer cacto.

Trouxe.

A minha mãe disse: Isso não é verdadeiro, compraste uma flor de plástico. O meu marido, estava era arreliado por eu lá ter entrado, mexido em dinheiro, trazer uma coisa na mão, acha sempre que não tenho cuidado. Pôs-me álcool gel nas mãos. Disse-lhes: Segundo o rapaz me disse, acha que é de verdade, até me disse que todas as semanas põe água no cágado. Ficaram admirados. Disse-lhes qual a minha interpretação. A minha mãe desatou a rir. O meu marido estava era farto daquele passeio em câmara lenta. Parámos em frente de cada montra, conversámos, eu e a minha mãe. Ele, que não tem um pingo de paciência para estes números, já devia estar pelos cabelos (a minha sorte é que os não tem). 

Bem. Quanto ao objecto, planta ou artefacto, está ali fora. Não chegámos muito cedo. Resolvi sentar-me no cadeirão de relax e pôr-me a ler um livro que me pareceu promissor. Mas deu-me uma pancada de sono das valentes. Adormeci, e, quando despertei, já não eram horas para investigações. Amanhã vou a ver se arranjo um vaso maior para lá pôr o cágado. E mesmo que seja de plástico ponho na mesma. As coisas são o que quisermos que sejam. Essa é que é essa.


--------------------------------------------------------

Amanhã, se não m esquecer, fotografo o meu pequeno cágado para vos mostrar. Estes que aqui estão foram encontrados por aí e, apesar de serem altamente curiosos, parecem-me mais prováveis que o meu.

David Gilmour interpreta Diamond Ring sem querer saber das minhas dúvidas para nada.

-------------------------------------------------------------------------

Caso queiram festejar o 95º aniversário de uma pessoa muito especial, é só descerem até ao post que se segue.

-----------------------------------------------------------------

Desejo-vos uma bela semana

6 comentários:

Anónimo disse...


O meu marido estava era farto daquele passeio em câmara lenta.

Como eu o compreendo
Homem sofre...

Maria Dolores Garrido disse...

Tenho uma amiga que regou um cato durante dois anos, sempre à espera que crescesse. Em momento mais atento, viu que, afinal, era de plástico!!!!
Boa semana e também para o 'cágado' recém-chegado!

Estevão disse...

Pode ser que a Tânia ajude na permacultura. Ou no vídeo, se conseguir ultrapassar a publicidade, ou no hotel ( e um chazinho de segurelha para arrebitar ..)

https://www.rtp.pt/play/p3311/e411835/paraiso

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo,

Não sofre nada. Os homens são bafejados pela sorte de poderem acompanhar as mulheres, seja por onde for, seja a que velocidade for.

:)

Enjoy!

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Dolores,

Essa é boa! Mas eu estou capaz de fazer a mesma coisa. Mas uma coisa lhe digo: mudei o cágado para uma floreira comprida. Uma suculenta numa ponta, o cágado na outra e não é que o magano me espetou um pico na palma da mão...? A sério. Tentei não lhe pegar não fosse ser verdadeiro e picar-me mas ou ele deitou as garrinhas de fora ou os picos são a fingir e picam como se fossem de verdade.

A ver se cresce ou se se mantém plasticamente do mesmo tamanho. Afinal não é uma só florzinha: são duas. Ínfimas, cor-de-rosa. Parecem de ráfia. Continuo na dúvida sobre se são verdadeiras mas, se for, o bicho é danadinho de bonito.

Dias felizes para si, Maria Dolores!

Um Jeito Manso disse...

Olá Amofinado,

Bem bonito aquilo, não é? Gostei imenso. Por mim, poderiam dar programas de jardins todos os dias.

Mas têm campos relvados normais no meio dos campos de permacultura... Andarão a regar e a aparar a relva no meio daqueles campos naturais...? Como farão? Será que me passou algum bocado de vídeo?

Mas obrigada, muito útil e interessante. Gostei muito.