De manhã o meu marido perguntou qual era o programa. Disse-lhe que era ir comprar suculentas e uma taça. Torceu-se, que me deixasse disso. Protestei: não basta não irmos a lado nenhum, ainda protesta quando quero fazer uma coisa de nada. Disse que não lhe apetecia usar máscara. Bela desculpa... Mas fomos. Gosto imenso de ir aos viveiros. Contudo, acho que só me satisfarei quando for sozinha. Aquilo é enorme, têm imensas plantas, algumas que desconheço. Ele fica impaciente quando me vê a cirandar. Quer que eu me limite a ver aquilo que quero e, depois de ter escolhido oq ue quero, acha que é pagar e desandar. Eu, por mim, ficava a ver tudo e mais alguma coisa e, se alguma coisa despertasse a minha atenção, não me faria rogada. Ele é o oposto. E tem sempre pressa mesmo que por nenhuma razão em particular.
Ainda me lembro de quando trabalhava num sítio no tempo em que havia telefonistas. Aquela telefonista era uma figura. Uma verdadeira Miss Piggy: baixa e bem fornecida, perna torneada, anca bem redonda, seios generosos sempre quase a saltarem dos indiscretos decotes, salto alto, cabelo aos cachos pintados de louro espalhados pelas costas. Ela gostava de mim e eu dela. Belas conversas que tínhamos. Metade do tempo eu estava de boca aberta e a outra metade a rir. Surpreendia-me com as suas revelações. Sabia de tudo. Não havia movimentações que lhe passassem despercebidas. Era telefonista e recepcionista em simultâneo. Era tão maliciosa, tão brejeira, tão atrevida que os homens até tinham medo das saídas dela. Mas falo dela pois naquela altura o meu marido, se queria falar comigo, passava por ela. Havia telemóveis mas devia ser para ocasiões especiais pois ele ligava para o geral e ela é que transferia a chamada para mim. Para gozar com as pressas dele, ela imitava-o. Não vou reproduzir na íntegra pois quase se limitava ao meu nome e não vou dizer aqui o meu nome mas era assim, a abrir: 'Nome Apelido, se faz favor', mas tão à pressa era que comia metade das sílabas. Ela contava que bem queria meter conversa, cumprimentá-lo, mas que ele não dava abébia. Quando eu lhe contavaele não ligava patavina e dizia: 'Ia pôr-me na conversa com ela...'. Não tem paciência para conversas. Bem o ouço nas suas reuniões habituais. Cumprimenta as pessoas assim: 'Está tudo bem, não está?' e passa à frente. Já lhe disse mil vezes para perguntar: 'Está tudo bem? e esperar pela resposta. Diz que não, não vá a resposta ser longa ou requerer comentário.
Portanto, lá fomos. Até não há muito eu desconhecia a designação 'suculentas' e confundia-as com cactos e, na minha cabeça, cactos eram aqueles bichos com folha gorda e picos, coisa imprópria para ter numa casa com crianças. Por isso, ignorava-as. Até que, há pouco, as descobri. E ando encantada. Já aqui tinha plantado quatro numa taça e tão bonitas elas se estão a fazer que fiquei com vontade de ter mais. No outro dia, quando fomos comprar um vaso de terracota, trouxe logo a taça à espera das plantinhas.
Uma tentação. Trouxe umas quatro de tamanhinho pequeno e depois descobri uns mini vasinhos com umas mini mini. Trouxe cinco dessas. Pensei que, assim, precisaria de outra taça. Só que as taças que tinha eram grandes demais. Vi um tabuleiro em cerâmica esmaltada em bordeaux mas pareceu-me baixo e, sobretudo, caro demais.
Pensei que este sábado iríamos à loja dos vasos. O meu marido detesta lá ir. Há sempre muita gente, uma certa confusão para estacionar. A caminho de casa, ele a dizer que não ia e eu a dizer que tínhamos que ir. E então diz ele: 'Vi lá uma taça redonda parecida com o tabuleiro'. Pedi que descrevesse. Pareceu-me bem. Então demos meia volta e voltámos. Afinal não gostei, era grande demais, achei deselegante. Pedi que desse a opinião sobre o tabuleiro. Como já estava impaciente e sobretudo não queria ir à loja dos vasos, trouxemo-lo.
A seguir ao almoço, estivemos no jardim ao sol, a conversar, a ouvir os pássaros.
Depois, estivemos a mudar os vasos. O tabuleiro é baixo, é usado para bonsais. Espero que não seja baixo demais para as minhas suculentinhas. Ficou em cima da mesa que está ao pé de dois cadeirões no terraço pequeno de lado. A outra taça ficou no chão, de um dos lados.
Gosto tanto de plantar, de regra, de aconchegar a terra às plantas...
Ao fim da tarde, veio a anterior proprietária. Estivemos a conversar. Estive a mostrar-lhe as suculentinhas. Gostou. Estivemos a ver as árvores, as flores. É um jardim romântico, disse ela. É isso. Nunca tinha pensado nesses termos mas é mesmo.
1 comentário:
Bonitas, as glicínias. Associo-as sempre às Páscoa. Até me parece que esta festa é móvel só para poder acompanhar a formação destes cachos.
Relativamente ao texto anterior, tenho para mim que se a UJM nos desse uma aula de “como aumentar a floração das roseiras”, seria assim, abstraindo a publicidade inicial:
https://www.youtube.com/watch?v=G8Fi2I2GK_k
Um bom sábado!
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