quarta-feira, janeiro 20, 2021

Só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar

 

No meio da desgraceira pegada que é a escalada do número de infectados, internados, ventilados e mortos e da torrente de dúvidas e de notícias escabrosas, só mesmo um break, um nada a ver, uma escapulida, uma respirada, uma espreitadela pela janela. Ora, sabido é, a esta hora a minha janela é o youtube. Fui ver. E logo mais uma lição de amor. Eu que sou passageira de longo curso mas que, ainda assim, pouco sei da poda, quando vejo lição fico logo curiosa. Cada vez mais ando a ver se aprendo. O título  é: só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar. 

Fiquei curiosa, claro. Qual a pergunta...? Puxei pela cabeça e ocorreram-me umas quantas, qualquer delas imprópria para figurar aqui. Então fui ver e fiquei furiosa por não ter pensado nisso. Óbvio. É mesmo. O tempo passa, a gente muda. Mas há uma coisa que não pode mudar nunca: senão não dá.

 

Terei prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?
- esta é, pois, a pergunta chave

Penso em todas as pessoas cujo romance ficou pelo caminho. Tanta gente separada. E é isso: chegam a um ponto em que já pouco ou nada têm a dizer um ao outro. Claro que os corpos também se vão desabituando, vão deixando de precisar um do outro, a coisa vai ficando mais espaçada, a distância vai ficando normal. E as conversas sempre mais do mesmo, sem novidade, sem interesse, uma coisa só mais para encher vazio. Não há curiosidade na opinião do outro, já nem se sente falta do interesse do outro. O outro é um vulto que se vai esbatendo. Os espaços em branco e o vazio vão alastrando. Até ao dia em que se percebe que já não vale a pena. Aí, haja coragem: mais vale enterrar a história e seguir em frente, cada um para seu lado.

Agora se a gente não passa um sem o outro, se bom, bom mesmo, é estar junto, conversar, rir e fazer rir, fazer e receber carinho, aprender com o outro, passear abraçado ou de mão dada, conversando, sempre com assunto, a gente a pensar que tem assunto agora e vai ter sempre, e sempre projectos a dois, a vida sempre nessa doce interacção, então, sim, então se calhar a coisa tem pernas para andar. 

E depois é isto: as palavras têm muita malícia, muita duplicidade, muita capacidade de encantamento. Quando há conversa -- conversa boa, com cheirinho a coisa nova, com sabor a indispensável, uma conversa temperada com palavras com private jokes escondidas lá dentro, palavras que nascem umas das outras -- o resto vem por acréscimo.


[Trinta anos...? Bahhh.... trinta anos passam num instante...]

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Pinturas de Portinari, Caillebotte e Renoir

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Saúde. Um dia bom.

1 comentário:

Paulo B disse...

Raios. Não dê ideias de perguntas tramadas que na audiência há quem esteja em confinamento, sozinho, solteiro faz bom tempo e com perspetiva de não ter uma boa resposta à pergunta. Hahahaha

Abraço! Que isto melhor raios (o CoVid, claro, que só assim haverá vida eventual para o romance)