sexta-feira, dezembro 18, 2020

Magia ou... magia...?
O meu jardim é dado a metamorfoses, essa é que é essa.....

 


Penso que esta sexta-feira poderá ser mais tranquila e talvez, à noite, consiga prosear alguma coisa mesmo que seja proseado vago, sem propósito, rumo ou condição. Hoje não consigo. A cabeça ainda não descansou ou desligou dos afazeres. 

A meio do dia veio cá a anterior proprietária. É sempre uma lufada de alegria e vitalidade. Vem numa fugida mas não resiste a entrar pelo jardim e rever as suas árvores e flores. Gosto de a ver nisso. Aprendo com ela e ganho surpresas. Ela também é apanhada pelas surpresas.

Um arbusto grande, no início do outono, começou a ficar com a folhagem amarela. Pensei que estava doente. Falei com o jardineiro e ele disse que já tinha reparado, que lhe ia aplicar produto. Tempo depois, o arbusto já com ar de quem se preparava para uma despedida, perguntei-lhe se sempre tinha posto o produto. Já não se lembrava, creio que nem se lembrava de que tínhamos tido a conversa.

Como me fartei de tanta falta de atenção e cuidado, sempre a virem em horários desprogramados, sempre gente aleatória que nem sabia ao que andava e depois de um dia terem partido uma floreira e abalado sem dizerem água vai, disse-lhes que assim não dava. Vieram outros. A engenheira chefe deu uma volta comigo. Lamentei o que imaginava ser a sina traçada do arbusto. Ela observou e disse, não, não está doente, o que é é de folha caduca. E, na verdade, caiu tudo. A relva coberta por uma bela folhagem dourada. Hoje, diz a anterior proprietária, não tarda começa a florir. Olhei pensando que estava a falar de outro arbusto qualquer. Não, estava a olhar para o arbusto despedido, ramos nus, nus. Fiquei intrigada: mas vai florir estando sem uma única folha? Que sim, é uma magnólia, é mesmo assim. E foi comigo até ele e mostrou-me os rebentozinhos na ponta dos ramos nus, do arbusto que parece sem vida. Nem vejo a hora, deve ficar lindo.

A cameleira também começa a florir mas as florzinhas caem muito. Como são uma graça, apanho-as do chão e vou colocando no arranjo de natal e no jarrão com as hastes luminosas.

Mas, então, estávamos ali no jardim, vê ela uma trepadeirazinha que tem crescido a grande velocidade já tendo atingido toda a altura do pilar junto ao qual foi plantada. Ela soltou uma exclamação: ah, nem acredito... não crescia, pensávamos que não ia desenvolver-se... nem acredito que está deste tamanho... ah... E eu que, desde que aqui estou, só a vejo a crescer, crescer, fiquei admirada com a surpresa dela. 

Depois foi a minha vez de lhe contar de um mistério: estou muito admirada, sabe? Pensava que ali só havia rosas encarnadas e afinal agora está com rosinhas amarelas. Ela estacou: não, não tinha cá rosas amarelas, nunca tive. E eu: pois, sempre ali vi rosinhas encarnadas mas agora há amarelas. Ela insistiu: impossível. Disse-lhe: mas venha cá, estão floridas. Ela constatou. Ficou sem dizer nada. Depois disse: não estou a perceber. Eram encarnadas, toda a vida foram encarnadas. Ficámos as duas a olhar, sem dizer nada. Dava para ver, em algumas, o processo de metamorfose. Por mim, acho fascinante e podem transformar-se à vontade.

Depois desistimos e passámos a outras flores -- o que não tem explicação, explicado está.

Quando passou ao lado da lima, disse: olha, esta está amarela, amadureceu. E eu, que ando ando intrigada, perguntei: mas a árvore dá limas e dá limões? E ela: limões? Não! Limas!. E eu: mas olhe este aqui, amarelo, feitio de limão. E tenho apanhado e usado como limões... E ela, pasmada: Não, redondas, verdes, limas. E eu: Mas veja, olhe este. E ela: Pois, não estou a perceber, eram limas. E eu: Mas ainda tem limas. Só que também tem limões. E ela: Pois, não sei...

Já que estávamos a caminho, resolvi mostrar-lhe uma planta que está a dar-me alegrias: Quer ver? O ficus parecia morto e afinal está a ressuscitar. Ela admirada: Ficus? Qual ficus? Não tinha cá nenhum ficus. Eu: Ah, não é um ficus? Pensava que era. Fomos ver. Ela: Ah, está morto! E eu: Não, parece mas não: está a rebentar. Fomos ver. Diz ela: esta planta estava com um problema, era para a ter cortado para plantar outra. E eu: foi ficando cada vez mais seca, íamos pondo água, quanto mais água levava, mais secava, até que secou de vez. E ela: não era da água, era doença. Porque não arrancou? E eu: Porque raspava as hastes secas e sentia-as ainda com vida. E comecei a reparar que estavam pequenas folhinhas a querer rebentar. E agora estão a nascer um pouco por todo o lado, já viu? E ela: pois, está, de facto...

Depois chamou a minha atenção: aquele vaso ali, directamente em cima da relva vai dar cabo da relva por baixo. E tem razão: coloquei-o ali a ver se a flor que lá está ganha nova vida para depois o trazer para local mais visível mas está na hora de lhe arranjar já outro poiso. 

Ainda sobre uma roseira brava muito linda que está num outro sítio, perguntei: e estas bolinhas? Vão daqui nascer novas rosinhas? E ela: Não. As bagas são para cortar, é o que fica das rosas. Deve podar. E explicou-me que se corta acima das gemas e mostrou-me o que são as gemas dos ramos.

Só que, antes de aqui começar a escrever, fui googlar e fiquei confundida: diz que aquelas bagas são frutos carregadinhos de vitamina C. Ora, do que ela disse, aquilo era lixo. Tenho que averiguar melhor. Se aquilo é fruto e bom quero aproveitar. Mas não quero correr o risco de não ser nada disso, de ser baga venenosa. O mundo é cheio de desconhecimentos, mistérios, coisas para aprender.

E, por falar em vitamina C, era para lhe ter falado no limoeiro do outro lado que dá limões amalucados. Nunca vi tamanhas doideiras. Há limões normais mas depois há alguns que parecem saídos dum livro mágico, daqueles livros surreais onde as rosas mudam de cor, os frutos tornam-se outros e os que persistem no que são não se dão por vencidos e fazem de tudo para dar nas vistas. Fica para outro dia que ela disse que estava com pressa e eu não estava com menos.

E o mais certo é que alguns dos meus bem informados Leitores achem tudo isto de uma aflitiva banalidade e que aqui venham dar-me ensinamento sobre o que a mim parecem fenómenos da mais pura magia. Mas, pronto, cá estarei para aceitar os factos.

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E hoje terei mesmo que ficar-me por aqui pois declaradamente não vai passar disto: zero, bola, nada, chiripitatá-tatá. E peço desculpa por não agradecer os comentários mas estou aqui que nem posso, nem vos digo nem vos conto.

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Desejo-vos uma bela sexta-feira

2 comentários:

Pôr do Sol disse...

Quem sabe se essa metamorfose não acontece devido à comunicação que existe entre arvores e flores atravez da rede subterranea?

Há dias enviei-lhe um video muito curioso em que cientistas e biologos explicam a transformação que se vê à superficie.

Continuação de boas descobertas. A Natureza é perfeita.

Um Jeito Manso disse...

Querida Pôr-do-Sol,

Vi o vídeo, sim, e adorei e acredito muito nele. Não disse nada porque tenho andado a rebentar pelas costuras. Trabalho até tarde e, volta e meia, adormeço. Guardo as energias para o post diário. Mas estou em falta, bem sei, desculpe.

E se calhar é mesmo a comunicação entre flores e árvores que as faz mudar, tal como nós nos adaptamos para conseguirmos melhor conviver uns com os outros.

A natureza é perfeita, diz. E eu concordo.

Muito obrigada pelas palavras, pelo vídeo, pela companhia.

Um bom Natal, Sol Nascente. Daqui lhe envio uma braçada de rosas.