Do que me conheço, em abstracto diria que seria altamente provável que eu fosse pansexual: ou seja, que gostasse de pessoas independentemente do seu sexo ou orientação sexual. Crio, naturalmente, uma forte conexão com pessoas de quem gosto. Pelo contrário, sinto repulsa, que é mesmo repulsa física, se verdadeiramente antipatizo com alguém. Não é frequente sentir uma antipatia assim, visceral: tenho que sentir, no meu mais íntimo, que é uma pessoa parva, oca, narcisista, destituída de inteligência, de genuínos sentimentos, de valor de qualquer espécie. Aí nada a fazer, só peço a todos os santinhos para nunca me aparecer à frente. Em contrapartida, se a pessoa é inteligente, se tem sentido de humor, se é generosa, simpática, se desenvolve empatia em relação aos outros, se é boa companhia, se sabe surpreender-me, então, tem a minha simpatia e facilmente me relaciono com ela.
Mas uma coisa é simpatizar, outra é sentir atracção física. Aí, nesse capítulo, sou muito selectiva. Quando eu desdenhava de muitos que toda a gente achava o máximo, havia sempre alguém que dizia: hás-de deixar-me ver o teu caixote do lixo. Para eu me sentir atraída por alguém tem que essa pessoa ser muito de muitas coisas e nada também de muitas coisas. Na atracção física sou fundamentalista. Não há meio termo, não faço concessões. Tem que fazer o pleno dos fundamentais.
E, até hoje, isso só aconteceu com homens. Nunca me senti atraída por uma mulher. Identicamente, nunca me apercebi de que alguma mulher se sentisse atraída por mim. Que eu saiba, de entre as mulheres com quem me relaciono mais de perto apenas uma é homossexual, mas não assumida. A mim tanto se me dá. Não me faz qualquer impressão nem uma coisa nem o contrário. Simpatizo com ela por ser como é.
Mas, também em abstracto, uma coisa eu digo: se houvesse essa tal predisposição, não haveria da minha parte qualquer preconceito que me levasse a rejeitar, à partida, uma tentativa. Em abstracto, imagino que o melhor dos mundos deverá ser o mundo dos pansexuais: uma pessoa apaixonar-se e desejar uma pessoa só porque a pessoa nos cativa, nos dá vontade de estar próxima, abraçada a nós, bem apertadinha, nos apetece a sua companhia, nos apetece rir e conversar e passear e construir sonhos e projectos conjuntos e tudo isso pela pessoa em si e não por ser homem ou mulher ou gostar de homens e mulheres; isso parece-me um conceito irrecusável, a maravilha das maravilhas. Cá para mim, felizes os pansexuais.
Agora que escrevi isto ocorreu-me uma dúvida: ser pansexual será a mesma coisa que ser bissexual? Deve ser, não é? Não sei se conheço alguém bissexual. Se conhecesse e se quisesse falar sobre o assunto, aproveitaria para satisfazer a minha curiosidade.
Mas, pronto, não conheço, não sei. Não digo mais nada. Limito-me a partilhar um vídeo com as meninas mais prá-frentex de que há memória: Gilda, 78 anos, Helena, 92, e Sônia, 83.
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