Bem. Na noite passada pouco mais do que três horas dormi. E trabalhei até vir a mulher da fava rica. Uma vez mais, tantas as solicitações inside que não consegui pôr o pé outside. A ficção estrangeira is done. Mas o sacana do D continuou a jogar às escondidas comigo até ao fim. Quando lá ia, do D.H.Lawrence só me apareceu A Virgem e o Cigano. Fiquei intrigadíssima mas pensei que, na volta, há uns anos teria levado o conjunto a apanhar ares do campo. Pois bem. Ia no Truman Capote, várias estantes à frente, abro uma caixa que dizia Virginia Wolf e Pack. Não percebi. E não é que o pack era um conjunto grande de livros do D H. Lawrence? Lembrei-me: como, na outra casa, a estante já não dava para as encomendas, peguei naquele conjunto de livres e, para libertar espaço, pu-lo numa outra estante.

E hoje à hora de almoço veio cá um habilidoso fazer um trabalho e, a cada passo, ia à rua fumar e empatou-me a tarde toda. Estive a trabalhar, a receber telefonemas, a receber e a enviar maisl e, in between, a responder a solicitações do cavalheiro que, se bem percebo, deixou o trabalho mal feito e amanhã deve estar cá outra vez caído. Um pesadelo, isto.
Almocei uma sandes, de pé, na cozinha. Fiz, à pressa, uma com pão de beterraba e sementes, um resto de carne, tomate às rodelas, alface, orégãos e azeite. E tão bem que me teria sabido poder acompanhar com um sumo fresquinho de laranja. Mas zero. Portanto, água fresca e foi uma sorte.
A meio da tarde estava deserta de fome. Fui comer cajus e arandos e um pêssego. E foi o que houve até perto das onze da noite.
Amanhã mais uma dose de mudança. No outro dia deixaram para trás dois móveis grandes, daqueles que dão uma trabalheira a desmontar, a transportar e a montar de novo, candeeiros, espelhos e quadros. Portanto, vai ser outra devassa. Andam por todo o lado, mexem em todo o lado. Supostamente sempre de máscara. Mas, quando saem, mais uma daquelas secas: puxadores, interruptores, etc, tudo desinfectado, chão lavado. Trabalheiras em cima de trabalheiras.

Ainda há bocado, enquanto eu tomava banho, o meu marido esteve a desmanchar caixas. Dezenas e dezenas de caixas que vão ficando vazias, umas para serem reaproveitadas para a última fase, aquela tralha e roupa remanescente para cuja escolha tenho que desencantar uma pachorra que neste momento não existe. Outras caixas são para colocar para reciclar.
A minha mãe quase implora que eu não trabalhe tanto, receia que me aconteça alguma, diz que o stress não faz bem. Mas não me sinto stressada, enervada. Sinto-me é com pica para despachar serviço e ver se vejo a casa organizada. O meu marido diz que, com qualquer pessoa normal, uma casa como a nossa levaria quinze dias a ser arrumada. Não sei. Sei é que não suportaria o stress de ter a casa a cheirar a cartão e de não saber do paradeiro das coisas durante quinze dias.
E outra coisa de que agora me lembrei: no outro dia, um dos rapazes das mudanças, lendo a legenda da caixa para que eu lhe dissesse para onde devia ir, exclamou: 'Livros não livros'. Respondi: 'Não pode ser'. Ele releu a letra do meu marido e confirmou: 'Livros não livros'. Fui ver e ele, em peso, mostrou-me a caixa para que eu conferisse, de perto. Percebi, então: 'Ah, livros não lidos'. Lá está aquela permanente dúvida. E afinal não é apenas uma caixa, e das maiores: são muitos livros que não sei se por falta de tempo ou de quê ainda não foram ainda lidos e, por isso mesmo, se têm mantido à distância dos demais. E agora não sei se os ponha também segregados, confinados, ou se vá salpicá-los pelas estantes, perdidos no meio dos outros. Não sei, amanhã resolverei.
Claro que, no meio desta azáfama, sinto falta de algumas coisas. Ando tão focada e absorvida nisto que pouco tempo me sobra. Mas há tempo para tudo e amanhã já cá devo ter a minha filha e miúdos, embora ainda apenas limitados ao jardim já que a casa vai continuar a devassa que se sabe. Já lhes pedi que regassem e apanhassem folhas secas. E para quarta feira já cravei o meu filho, para vir ajudar a montar as estantes que o ikea, se não voltar a falhar, entregará. Portanto, aos poucos tudo se acalmará e voltarei a ter tempo para os meus amores.
E é isto, vou dormir. Já mal consigo manter-me acordada e é o que se sabe: um vício, uma necessidade de um bocadinho meu, um gosto por escrever. Não sei. A ver se um dia destes arranjo um bocadinho para fazer uma ou outra foto para vos mostrar.
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Fotografias de Nick Knight na companhia de Ry Cooder com Canción Mixteca
que nada têma ver com nada
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Dias felizes!
1 comentário:
Só de a ouvir falar em mudanças, já estou a ficar com a cabeça almariada.
Ando a resistir ás investidas da minha mulher para pintar a casa. A desordem nos moveis e no que eles escondem, mais os livros, mais as roupas,mais não sei quantas coisas desarrumadas, perco a vontade para a ouvir o que quer que seja que ela me peça para fazer.Entro em apneia de diálogo conjugal.
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