domingo, junho 28, 2020

Em dia de grandes disrupções, o pobre diabo arranja trabalho
-- tudo ao som do azul e de ti





Este sábado foi-me um dia e tanto. Não é todos os dias que acontecem tantas coisas e coisas tão disruptivas e estruturantes como me aconteceram hoje. Perdoar-me-ão por não as revelar.

Não gosto de falar, em cima do acontecimento, do que me acontece, em especial quando são coisas mesmo relevantes para mim. Poderei apenas dizer que, por um lado, consumei ainda mais o fecho da porta que no outro dia fechei. Por outro, dei um novo, grande e decisivo passo na minha vida. Avizinham-se tempos de muita agitação, certamente muito trabalho. Terei que descobrir em mim um poço sem fim de energia (e, logo agora, que me sinto tão sem energia). Mas serão também tempos de grande expectativa, de recomeços, de vida nova. E isto a nível pessoal. E, a nível profissional, também.

Há bocado, por vídeochamada, ligou-me um dos meninos. Com mais uma ideia. A desafiar-me para outra novidade. Digo que não, não e não. Isso não. Tanta revolução na minha vida e ainda agora também mais essa? Não, não e não. Mas as tropas vão-se movimentando, vão querendo preparar-me psicologicamente para mais essa. Mas a essa resisto. Não pode. Contudo qualquer coisa me diz que o caminho se está a formar para que acabe por ceder -- embora mil soldados, dentro de mim, estejam em guarda para defender a minha vontade de não.

Há bocado também os meus filhos estiveram a trocar mensagens comigo e um com o outro: mais ideias, novos desafios. Com esse alinho mas está envolto em dificuldades que, neste momento, não sei como resolver. Nem eles. No entanto, acredito que a luz se há-de fazer. Só não sei é como é que consigo acomodar tanta coisa na minha cabeça.
E só sei que espero conseguir dormir até ao meio-dia a ver se descanso. Preciso de descansar. Preciso de não ter nada que fazer, ninguém a acordar-me, compromissos em cima de compromissos, horários a cumprir, tarefas a fazer. Por exemplo, ir ao supermercado. Perto da hora de almoço fui ao supermercado. Um carrego. E o protocolo de limpar, resguardar, não usar logo. E o calor e o incómodo da máscara. Tudo coisas que me fatigam demais.
Ah, e aconteceu outra coisa. E é das importantes, devia ter-me lembrado de a contar logo á cabeça. É que sou capaz de ter descoberto o lugar onde, um dia que tenha tempo, me sentarei a escrever. E essa perspectiva enche-me de impaciência. Parece que mal posso esperar para explorar essa hipótese, para testar se resulta. 
Penso, por vezes, que ando a alimentar uma ilusão e que vou inventando pretextos para a manter como ilusão nunca posta à prova. Mas, de repente, neste tornado de revoluções que, por um lado, desabam sobre mim e, por outro, loucamente procuro, parece estar a desenhar-se o lugar perfeito para materializar essa ilusão. Parece daquelas coisas. Quase como se um passarinho viesse a voar e, de repente, pousasse junto a mim e cantasse para me dizer: é este o teu lugar. Piu-piu.
Tirando isso, nada mais.

Só consegui almoçar já passava das quatro da tarde, já estava quase a cair para o lado. E só consegui jantar depois das dez da noite, varada de fome e perdida de cansaço. Agora são quase três da manhã. A casa está silenciosa. Tenho uma pequena coluna a rodar e a fazer frio na minha direcção. Sinto-me bem.

Como não vi notícias, fui ver se as havia. Parece que não. Só coisas sem alma ou frescura. Azedas de velhas. Azeredas de tancos. Não há pachorra.

E estranho que continue a ser dado palco a um certo correio-manhãzoso, um papagaio bem falante que para aí anda com bué de upa-lá-lá de populismo. Parece que organizou uma espécie de manifestação. E, em vez de ser ignorada, foi noticiada. Presumo que tenha sido uma vacuidade disfarçada de qualquer coisa mas, sinceramente, é tema que não me assiste. Animadores de rua ou actores de stand up para mim têm que ter mais do que apenas vontade de sê-lo. Se tiverem graça presto-lhes atenção. Se não, passo ao lado. Se, em cima da falta de graça, forem trafulhas, intelectualmente desonestos e meros vendedores de banha da cobra, então, faço tudo para passar bem ao largo. Tenho mais que fazer do que atirar pérolas a porcos.


E agora que aqui trouxe obras de Fausto Zonaro ao som de Blue and You pelas The Webb Sisters, vou pregar para outra freguesia, deixando-vos com um vídeo que francamente me deixou com um big smile interior. Quando é que alguém se lembra de organizar uma manif cheia de gags de chorar por mais, de patinhos, pombinhos, gargalhadas, cambalhotas, alegria e sonho? Bem, agora com esta coisa da porcaria do corona se calhar não dá. Ou talvez pudesse dar se alguém puxasse pela cabecinha, em especial pela que supostamente tem neurónios.



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A si que aí está desse lado desejo um feliz dia de domingo. 

1 comentário:

Paulo B disse...

Notícias realmente só as do costume, sem alma ou frescura. Mas, em termos de artigos de opinião, fiquei Siderado com este (infelizmente de alguém "queimado" no espaço público e que por isso pouca gente irá prestar atenção). Todos os pontos no sítio certo (na minha modesta opinião, claro):

https://www.publico.pt/2020/06/27/opiniao/opiniao/covid19-elitismo-1922076

Um abraço e boas energias para essas mudanças e para a semana que brevemente se inicia!