A vida da gente tem fases. Quero dizer, penso que tem fases. Mas sei lá se tem. E, se tem, nem me apetece falar disso. Não tenho sabedoria para me aventurar por caminhos de múltiplas derivações nem disposição para conversas que não levam a lado nenhum.
O que sei, e ainda assim também não sei se sei, é que o tempo vai andando ao nosso lado e a gente vai levando a nossa vida, umas vezes na boa, na leveza, outras deslizando sobre ele, sobre o tempo, na maior, na preguiça, veleiro sobre as águas em dia de ventinho amigo, outras vezes, quando o céu carrega e as nuvens escurecem, arrastamo-nos sob ele, esmagados sob o seu jugo inexorável.
E assim, andando pelos caminhos da vida, o tempo ao nosso lado, vamos criando laços e vão aparecendo novos caminhantes. Tecemos a nossa vida e, muitas vezes, distraídos, esquecidos da fragilidade do invisível fio com que a vida é tecida. Ignorantes de tudo, não queremos acreditar que um dia nos vamos despedir de alguns. É como se fossemos unos, carne da mesma carne, sangue do mesmo sangue. Mas o tempo e a vida são mesmo assim e um dia começam as perdas. Percebemos, então, que alguns dos que nos acompanhavam já não nos acompanham. Olhamos para trás, percebemos que vão ficando pelo caminho. Com tristeza o digo: vão ficando pelo caminho. E reconhecemos, com pena, que são cada vez mais os que ficam pelo caminho.
E vamos seguindo, sabendo que um dia seremos nós. Um dia serão os outros a prosseguir. Não estaremos cá para o lamentar. Talvez nos recordem. Mas isso já não interessará. O que interessa é o caminho que se faz enquanto se pode caminhar, lado a lado, partilhando o amor pelo mesmo caminho.
E vamos seguindo, sabendo que um dia seremos nós. Um dia serão os outros a prosseguir. Não estaremos cá para o lamentar. Talvez nos recordem. Mas isso já não interessará. O que interessa é o caminho que se faz enquanto se pode caminhar, lado a lado, partilhando o amor pelo mesmo caminho.
O tempo vai avançando. Ou, se calhar, não. Se calhar o tempo simplesmente existe. Existe independentemente de tudo. Nós é que avançamos. Em círculo. Do nada até ao nada. Talvez, de cada vez que um novo elo se move, um novo fragmento de espaço seja desbravado. Umas vezes adiante, outras para trás, outras para os lados. Mas isso de pouco interessa. O que interessa é o durante, durante a aparente inutilidade do movimento. Mas ainda assim, só fará sentido se for pela beleza do instante, pelo afecto que une os que caminham juntos, pela boa memória dos que ficaram para trás, pela esperança nos bons momentos que ainda teremos pela frente até ao fim do nosso próprio caminho.
Não sei muito mais o que dizer. Só que a força dos nossos passos e a força dos que vão ao nosso lado e à nossa frente nos fazem continuar a caminhar. Caminhamos. Sempre haverá quem caminhe mesmo que os nossos passos se detenham. Outros continuarão a percorrer o insano caminho, olhando em frente, descobrindo os que de novo se vão juntando, lembrando os que vão ficando pelo caminho. Um caminho infinito. O inexplicável devir.
Não sei muito mais o que dizer. Só que a força dos nossos passos e a força dos que vão ao nosso lado e à nossa frente nos fazem continuar a caminhar. Caminhamos. Sempre haverá quem caminhe mesmo que os nossos passos se detenham. Outros continuarão a percorrer o insano caminho, olhando em frente, descobrindo os que de novo se vão juntando, lembrando os que vão ficando pelo caminho. Um caminho infinito. O inexplicável devir.