sábado, fevereiro 01, 2020

Abaixo o Brexit.
Viva o sonho, o amor e o romantismo





Depois de um período no qual me senti chocada com o impensável a que se assistia no Reino Unido, agora entrei em modo 'nem aí'. Acho que isto do Brexit é coisa tão fajuta, tão mal engendrada, tão aborta que, na minha cabeça, é como se fosse coisa que se vai resolver por si. Há-de desaparecer, quero eu crer. Daqui por algum tempo os ingleses hão-de cair na real e hão-de dar um valente chega para lá nos anormais que os meteram nesta alhada. Embora pareça que sim, que o mundo está a derrapar e prestes a cair para o buraco que a malta toda anda a cavar, tenho uma vaga esperança que, aos poucos, a malta acorde e arrepie caminho. 

E espero que, nesse arrepiar de caminho, a malta volte a prezar a inclusão, a união, o estabelecimento de laços assentes na verdade, na generosidade, na construção de um futuro justo. Sonho com amanhãs que cantam, sou uma sonhadora, uma alienada.

A sombra que se me atravessa no percurso para o futuro radioso que quero antever é o receio de que a malta acorde tarde demais, depois o receio de que o percurso não seja linear e que, nisto, se percam anos preciosos e que, mesmo que a malta chegue a tempo à sua salvação, eu não viva o suficiente para acompanhar a caminhada até perto da alvorada que antecederá a entrada no jardim das delícias, das glórias, de todos os bons pecados e supremos gozos, dos cânticos, da igualdade e da absoluta e perfeita liberdade. 


Seja como for, pensar nisto também é bom. Basta que puxe o assunto à mente e logo imagino cores, melodias, mãos dadas, luzes, sorrisos, danças. E, se não me detenho, entro mesmo neste mundo maravilhoso e isso, como é fácil de perceber, não é muito conveniente uma vez que esse mundo ainda não existe.

Portanto, voltando à cold cow, estou em crer que esta macacada do Brexit há-de ser revertida e, cá na minha, capaz de nem durar muito, capaz de nem ser preciso esperar pela transformação da actual pangalhada num maravilhoso e esperançoso mundo novo.

Portanto, não vou falar deste mau passo. É da minha natureza.
No outro dia, um que trabalha comigo estava no meu gabinete, eu sentada à secretária e ele de pé, a conversar. Então dei com um buraco numa das mangas dele, no lugar onde a malha se ligava à cotoveleira. Pois bem: durante todo o tempo que durou a conversa, esforcei-me por não olhar para o buraco. Agora está na moda usar a expressão 'vergonha alheia'. Mas não era bem por vergonha alheia que eu não olhava para aquele descarado buraco ali a querer impor a sua presença, era pudor e não sei se era alheio ou muito meu.
Assim eu com o Brexit. Por pudor, não quero falar de uma coisa que os irá, um dia, envergonhar (isto em relação àqueles que ainda não sabem que vão arrepender-se e envergonhar-se).

Por isso, depois da sinfonia ineficiente, perdoem se me mantenho no registo de dar uso aos presentes que recebo, mas é o que me apetece -- e porque haveria eu de refrear os meus apetites? Ora essa. 

Agora é um vídeo muito bonito. Uma demonstração de amor, daqueles amores que aconchegam o coração, um amor com desenhos, sorrisos, provavelmente flores, provavelmente palavrinhas doces, promessas inocentes e boas. Uma presença de paz e afecto. Ser amada assim é uma benção e um homem que saiba amar dessa maneira suave, elegante e inteligente, tenha ele a idade que tiver, é uma fonte de felicidade para quem tem a sorte de receber as suas demonstrações de amor.


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Pinturas de Wolfgang Lettl ao som do Dream de Max Richter

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7 comentários:

Anónimo disse...

"Basta que puxe o assunto à mente e logo imagino cores, melodias, mãos dadas, luzes, sorrisos, danças."

Não há ditadura da felicidade sem pogrom dos melancólicos.

Paulo B disse...

Como diz o advogado Billy Flynn "all i care about... Is love"!
https://youtu.be/TfxoCicKvCc

A ver, a muito boa versão portuguesa. Em cena no teatro da trindade, com um excelente Miguel Raposo na pele do Billy!

Abraço! Bom fim-de-semana!

Ps: e amanhã tem concerto de inauguração dos carrilhões de Mafra!

Paulo B disse...

Aqui está ele https://youtu.be/xKA-j_GXfVs

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo sem nome,

O que é a melancolia? É saudade do que não se conhece e que não se sabe se alguma vez se conhecerá? Ou é um vazio inofensivo e brando? Ou é uma quase tristeza que contém uma quase esperança não se sabe bem de quê?

Pergunto porque não sei. A sensação que conheço e que intuo que seja, daquilo que experimentei, o que mais se aproxima com melancolia é a que sinto quando fico na cidade ao domingo e saio à tarde e, em algumas ruas menos movimentadas, sinto um silêncio um bocado opressivo, parece que a vida está quase em suspenso, parece que não se consegue sentir alegria porque a tristeza parece ter-se instalado nas ruas. Mas não sei se isso é melancolia. Creio que não.

Obrigada pela banda sonora que escolheu, gostei.

Um bom domingo!

Um Jeito Manso disse...

Paulo, olá

Ora aqui está uma bela associação de ideias. E logo com o Richard Gere, um velho chamego meu. Agora já está um bocado velho demais para o meu gosto... :) -- mas mantém o charme, concedo.

Não sabia que havia uma versão portuguesa. Ando desatenta. Agora que falou nisso, fiquei com a ideia de ter visto o cartaz. Já vi o vídeo. Parece bom. É que eu digo: as coisas que descobre. Vê-se que é pessoa atenta.

E os carrilhões em Mafra... não fazia ideia. Nunca os ouvi ao vivo, no local. Deve ser uma experiência única. Dicas preciosas, Paulo.

E um belo domingo!

Anónimo disse...

Melancolia é o que sentem Sísifo e Prometeu ao final do dia.

A melancolia reclama o vazio deixado pela inocência perdida na alma daqueles cujo orgulho incapacita para o amor e o medo para o ódio.

there's no peace for the wicked

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo sem Nome,

Sísifo, presumo, sentia frustração e cansaço embora talvez também coragem para não desistir; e Prometeu, imagino, sentia dor e injustiça. É isso a melancolia? Não julgaria.

Também não julgaria que fosse esse misto de fatal infelicidade, desilusão e desistência que descreve como o vazio que se segue à perda da inocência.

Imagino que talvez a incapacidade para o amor quando aliada a uma aceitação serena dessa incapacidade e aliada, ainda, à saudade de quando ainda não havia essa percepção e, portanto, de quando ainda havia esperança, possa ser melancolia. Melancolia, imaginaria eu, seria um misto de apaziguada saudade, de vaga esperança. Não?

O que também não percebo é isso de o orgulho ser de tal maneira que incapacite para o amor. Orgulho? Mas como? Achar que amar é sinal de vulnerabilidade e, por orgulho, não querer assumir essa vulnerabilidade? É isso que quer dizer?

E pode have paz para toda a gente, acho eu, mesmo para as pessoas mais inquietas. Prefiro falar em inquietação em vez de malvadez ou perversão. Pode haver. Acredito que sim. Pode ser mais difícil do que para as pessoas naturalmente tranquilas mas acredito que sim.

As músicas que escolhe são sempre invulgares e, à sua maneira, interessantes. Algumas muito bonitas. A forma como as escolhe intriga-me.

Uma noite descansada. Um dia iluminado pela paz.