sexta-feira, fevereiro 07, 2020

Beijo, a mais universal das línguas
[No pun intended]


Em dia de:
  • aprovação de Orçamento de Estado, com o PSD a andar às arrecuas e o deputado do six-pack a anunciar uma coisa e depois a fazer o oposto e, ainda por cima, de camisa vestida tapando a única coisa que poderia ter piada na bancada laranja, 
  • de notícia de prisão de traficantes de droga
  • e de que há mais casos no futebol com inquéritos a decorrer sobre fuga ao fisco, 
  • e isto já para não falar do mediaticamente omnipresente coronavírus 
  • e do Trump a limpar-se do impeachment e a gabar-se de uma forma vil e boçal, 
resolvo que, a esta hora e depois de um dia em que ocorreu um evento especial e sobre cujos efeitos colaterais tenho que tomar uma decisão nada fácil, não vou falar sobre nada disso. A esta hora tenho que dar férias à minha cabeça. Portanto, com vossa licença, permitam que os meus neurónios embarquem numa daquelas viagens de comboio que tanto me fascinam por esse mundo afora. (Comboio virtual, claro. Viagem virtual, claro. Mundo afora também virtualmente falando, claro.)

Mas explico por onde a virtual-viagem me levou: estando eu a querer ir para bem longe, deu-me para ir ver algumas Vogue. Há sempre lá coisas de bom gosto, nomeadamente boa fotografia. Estive a ver a Vogue russa, a Vogue japonesa e depois lembrei-me de ir ver a Vogue alemã. E foi aí que dei com um vídeo bem bonito. Já tem uma meia dúzia de meses mas faz pendant com o mood certo para me afastar de decisões difíceis. E, vendo o vídeo, está a apetecer-me dizer algumas breves. Permitam-me.

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Nunca fui muito de me achar mas, ainda assim, até há algum tempo eu supunha saber algumas coisas. Por exemplo, há uns anos eu atirar-me-ia sem medo para um texto sobre as diferenças entre os homens e as mulheres no que respeita ao desejo. Nem hesitaria. Diria que as mulheres precisam de um clima, precisam de tempo, precisam de afinidade, precisam de romance, precisam de beijos. Diria, também, que os homens não precisam de nada disso, precisam apenas de oportunidade. Talvez algum tempo depois, quando estava a aproximar-me da sabedoria -- que, em mim, é sinónimo de consciência da própria ignorância -- acrescentasse que, para além da oportunidade, os homens precisam da prévia certeza que qualquer avanço seu será bem aceite. Mais tarde ainda, acrescentaria que aquilo de que precisam mesmo é que a mulher dê o primeiro passo. 

Agora não. Agora sei que apenas tenho uma vaga ideia de algumas coisas e que é tudo falível porque, sendo tudo aquilo que acima disse a mais pura verdade, não é menos verdade que depende das mulheres, depende dos homens, depende da sua maturidade ou das circunstâncias.

Sei que uma mulher, em certos casos, pode passar por cima de tudo e, guiada por um inexplicável misto de certeza e de urgência, sentir-se a ponto de, às cegas, cair nos braços de um homem. 


Identicamente, sei que um homem, apesar de quase ter a certeza de que a mulher também está afim e que oportunidades não faltariam, pode preferir a dança pré-nupcial, prefere cortejar, exibir os seus dotes, prefere o prazer maior da sedução.

Ou seja, 'há casos e casos'. E saber isto, ou seja, nada, é tudo o que o meu percurso de vida me ensinou até hoje sobre esta matéria. Aliás, pensando bem, sobre qualquer matéria. 


E esta noção da fragilidade da minha compreensão destas coisas é ampliada pelo facto de que há mais binómios a ter em atenção: há o amor entre mulheres e o amor entre homens. E desses amores eu não sei falar. Por exemplo, 
  • as mulheres quando gostam de outras mulheres são todas encantamento e romance antes de passarem à fase do desejo sexual? Ou há casos em que a pulsão sexual não se compadece com compassos de espera e bora lá mas é ao que interessa? -- Não faço ideia mas admito que, da mesma maneira, haja 'casos e casos'. 
  • E entre homens? É tiro e queda e depois logo se vê se há alguma afinidade? Ou há casos em que, antes de mais, a coisa até parece estar mais na base da amizade ou da partilha de interesses, de ir beber um copo, ir ao café ver a bola, coisa assim a tactear a ver se dá ou se não dá? -- Também não faço a mínima mas, lá está, haverá 'casos e casos'
Seja como for, uma coisa tenho como certa: homens ou mulheres que não tenham alguma vez experimentado a emoção, o frémito, a doçura, a fusão, a vontade de deixar que os corpos se conheçam, fechando os olhos, beijando o outro com total entrega e esquecimento de tudo, não se aproximaram nunca do jardim das delícias, não ouviram a tentadora melodia do cântico dos cânticos. Em suma, não sabem o que é bom.
[Mas, claro, estão a tempo de tentar descobrir]. 

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E o vídeo é este. Para ouvir sem música de fundo.

Se puderem, fechem os olhos. Os beijos querem-se de olhos fechados.


Zwei Lippen, die sich sanft berühren. Langsames Ein- und Ausatmen und unendlich lange Blicke, bei denen man sich ganz im anderen verliert. Das vollkommene Auflösen im anderen und schwerelose Entfliehen der Realität. Gefühle, die man nicht in Worte fassen kann und will, im Moment sein und nicht mehr wollen, als das Hier und Jetzt – kaum etwas lässt uns die Realität für einen Moment vergessen, wie das Küssen.
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As mulheres foram fotografadas por Francis Giacobetti e o homem por Herb Ritts
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Volto aqui para dizer uma coisa. Estou com vontade de contar uma história (verídica) e tive esperança de que ainda conseguisse. Mas ponho-me a responder aos comentários, distraio-me, deixo o tempo passar. Agora já não consigo começar outro post. Talvez fique para amanhã. Portanto, passo já para as despedidas.

Uma happy friday

4 comentários:

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Ai que regalo, que maravilha!
Viva eros!

Um belo kickstart no fim-de-semana.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Spring is coming. Tempo de passarinhos, de florzinhas, tempo de amor, tempo de dar vivas à vida.

Um belo sábado!

Anónimo disse...

Pintelho de mulher quer-se aparado, ou rapado. Regra de ouro! Não é caso numa das fotografias.Estamos no século XXI.

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo primo do Catroga,

O século XXi é o século da liberdade das mulheres. Portanto, deixe-se lá de fundamentalismos que já não estão com nada...