E o que se passa é que, de deriva em deriva até à deriva final, desaderi completamente de preocupações sobre o futuro da humanidade. Fica para outro dia. O futuro pode esperar ou, se não pode, paciência, hoje não leva nada daqui.
E não foram só os nice casaquinhos de tricot, foram mesmo os testes. Testes de personalidade a sério. Coisa afiambrada. O bife do lombo dos assessments. Cada um melhor que o outro. Já fiz uns poucos. A cada um vai uma macacada do dia abaixo. Fui também ver o que os astros dizem. Confere. Contratempos, atrasos, mal entendidos. E, se querem saber, já em tempos me documentei sobre isto dos astros. Um livro escrito por um matemático. Teoria das probabilidades. Podia aqui desenvolver o tema mas hoje não estou para coisas até porque a estatística, por si só, apenas atesta, não explica.
Mas, portanto, ao longo do dia, as cenas foram-se empilhando e eu só desejando que chegasse a hora de atravessar a cidade a ouvir a antena 2, coisa tão boa, logo eu levada dali para bem longe, já distante, e depois fazer a minha little caminhada, depois fazer os meus telefonemas bons, ouvir as vozes que me aproximam daqueles que mais amo. E eu já mais levezinha, as maçadas esfumando-se.
E depois, então, aqui chegada, em porto seguro, os testes. Coisa boa onda. Coração ao alto.
Pelo meio, fui ainda espreitar o panda enfadado. E logo me desatei a rir. Fotografias feitas no autocarro. Uma colecção de fotografias organizadas pelo lituano Rokas Stasevičius. Humans of Trolleybuses. Uma, em particular fez-me mesmo rir. Lembrei-me de mim. Uma vez estava eu sozinha in heaven, foram lá uns electricistas fazer uns arranjos no estúdio. Naturalmente, não andei de volta deles mas, às tantas, resolvi ir lá ver se estava tudo bem, se precisavam de alguma coisa. Enquanto falava, reparava que eles deitavam um olho furtivo ao meu cabelo. Pensei: terei algum cabelo fora do lugar para não conseguirem disfarçar que estão a olhar? Parvos.
Claro que, logo que acabou a conversa, fui ao quarto ver-me ao espelho. Detesto sentir que me observam. Só se for os olhos e, ainda assim, só se me apetecer ser invadida por aquele invasor em particular. Tirando isso, incomoda-me. Penso: terei um brinco de cada cor? uma lagarta a trepar pela gola? E assim estava naquele dia. Estupores dos homens, pensava eu, furiosa com eles. E, então, descobri. Tinha estado a pentear-me e, às tantas, tinha tocado o telemóvel. Fui atender e o pente ficou onde estava quando soou o toque, no cabelo. Um pente encarnado, de cabo. Nem queria acreditar. No meio da minha farta cabeleira nem tinha dado por ele, e se era grande... Pensei: gaita, estúpidos dos homens.
E pronto.
Bem. Isso das fotografias do autocarro. Ganda naice. Esta aqui abaixo, então, é deliciosa. Ganda, ganda naice. Um animal de estimação como este nunca eu antes tinha visto.
Bem, mas, então, quanto aos testes. Mesmo bons. Coisa científica. Fiz agora um que revela quão dirty é a minha mente. Dirty, my ass. Pensei: vai atestar é a minha santidade. A Santa Ujota Éme vai aqui ser sacramentada. Vou transcrever o resultado, qual diploma, e exibi-lo ao mundo para que possam pôr-me no altar, rezar-me novenas, fazer-me promessas, depositar flores a meus pés.
Pois, pois. Eu nem aqui devia confessar o resultado não vá vocês serem de acreditar nestas baboseiras. Só transcrevo porque, se isto é uma espécie de diário, fica aqui registado que tirei o dia para me dedicar ao estudo do efeito da fumaça na Índia no miolo das santas em Portugal.
Resultado: 90% dirty mind, 10% innocent.
Pimbas. A Sta tem é que ir de castigo para ver se atina, essa é que é essa.
If there is any dirty way to see a picture you will see it that way! Even if the image is completely innocent...the first thing that pops into your mind is dirty. This means that you are an extremely open person and there are not many topics that make you uncomfortable!
Nem traduzo para não estragar.
Para ver se neutralizava a sentença, fui fazer outro, desta vez para descobrir traços inesperados da minha personalidade. Pensei: na volta o tipo ainda vai descobrir coisas de que nem eu suspeito. Toda curiosa. Serei assim? Serei assado?
Pois bem: o 'sujeito' ficou todo baralhado. Para se limpar da sua incompetência, saíu-se com esta: um enigma misterioso.
The Mysterious Enigma.
You are an enigma! It's not even possible to categorize you into a personality type because you are so complex and layered. You're part introvert, part extrovert. You have scientific, creative, diplomatic and executive qualities that would make any psychologist deem you a personality chameleon. A very small percentage of the population exhibits such a variety of different and contradictory character traits. You are a unique and rare puzzle!
Lembrei-me, na empresa, do psicólogo na reunião de veredicto depois de na véspera me ter interrogado durante horas e de ter analisado um questionário longo, longo, longo a que eu tinha respondido antes: you are one of a kind, senhora. Pedi explicação. Respondeu que nunca tinha conhecido uma pessoa assim.
Não sei se é bom, se é mau mas, a mim que sou uma simplória, soa-me bem. Significa que, em dias de tremenda ociosidade e à falta de melhores mistérios, sempre poderei entreter-me com os meus. Isto se tiver paciência, claro.
Não sei se é bom, se é mau mas, a mim que sou uma simplória, soa-me bem. Significa que, em dias de tremenda ociosidade e à falta de melhores mistérios, sempre poderei entreter-me com os meus. Isto se tiver paciência, claro.
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As duas últimas fotos dos post provêm do site dos quizzes e são as que, lá, acompanham os meus dois veredictos. A música lá em cima acho que vem aqui mesmo a calhar. Crianças coreanas, muito engraçadas e bem amestradas. Salvo seja, claro.
E agora queiram fazer o favor de descer até ao post amalucado aqui abaixo.
Beijinhos e abraços.
4 comentários:
"Os portugueses são as pessoas mais tristes do mundo porque escabujam incessantemente naquele imenso mar de melancolia que fica entre o que poderiam ter sido e aquilo que gostariam de ser."
Pente no cabelo - já me aconteceu algumas vezes: digo, com a discrição possível, a dado cavalheiro que tem a braguilha aberta e, sem surpresa, o referido cavalheiro mostra-se indignado com quem o previne... (de volta ao kilt, rápido e em força, sugiro eu.)
(homens corteses versus mulheres belas mas inacessíveis)
"Desculpe, ficou com o pente preso no cabelo."
"Ah, sim! Que distracção... Obrigado."
Quase mestre em distracções, essa do pente nunca me aconteceu, bem...falta-me a farta cabeleira. Até há uns testes "jeitosos" de personalidade, mas normalmente não são pagos e bem pagos. Uma vez aproximei-me de uma empresa que fazia esse tipo de coisas e fiquei espantada com o preço da coisa e com a máquina que existia por trás (por exemplo uma licença só dá acesso a x testes).
~CC~
Oi El Mucho Bad,
Começo pelo óbvio: esse seu nome é extraordinário. Gosto. E tiro o chapéu à sua inteligência.
Eu, se vejo um homem com a portinhola aberta, não me dá jeito dizer, faço de conta que não vejo. Tenho é que fazer um esforço danado para os meus olhos não darem cabo da minha boa reputação pois tenho sempre a noção de que, sem querer, é para lá que eles se sentem atraídos. E não é por nada, é mesmo só porque.
E concordo que os portugueses são umas carpideiras e umas maledicentes agoiradeiras, sempre a quererem que tudo corra mal, sempre a embirrar com quem está bem, sempre descontentes com tudo. Mas eu fujo à regra.
E o meu Caro Mucho Bad? Melancólico, fatalista, certo?
E gracias, uma vez mais, pelo presentinho escondido. Gostei mas olhe lá aquilo do toxic não era para mim, pois não?
Olá ~CC~
Nas empresas por onde tenho passado, volta e meia somos sujeitos a assessments (que agora nem sei como traduzir): questionários, entrevistas, sei lá. Reviram-nos. Eu, por acaso, gosto. Dão-nos depois um relatório em que nos descrevem por dentro e por fora. Dissecados em vida. E são empresas que levam pipas de massa para o fazer e sei que esses questionários se pagam pelo uso e que são caros. Portanto, em casa, deito mão a estes que são, para mim, um momento para descansar a cabeça. E acho-lhes piada. (Sabe que não bato bem da bola, não sabe?)
Abraço, ~CC~
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