sábado, setembro 21, 2019

Não sou eu que o digo, é o Harrison Ford.
E, felizmente, não apenas ele mas muito mais gente em todo o mundo.


Temperaturas médias em Portugal de 1901 a 2018 usando dados de Berkeley Earth.


Estamos encarnadinhos, quentinhos. E eu que, como é sabido, sou tão encalorada... Como será isto quandos os meus filhos tiverem a minha idade? E os meus netos? Conseguir-se-á respirar? Haverá água para beber? Terra para pisar? 

Ou, até lá, o mundo inteiro ganhará consciência de que a destravada deriva consumista, a poluição, o consumo desregulado de recursos finitos e tudo o mais que possa enunciar-se estão a levar o planeta à exaustão e ao desequilíbrio das forças que o mantinham sustentável?

Espero que seja a segunda hipótese e que este mundo ainda consiga salvar-se. Claro que poderá toda a gente mudar de hábitos e todos os governos serem forçados a pôr no terreno medidas urgentes de contenção e revitalização... e um belo dia cair-nos um big meteorito em cima e bye-bye maria ivone, lá vai tudo desta para melhor. 

Mas -- admitindo que isso só acontecerá daqui a cinquenta milhões de anos e que até lá seria bom que o planeta se mantivesse azulinho e branco, pontilhado a verde quando visto mais de perto -- é melhor que nos deixemos de aventurinhas mediáticas ou ocos sound bytes usados como arma de arremesso partidária ou graçolas dialécticas tais como joguinhos florais ou batatinhas sem bifes a cavalo pois o assunto é sério, requer que a ciência (vários ramos da ciência) trabalhe em registo de urgência, de integração e com visão estratégica, requer enquadramento político, requer união de esforços e muito foco, requer que a mesquinhez de rivalidades clubíticas ou fundamentalismos próprios de seitas sejam postos de lado. Paradoxalmente requer também serenidade, requer ausência de catastrofismo, requer tino, muito tino.

O tema felizmente saltou para o primeiro plano da ordem mundial e este é daqueles casos em que ninguém deve recear que os outros pensem que é moda e critiquem quem a ela adere. Que critiquem. E, de resto, pensando melhor, exijamos que seja moda, que seja obsessão. É bom que seja. Mas uma moda e uma obsessão com base, enquadramento e contornos científicos.

Daí que hoje, dia em que milhões de pessoas em todo o mundo saíram à rua a exigir reformas urgentes nestas matérias, aqui volte outra vez ao tema e partilhe um vídeo que vos convido a ver. Embora se perceba bem o que o Harrison Ford diz, para quem não pesque bem em águas de língua inglesa, as legendas em português podem ser activadas.

Se não protegermos a natureza, não conseguiremos proteger-nos a nós



Termino com as temperaturas médias do mundo numa escala temporal mais ampla que o anterior, aqui entre 1850 e 2018.

E, também aqui, se vê como, globalmente, o grau de aquecimento aumenta consistentemente de forma assustadora.


How the #ClimateStrike travelled around the world



8 comentários:

Anónimo disse...

Olá Ujm, o tema, como refere, é muito sério e não é tempo de divisões entre quem está preocupado com ele. Razão pela qual não me impressiona que a universidade de Coimbra proíba a carne de vaca ou que o número de vegans duplique, embora eu continue a dar bifes aos meus filhos. Tenho seguido outros caminhos de redução que são igualmente válidos. O que interessa é que façamos todos alguma coisa no sentido de reduzir a pegada ecológica e que plantemos. É preciso plantar muito. Eu tenho tentado. Faço caminhadas e levo sementes e pequenas árvores e vou plantando, mas o interior de Portugal ainda está muito árido de todos os incêndios que continuam a queimar as nossas florestas. Vejo muita gente a falar que é preciso reflorestar, ouço há anos sobre um ordenamento do território que nunca mais acontece, as câmaras do interior (salvo excepções) estão à espera de subsídios e o que o PS plantou foi o que o Costa meteu na terra em frente às televisões. Muito pouco. Não temos moralidade para falar de outros países quando o nosso está muito mal governado neste aspecto. Depois leio incrédula propostas da população para que coloquem os presos a fazer a reflorestação, como se a responsabilidade de isto andar assim fosse dos criminosos e o cidadão comum só precisasse da dar opinião e mandar os outros resolver os problemas. Há uma ou outra associação que está a meter as mãos na terra mas é muito pouco. Plantar é o que eu digo. Plantar, plantar muito. Um bom fim-de-semana para si e para todos e que plantem muito que é o que eu vou fazer este fim de semana. Ana

Anónimo disse...

Quando o Sr Ford é referido como autoridade nesta matéria....que pode um leigo fazer senão curvar-se em reverência ?

:)

MRocha

Anónimo disse...

PAN !

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Muito por causa do seu comentário escrevi o post 'Que fazer quando a nossa casa está em chamas' (https://umjeitomanso.blogspot.com/2019/09/que-fazer-quando-nossa-casa-esta-em.html)

É que florestar é necessário mas isso é uma ínfima parte do que é necessário fazer. E nem todas as árvores são indicadas em todos os terrenos. Ou seja, sim, é um esforço que deve ser feito mas só por si não é solução e algumas árvores em alguns locais podem não ser solução de todo.

E isso dos presos a plantarem árvores quando o ouvi também fiquei admirada mas, pensando melhor, parece-me uma ideia interessante. Não o veria como punição mas como uma forma de aquelas pessoas estarem ao ar livre e a fazerem um trabalho útil para a comunidade. Cada vez mais se percebe que manter as pessoas presas em celas, muitas vezes sem condições e superpovoadas, mais do que trazer-lhes oportunidades de reaprendizagem de uma vida sã em sociedade, é uma forma de os introduzir no verdadeiro mundo do crime. Tudo o que seja integrar os presos em programas de serviço à comunidade e deixá-los 'respirar' me parece bem.

Mas, enfim, Ana, há situações em que temos que dar as mãos e perceber que todos somos necessários e que todas as ideias devem ser avaliadas e, por isso, gostei de ler o seu entusiasmo e imagino-a a caminhar e a plantar árvores.

Um abraço verde!

Um Jeito Manso disse...

Ah Caro Mrocha...

Não, tem razão, Harrison Ford é apenas um actor. De base, creio que tem formação em filosofia. Não será biólogo, engenheiro florestal, geólogo, agrónomo, zoólogo, economista, sociólogo, antropólogo, urbanista, etc.

Mas é uma voz conhecida, é uma pessoa respeitada. E sabe dizer, sabe fazer passar uma mensagem.

E se muitos mais como ele forem levantando a voz e se a mobilização for relevante, anormais como Trump ou Bolsonaro -- que desprezam o ambiente, a ciência, que não estão nem aí para as alterações climáticas -- sentir-se-ão mais isolados e com menos força para as suas criminosas políticas.

Eu, pelo menos, penso assim. Acha que não?

Abraço.

Um Jeito Manso disse...

Anónimo, anónimo...

PAN?! Não senhor.

PIM-PAN-PUM, cada bala mata um.

(Tenho ideia que era assim a letra daquela inocente canção infantil, aquela do copo com veneno)

O PAN tem os seus méritos, tem sim, mas tem também muita parvoíce lá misturada. Há que dar alguma atenção ao PAN para que não derivem para o autoritarismo ou fundamentalismo ou para que, por isso, não seja desprezados. Ou seja, há que ajudá-los a encontrar o seu rumo.

E, se encontrar o tal copo (que parece que estava em cima do piano) veja lá não beba o que está lá dentro, ok?

:)

Anónimo disse...

Olá Ujm, eu não ando só a plantar carvalhos, loureiros e laranjeiras, ando também a reduzir há já uns anos. A pegada ecológica dos portugueses é de 2,2 o que significa que temos de melhorar cerca de 60%. Também não acho que plantar seja uma punição (eu faço-o com prazer) penso apenas que há uma desresponsabilização pessoal de quem arranja soluções em que são os outros a resolver as questões. Embora a minha consciência ambientalista não seja de agora, tenho ouvido muito a Greta, e o que ela diz é que devemos nos informar. Tenho-o feito e cada vez estou mais preocupada. Também me chateia este crescente clima de conflito intergeracional mesmo entre quem está do mesmo lado. A minha mãe com mais de 70 anos foi das primeiras a abolir com o saquinho de plástico para ir ao supermercado, porque também ela pensa no futuro dos netos. Terminando os comentários que também já se prolongaram demais, uma das minhas últimas tomadas de consciência foi a quantidade de energia que o planeta gasta para manter o registo da informação das redes sociais e afins. Biliões de kW gastos a arrefecer instalações e manter a trabalhar servidores que têm como função registar o que disse, quem, a quem, quando, visto e comentado por mais aqueloutros, sobre principalmente futilidades e estupidezes! Não digo fechar as redes que hoje em dia são o nosso meio de comunicação, mas apagar 60% de palermice sobre assuntos que antes ficavam na esfera familiar ou no café, não era mau! Ana

Um Jeito Manso disse...

Olá Ana,

Só para lhe dizer que gostei do que escreveu, concordei e... fez-me rir (com essa de apagar grande parte das palermices que as pessoas publicam).

E quero ainda agradecer as suas palavras pois a sua opinião e a informação que partilha e o seu exemplo -- tudo importante e útil.

Muito obrigada, Ana.

E desejo-lhe uma bela semana!