sábado, janeiro 19, 2019

Modas muito sofisticadas, muito à frente,
em noite de memórias e risos


Estive a ler: rir faz bem. Sei disso muito bem. Rir liberta. Rir atrai o riso, o riso oxigena o sangue, o riso traz energia. O riso é contagiante. 

Rio bastante. Mesmo se estou aborrecida, mal me distraio já estou a rir. Muitas vezes vou no carro, lembro-me de coisas que me divertiram e desato a rir-me. Vou no carro, sozinha, e na maior galhofa. 

Ainda hoje ao jantar: o meu marido serviu a sopa e, como não aprecia, pôs na minha tigela todas as couves de bruxelas. Parecia um lago coalhado com cabeças de hipopótamos à superfície. Desatei a rir de tal maneira que ele, que não é gargalhadeiro, também desatou a rir.

Quando o meu filho era pequeno fazia coisas que nos desconcertavam e que, quando a posteriori, nos faziam rir até às lágrimas. Ainda hoje. A minha filha contou aos filhos e eles gostam de ouvir. Se a ouço a contar, desato a rir, a chorar a rir, como sempre. 

Por exemplo. Nem sei se já contei. Ele era pequeno e andava no karaté. Uma vez, de noite, levantei-me para ir à casa de banho. Nessa altura o meu quarto não era suite, a casa de banho era no corredor. Dormia apenas com uma tshirt branca. Fui às escuras. Ia pé ante pé para não acordar os miúdos. Nisto ouço um grande grito gutural e um pequeno vulto quase a voar. Dei um grito de todo o tamanho, sem perceber que ser estranho me estava a atacar. Alguém acendeu a luz. Eu tremia. Tinha sido o meu filho. Ouviu um ruído, saíu do quarto e viu uma tshirt branca a flutuar, pensou que era um fantasma e, acto contínuo, tentou aplicar-lhe um golpe de karaté, um pontapé em pleno voo enquanto da garganta lhe saía um grito marcial.

O que esta cena me tem feito rir ao longo dos anos.

Outra vez, no campo. Nessa altura ainda não havia vedação. Eu ia sozinha, passeando devagar. Então, do outro lado dos arbustos, comecei a ouvir uns estalos. Eu andando e o som dos estalos a acompanhar-me em paralelo, sem eu ver o que era. Comecei a assustar-me. 

Acelerei o passo e os estalos do outro lado a acompanhar-me. Já com medo, resolvi subir de volta para casa. Às tantas, comecei a correr e a ouvir os estalos atrás de mim. Mas a subir e cheia de medo, parecia que estava presa. Nisto vejo a minha filha. Quis avisá-la de que estava a ser seguida mas a voz quase não me saía. A custo, enquanto tentava escapar, disse: 'Um cavalo'. Achava que estava a ser seguida por um cavalo. A minha filha olhava incrédula. 'Onde?' e eu aflita: 'Atrás de mim' e mal me saía a voz. E ela espantada disse que era o irmão. E eu, a medo, olhei para trás. Era ele. Parou também muito espantado. E eles: 'Mas onde é que está o cavalo?'. E eu, ainda a recompor-me: 'Ouvi. Vinha atrás de mim... ouvi os estalos'. E eles: 'Um cavalo...? Mas onde é que um cavalo dá estalos...?' A minha filha pôs-se a imitar-me, a correr em câmara lenta, os cabelos ao vento mas também em câmara lenta, uma vozinha de nada: 'um cavalo...'. Por fim eu já chorava a rir. Não sei o que me passou pela cabeça. Nem pensei se era alguém a dar estalos para conduzir o cavalo, se era só o cavalo. O meu filho espantado com aquilo tudo. Mas ainda hoje penso que ele quis assustar-me. Mas era ainda um puto, não assustava ninguém em seu pleno juízo. 

E eu, de cada vez que me lembro dessa minha parvoíce tão ridícula e da minha filha a imitar-me, desato a rir. 

Ou outra vez, teria ele uns quatro anos. Tempos antes, meses, tínhamos ido a Madrid pelo Carnaval e tínhamos-lhe trazido um fato completo de gladiador em plástico cor de bronze, parecia metálico. Num certo dia portou-se mal como tantas vezes acontecia. Eu zangava-me, ameçava-o, dizia que, se continuasse, me zangava a sério, que, se não parasse, apanhava. E, então, nesse dia, fugiu e, para meu espanto, instantes depois apareceu-me no hall a desafiar-me, todo equipado, um pequeno gladiador: 'Vá. Agora podes vir! Bate!'. Um fedelhito, todo mascarado, a desafiar-me. Desatei a rir, a rir. E ainda hoje rio, enternecida, divertida.

E, para ilustrar este insignificante texto, escolhi estas fotografias que mostram algumas maluqueiras a que há quem chame moda. Há muito mais no Panda Entediado



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E queiram seguir até ao John Bercow, o espantoso Mr. Speaker

[E ainda não é hoje que mostro o extraordinário alfarrabista]

10 comentários:

Anónimo disse...

Olá Cuidadora de Árvores,

Acabei agora de ver na rtp-2 um fabuloso documentário sobre árvores:
"Judi Dench: My Passion for Trees"
É de uma beleza incrível e ensina coisas extraordinárias acerca destes seres vivos tão especiais.
Não deixe de ver, estou certa que vai adorar.

Bom domingo!
🌲L

Pôr do Sol disse...

Boa noite UJM,

Curioso, quando comecei a ver o documentário acima referido, lembrei-me de si e dos passeios e descobertas pelo seu Paraíso.

Nada me encanta mais que um passeio pela natureza, mas uma visita assim guiada tem outro encanto.

Concordo com o comentador acima, vai certamente gostar.

Bom fim de semana.

Isabel disse...

Para adoradoras de árvores, como eu, recomendo o livro "O homem que plantava árvores" de Jean Giono. Conhecem? É muito bonito!

Estas modas são coisas parvas. Mesmo que seja só para mostrar criatividade e espectáculo, que é também o que se pretende num desfile, acho que há um exagero parvo. Hoje em dia as coisas parvas e desajustadas parece que são o normal.
Enfim...cada um fará as suas escolhas e há espaço para todos desde que não se interfira com o espaço dos outros.

Beijinhos e um bom domingo:))

Anónimo disse...

Olá Isabel,

Esse livro é uma pérola, claro que o tenho (e não diga a ninguém, mas a dona aqui desta "sala" também o tem, disse-me ela há uns tempos).
E a Isabel viu o documentário?
Vale mesmo a pena.
E hoje temos aqui um belo dia de sol, Isabel.
Beijinho

Maria

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

A memória é uma coisa tão boa, recordar, recontar e rir, rir, rir!
Claro que nada disto tem a ver com saudosimo, que é algo a resvalar ao patológico, como que uma recusa em viver a riqueza própria de cada época da vida.

O seu filho devia ser cá um malandreco de marca X ;)

Um bela semana, rica UJM.

Um Jeito Manso disse...

Olá Ms Tree Lover,

Não vi, estava noutra. Só vi televisão já a noite ia alta. Terei que pôr a box a andar para trás.

Mas já uma vez vi e fiquei encantada. Mas creio que não foi na RTP, já não me lembro.

E claro que gostarei. Adoro ver vídeos sobre jardins, bosques, montanhas.

Obrigada pela dica!

Um Jeito Manso disse...

Olá Pôr do Sol,

Pronto. O reforço da sua opinião já me levou a passar à acção. Já estou a pôr a box para trás. Vou ver e com certeza que vou gostar imenso.

Obrigada.

Beijinhos, Sol Nascente.




Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Como já deve ter lido noutro comentário, já li, sim senhora, esse livro. E amei, amei, amei. É um livro especialmente estimado da minha biblioteca. A ideia de transformar terra inóspita num bosque, numa floresta, é-me particularmente querida.

E sim, também concordo que modas estapafúrdias são um perfeito nonsense. Só se servirem para a gente se rir delas.

Uma bela semana, Isabel!

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Tem razão: o meu filho tirava-me do sério. E à irmã ainda mais. Agora tira os filhos do sério. E a mulher. O meu filho é que sempre aceitou pacificamente a maneira de ser do filho.

Todos temos peripécias a contar das maluqueiras dele. Divertimo-nos a recordá-las. Estou certa que os amigos também pois é uma pessoa ultra gregária, vive rodeado de amigos (para quem gosta de cozinhar). Caranguejo como a mãe...

Abraço, Francisco, e uma semana em grande!

Isabel disse...

Ontem ainda estive a ver o documentário, que encontrei na net, mas acho que está imcompleto. Dura cerca de 43 minutos e depois acaba. Não sei se falta muito, porque chegou à última estação. Apesar de tudo creio que está incompleto. É extraordinário. Hoje, se ainda tiver tempo, vou voltar a vê-lo. Obrigada pela sugestão.

Boa semana:))