domingo, junho 03, 2018

Na boa, com cachola para o jantar



Já eram oito e meia quando entrei em casa. De tarde, quando chegámos, fui para a espreguiçadeira, ao sol, de biquini, a ler. Tem graça o livro. Não tem um fio condutor evidente e eu gosto de ler coisas assim, sem grande sequência. Memórias, apontamentos. Fluidez na escrita, sentido de humor. Ali ao solinho com uma leitura gostosa, é caso para dizer: tá-se. 

Depois fui lá abaixo ver o que o meu marido andava a fazer. Está um verdadeiro camponês.
Hoje fez-me rir: disse que eu quero podar aroeiras como se fossem bonsais. E até achei uma boa ideia. Será o próximo passo: dar formas rebuscadas às árvores do campo...
Tinha estado a cortar tojo que tenta passar despercebido no meio do alecrim, e silvas -- que frequentemente trata por 'estas putas' -- e, de pá na mão, preparava-se para tirar a cinza do bidão.


Fui lá para cima, acabar a faena à qual tinha estado entregue de manhã: varrer à volta da casa, debaixo do telheiro, junto ao forno de lenha, junto do jardin zen. Mas, primeiro, fui vestir as minhas leggings e o meu top, já estava a ficar fresco. Há folhas por todo o lado, em especial folhinhas miúdas de azinheira mas também folhas de plátano e caruma, bolotas secas, de tudo um pouco. Acresce que o pó se junta e acaba por se formar uma camada de terra fininha onde a erva não se ensaia nada para despontar.

Tenho que andar com um ancinho a raspar, senão a vassoura não consegue arrancar aquelas crostas de terra misturada com toda a espécie de folheiragem. 


Estou contente porque descobri finalmente aquilo que procurava há que tempos. Uma pá de cabo alto, toda de metal. Afinal, estava na secção de drogaria. Sempre as procurei na secção de jardinagem. Com esta pá consigo um rendimento superior. Com as pás de plástico, domésticas, era uma chatice, não tinham força nenhuma, partiam-se.

Encho carrinhos e carrinhos com o que apanho e que depois levo para a zona dos pinheiros.

Mas, antes, quando fui a casa vestir-me, tinha posto a carne ao lume. No outro dia, num restaurante típico, comi uma coisa muito boa: cachola. Hoje, no talho do supermercado da vila, vi um recipiente com umas coisas cortadas aos bocados. Perguntei à senhora se era àquilo que chamavam cachola. Disse que sim, ou cachola ou fressura. O meu marido não queria, o aspecto daquilo e o saber o que é não lhe agrada. Mas acho que vai gostar.


Fiz assim:
Num tacho pus azeite, alho, cebola e folhas de louro. Frigiu levemente. Depois coloquei a dita cachola com uma cenoura às rodelas. Salpiquei com sal, coloquei mais outra cebola aos bocados por cima. Ficou ali a cozinhar enquanto andei a varrer.
Quando regressei, juntei batata doce (daquela bem amarelinha), feijão verde e um tomate. Não coloquei nem uma gota de água. Envolvi bem e juntei um ramito fresco de alecrim. Fui agora ver e já estava no ponto. Juntei um pouco mais de azeite e um pouco de vinagre de modena. Envolvi.  Desliguei. 
Recende que dá gosto.


Depois vos direi se foi aprovado. Agora está a ver o jogo da selecção, por isso posso aproveitar para escrever antes de jantar..

Por razões que agora não vêm ao caso, fomos a uma cidade de que gostamos bastante e, depois de um belo almoço, por lá passeámos durante a tarde. Agora, por todo o lado, se constata que as pessoas começam a curtir o ar livre.

Os tempos em que as terras estavam desertas e a pouca gente que se via tinha um ar ensimesmado parece que, felizmente, já lá vai. As esplanadas estão cheias, os jardins bem frequentados, um grupo fazia ioga, há crianças, gente a apanhar sol. E eu, feliz e descansada da vida, vou observando, fotografando.  São de lá estas fotografias que aqui partilho convosco. 


Faz de conta que estou de férias. A minha mãe, há bocado, ao telefone dizia-me que eu precisava de tirar férias, a ver se descansas, diz ela. Mas eu, dormindo bem, não tendo mails a chegar a todo o minuto ou gente a vir ter comigo para me dizer que 'temos um problema', e podendo passear, tendo possibilidade de varrer, podar árvores, cozinhar, fotografar, ler, já me sinto descansada, feliz da vida. 

E agora, com vossa licença, vou jantar.

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Pois, então, cá estou para dar o feedback: comeu que se fartou, disse que estava bom, mas não tocou no pulmão, faz-lhe impressão a consistência que diz que é esponjosa. Eu é do que gosto mais. Ficou-se pelo fígado e até ao coração torceu um bocado o nariz. Portanto, estou a ver que não vou poder reincidir com a frequência de que gostaria. Só se , para ele, juntar carne. Se calhar é isso que farei.