sexta-feira, junho 01, 2018

Já fiz 35 anos há algum tempo e ainda não consegui nada disto...


No outro dia li uma coisa que era o que todas as pessoas que já fizeram trinta e cinco anos já deveriam ter feito. Coisas como, por exemplo, ter arranjado uma cadeira ao lado da cama para pôr a roupa que se tem preguiça de guardar e que não está suficientemente suja para ser lavada. Cada um dizia sua coisa. Ter um armário só para tupperwares, era outra. Coisas assim.

Pus-me a pensar no que eu escreveria. O que quereria eu ter feito ou tido até aos trinta e cinco anos? Pensamento meio fútil ou meio palerma, esse. Porquê aos trinta e cinco? É metade da vida útil? Não creio. Ainda hoje de manhã estive com a minha mãe que, aos oitenta e cinco, está elegante, ágil, sempre activa, sempre bem disposta, sempre com planos. Por vezes, acho-a mais jovem agora do que a achava aos quarentas e tais.

Por isso, o que me ocorre é o que eu gostaria de ter feito em qualquer idade e que, a bem dizer, espero ainda vir a ver esse desejo realizado. Enumero algumas coisas.

1 -  Dançar o 'Por una cabeza' com um homem que saiba conduzir-me de modo a que eu me sinta a mais leve e desejada de todas as mulheres.

Nunca dancei um tango a preceito. Uma lástima: nenhum dos homens da minha vida gosta de dançar.
Escrevo no presente embora a certeza do que digo, na actualidade, só a possa ter em relação a um deles. Dos outros presumo que, com a idade, não tenham adquirido pé para a dança já que, quando com eles dancei, era slow, slowzinho bem gostoso, mas não passava daí.

2 - Ter uma casa com um grande sótão que, a toda a volta, tivesse estantes e tudo bem organizado, os livros todos bem à vista, os lidos de um lado, os não lidos de outro e sempre no lugar certo, os de poesia portuguesa, os de literatura francesa, os russos,os americanos, os brasileiros, as biografias, as autobiografias, os epistolares, os textos à solta, os indefinidos. Os de história, os geografia, os de fotografia, os de pintura, os de museus. Conversas com pintores, conversas com escritores. Assim mesmo, tudo com seu sítio bem definido. Um luxo. Adorava.


E ter uns cadeirões super confortáveis para eu estar lá a ler e haver um puff para pôr os pés, e um candeeirinho ao lado, e tudo muito confortável e claro e aconchegante.

E até podia ter uma caminha para eu me deitar a ler naquelas tardes em que gosto de deixar que o sono me tome nos seus braços.


Idealmente seria esse o lugar no qual me sentiria bem a escrever. Escrever. Escrever com muito prazer. Escrever como se não houvesse amanhã. E haver muita gente a gostar de ler o que eu escrevesse.

3 - Ter uma casa na árvore e nessa casa ter uma varanda com vista. E estar lá sentada a olhar o mundo, a meditar, a fotografar, a ler, a ouvir os pássaros, a ver o tempo quase parado, a não querer muito mais do que a paz daqueles momentos.



4 - Ter um super-mega closet. Poder ter um espaço à larga para a roupa. Poder tudo super-bem organizado. Blusas de verão, blusas de inverno. Por cores. Saias. Calças. Casaquinhos. Casacões. Echarpes. Tudo com espaço de sobra. Sapatos de verão, sapatos de inverno, ténis, tudo por cores. Carteiras por tamanhos, por cores.


5 - Ter um outro espaço. Se já ocupei o sótão com livros e um andar com o closet, se calhar agora teria que ser a cave. Um atelier de pintura. Com janelas por onde entrasse muita luz. Poder ter bancadas à larga para as tintas e pincéis. Poder ter paredes grandes para pendurar ou encostar as telas, ter espaço para cavaletes. Poder pôr linóleo no chão para não ter que ter cuidado para não sujar o chão.


6 -  Esforçar-me por ser capaz de seguir uma receita e aprender a fazer bolos. Bolos saudáveis, com pouco açúcar. E lindos. Ou como aqueles que mostrei há dias, da pasteleira russa Elena Gnut, ou como estes da Alana Jones-Mann de quem a minha filha me falou e que também os faz bem criativos. Gostava mesmo de ser capaz de surpreender e deliciar os meus cépticos descendentes e o meu marido sempre gozão.


7- Ser capaz de contar histórias que encantassem quem me ouvisse, histórias cheias de sonho e de mil vidas, cheias de mistério e múltiplos afectos, e ser capaz de moldar a voz, modular os tons, os silêncios, e todos os que me ouvissem presos ao desenrolar da história e eu emocionada, sem saber de onde vinham todos aqueles maravilhosos enredos, sem saber a origem da melodia secreta que envolvia palavras e palavras e palavras, eu porta-voz de uma história mais verdadeira do que a vida dos que ali estivessem. Gostava mesmo.

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Enfim. Tanta coisa. 
Na volta, devo é começar a jogar com mais afinco no euromilhões para ter dinheiro e tempo para ter e fazer tudo isto.

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