Continuo a chamar-lhe Expo mas é Parque das Nações. Aquilo é mesmo uma coisa bem conseguida. Dá gosto lá passear. O meu marido diz: 'Não me importava de viver aqui'. Acho que alinhava. Gosto daquele lugar. É muito luminoso, muito arejado, tem espaços bons para caminhar, é um bom sítio para fotografar, motivos não faltam, edifícios bonitos, reflexos, cores, gaivotas, gente, árvores, flores.
Vamos lá com frequência por razões que não vêm ao caso e por mais outra: o cantonês à beira-rio. Não sei porquê é muito menos frequentado do que o da Almirante Reis e, no entanto, a qualidade é idêntica e o espaço muito mais agradável. Não que o da Almirante Reis seja desagradável. Não. É típico. As pessoas sentam-se ao lado umas das outras. Está sempre cheio. Na Expo, não, tem pouca gente. É bom estar lá com tempo, degustando, estando.
Hoje, ao pé de nós estava um senhor. Quando entrou, pôs-se a olhar -- e logo as empregadas, naquela voz cantada de quem não atravessou o Equador mas veio de perto dos lugares onde o sol nasce, desataram a apontar para o fundo e a dizer: 'É ali, é ali'. O senhor riu e disse: 'Mas eu venho é para almoçar...'. Elas desataram a rir, divertidas. Durante o almoço o senhor recebeu uma chamada. Alguém queria comprar-lhe uma peça de vestuário. Ele não queria, não tinha falta, tinha lá várias em casa, sorria, notoriamente agradado. Acabou por dizer que sim, claro, se ela fazia gosto, então, sim, tamanho L. Depois perguntou: 'Sabes onde estou? No dim sum da Expo, à beira rio, gosto muito. Pena é estar sozinho'. Pensei que estava a falar com alguma amiga e que estarão os dois a ver se a coisa pega. Depois ele respondeu: 'Sim, já comprei o bilhete'. Fiquei curiosa, com vontade de saber onde é que ele ia, talvez a algum concerto. Mas a conversa ficou por ali. O senhor tinha muito bom ar, e ar de quem não foi feito para almoçar sozinho.
Enquanto almoçávamos fui vendo quem passava. Muita, muita gente. Sobretudo turistas. Mas muita gente. Impressiona ver como há cada vez mais gente na rua. Novos, velhos, casais, gente sozinha, gente a ler, a namorar, gente com crianças, brancos, pretos, asiáticos, gente de todas as raças e condições sociais, falando todas as línguas. Gosto de lugares assim.
Antes de almoço tínhamos caminhado e depois voltámos a caminhar. Fui fotografando. Muitas fotografias. Um dia, daqui por alguns anos, volto ao meu blog de street photography e publico as fotografias de pessoas que agora não publico. Agora só publico fotografias de pessoas se não der bem para identificar. Hoje tirei fotografias a casais apaixonados sentados à beira-rio. Uma ternura. Muito amor nos olhares, nos gestos. Muito bonito observar a demonstração de afectos.
Mas o mais engraçado foi a sessão fotográfica a preceito a que assisti. A mulher loura, bonita e elegante fazia poses sensuais, sorria, rodava a cabeça, punha o cabelo de lado e, pelo meio, ia dando instruções ao fotógrafo. Escolheu locais, escolheu o fundo, escolheu as posições. Consegui uma bela reportagem.
Mas, claro, não divulgo aqui as fotografias em que ela estava de frente, bonita e toda sexy, apenas mostro as duas que aqui podem ver. Fiquei curiosa. Será modelo? Seria uma sessão privada?
E, mesmo ao pé, meninos brincavam a corriam a entrar e a sair dos angry birds e os pais mostravam o mundo aos filhos, um mundo azul, colorido, rodeado por água e cheio de luz.
E depois pusemo-nos a caminho do campo. Comecei a ler 'O nervo óptico' e estava a gostar mas adormeci. É tão bom dormir assim, um sono súbito, incontornável. Descansa-me. Dá ideia que o meu corpo desliga, que a mente apaga. Blackout total. Time out. Quando acordei já estávamos quase a chegar.
Ainda estive na espreguiçadeira, ao sol, a ler mas depois fui juntar-me ao meu marido, mas em terra. Ele andava em cima da escada a cortar as pernadas da azinheira que estavam perto do telhado. Eu fiquei-me pelas aroeiras, pelas azinheiras pequenas, pelas ramagens baixas de alguns pinheiros e cedros.
Andámos nisto até depois das oito e já estava frio. Ainda era de dia mas pouco. A aldeia ao longe já mal se via e a grande serra estava azul, imponente na sua serena sobriedade.
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