sábado, abril 07, 2018

Tem a certeza de que a câmara fotográfica e o microfone do seu telemóvel não estão a espiá-lo?



Dos milhões de milhões que usavam o Facebook, ainda há milhões de milhões a usá-lo. Muita gente está a abandonar as suas páginas (e as figuras públicas que o vêm anunciando são disso prova) mas a maioria não está nem aí.

Apesar de se falar em caos dentro da gestão executiva do portentado em que o Facebook se tornou, apesar de ser pública e notória a humilhação a que Zuckerberg se tem visto sujeito face aos escândalos sucessivos e graves, a verdade é que a incomensurável legião de incautos que o usam não quer saber disso para nada. Usam e tornam a usar e nem sabem já viver sem estar, a todo o momento, a ver e mostrar as suas (irre)levâncias do dia a dia. Ainda hoje ao jantar: várias pessoas, no restaurante, notoriamente a acompanhar o andamento do pequeno mundo através do Face.

Qurem lá saber da última... querem lá saber da ferramenta secreta para apagar as mensagens dos executivos do Facebook quando as dos comuns dos mortais nem à lei da bala se conseguem apagar?

Nem do resto. Se me lessem, aposto que perguntariam, a voz espantada: O resto...? Que resto...?

Respondo -- e nem tem a ver exclusivamente com o Facebook.

As câmaras fotográficas dos telemóveis, iPads e vulgares portáteis podem ser capturados por apps ou por outras cenas e as pessoas podem estar a ser filmadas e fotografadas e as suas imagens a ser enviadas sabe-se lá para onde, e as conversas que julgam privadas estão, certamente, a ser gravadas e guardadas algures e os microfones de qualquer dispositivo podem estar a gravar o que se passa no espaço onde estão -- e ninguém dará por isso.

Mas, se calhar também não faz mal já que ninguém está nem aí.

E nada disto é ficção. Leia-se: Are your phone camera and microphone spying on you?

Tal como não é ficção que existem dispositivos que sabem captar os nosso pensamentos e que os transmitem para robots ou computadores. 

É a tecnologia. E é bom que a tecnologia avance -- e que avance rapidamente. O problema não está aí. 

O problema existe quando a tecnologia é posta ao dispor de meio mundo, sem que esse meio mundo saiba sequer que deu autorização para que tudo isto lhe aconteça e quando tudo está tão disseminado, em tão larga escala e de forma tão desregulada que nada mais será possível de controlar.

Julgaria eu que os poderes políticos percebessem a bela alhada que está aqui a armar-se. Mas não. Salvo alguma imprensa mais atenta e responsável, ao resto isto é matéria que passa ao largo.

Por cá, então, como sempre, corre-se atrás de qualquer osso que seja atirado para a via pública. Agora são as alarvidades de Bruno de Carvalho. As televisões, os onlines e, imagino eu, as redes sociais não querem saber de outra coisa. Quanto muito, o Lula -- se vai dentro antes, durante ou depois da missa da mulher. A cada semana sua epifania mediática onde cada evento pode originar um excêntrico e exacerbado epifenómeno.

E, enquanto isso, os verdadeiros perigos passam despercebidos. Pelo contrário, a maioria das pessoas está tão viciada e tão alienada relativamente às grandes ameaças que pairam sobre o mundo que quem tente alertar para o que se aproxima (ou melhor: para o que já aí está) ainda é vista como alarmista.

Admito, nomeadamente, que, face a esta minha insistência, grande parte dos meus Leitores ache que esta minha preocupação é quase paranóia. Acreditem: não é.
Basta que se faça uma visitinha, por exemplo ao YouTube, e encontrar-se-ão inúmeros vídeos que ensinam a espiar quem quer que seja, a partir do que quer que seja. Canja de galinha. Truques, ferramentas e dicas para espiões, terroristas, gatunos, pilha-galinhas, tarados, curiosos ou o que for - tudo ao dispor de quem o queira usar.
Como diz Dylan Curran: It’s only paranoia until it’s too late.

Já agora, também recomendo a leitura de: Are you ready? Here is all the data Facebook and Google have on you


E, já agora também, um vídeo com o trailer que mostra como isto do Facebook começou.

E reconheça-se: os indícios estavam todos lá. Mas a raça humana, estúpida como nenhuma outra, não achou estranho que um puto ladino se tornasse uma das pessoas mais ricas e mais poderosas do mundo em menos de um foguete. Zuckerberg, lembremo-nos, tem -- à data a que escrevo -- apenas 33 anos.



Sean Parker, um dos fundadores do Facebook, conta como sabiam que estavam a criar uma coisa pouco recomendável


Penso que os próximos tempos serão férteis em novidades sobre o assunto

(E não sei de que mais os países estarão à espera para, concertadamente, estudarem uma maneira para tentarem pôr alguma ordem e regulação nisto. E, se o fizerem não estarão a atentar contra a liberdade de expressão mas, a prazo, a protegê-la)

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