quinta-feira, abril 19, 2018

José Sócrates, José Gomes Ferreira, José Castelo Branco e mais uns quantos, Ventinhas incluído


Cheguei a casa tardíssimo. Um dia daqueles de que nem vale a pena falar. Mas ainda consegui ir à fisioterapia. Tenho que tentar fazer as sessões prescritas a ver se me ponho completamente boa para ter alta. Já estou muito melhor, nem se compara. Quase consigo abotoar o soutien atrás das costas. Durante meses, o supra-espinhoso não tinha a flexibilidade necessária para curvar o braço atrás das costas, para além de me doer à brava. Agora já pouco me dói e a mobilidade do braço, mesmo nas rotações interiores, já é outra loiça. Mas completamente boa ainda não estou e, não querendo ficar deficiente para o resto da vida, embora seja uma maçada ir enfiar-me ali ao fim do dia e estar naquilo durante mais de uma hora, forço-me a ir.

[Aliás: esqueçam que eu disse que estou melhor porque gabar-me de alguma coisa parece que atrai forças contrárias. Não disse nada. Não estou melhor. Noc-noc-noc, três vezes na madeira]

Bem. Onde é que eu ia?

Ah sim, já sei.

Não contando com o stress para conseguir raspar-me do escritório a horas razoáveis e das correrias no trânsito para lá chegar a horas, aquilo é bom. Estar ali deitadinha e tratamentozinhos e tal e coisa traz-me uma calma instantânea. O chato é chegar tão tarde a casa. Enfim.

No fim, já por volta das oito e meia da noite, lá fui pagar a sessão. Na recepção e sala de espera, uma grande televisão. Sócrates, claro. As pessoas ali todas a levarem com os interrogatórios, com as considerações dos jornalistas, a testemunharem a condenação de Sócrates na praça pública. Um homem dizia ao filho: 'Ninguém proibe isto?'. O filho, um jovem, encolhia os ombros. Um casal olhava e segredava um para o outro e era como se também encolhessem os ombros. Aos poucos as pessoas vão-se habituando a este regime fora-de-lei.

Quando cheguei a casa, ainda a reportagem decorria. Um maná.
A ver se a seguir vem uma Grande Reportagem sobre o Caso dos Submarinos. Ou sobre  Caso Tecnoforma. Isso é que era. Diz o meu marido
Bem. Adiante.

Depois de me ter despido, desmaquilhado, lavado e vestido uma roupa simples de trazer por casa, fomos jantar. Na televisão da copa, um grupo de sindicalistas, cada um de seu ramo (o Ralha do fisco, o Ventinhas dos magistrados, outro dos agentes de investigação e outro não me lembro de quê), reivindicava mais meios para poder fazer mais proezas como esta, do Caso Marquês. O meu marido disse: onde é que isto já vai. E eu pensei: amanhã ainda aqui temos a Avoila.

A seguir a coisa compôs-se ainda mais. José Gomes Ferreira -- num excitex, num pico de epifanias simultâneas, hipermotivado para varrer o adro a varapau -- já queria passar a pente fino todas as decisões dos governos Sócrates, todas, uma por uma. E, completamente desfocado, ou melhor, destravado, já queria inspeccionar de fio a pavio todos os contratos das parcerias público-privadas, já ajustava contas com toda aquela geração de políticos, empresários, gestores e tutti quanti. Valeu a intervenção de Cristina Ferreira, pouco isenta jornalista mas, ainda assim, já com idade para ter um mínimo de juízo, que, sem meias palavras e na prática, o mandou ir dar banho ao cão, lembrando que era melhor fechar os processos em curso antes de abrir novas frentes. Ele enfiou o barrete e disfarçou, dirigindo-se a outro. Logo depois elogiaram-se todos uns aos outros por terem feito tão bom trabalho, inspectores ventoinhas, jornalistas de aviário, tudo do bom e do melhor e que venham mais que isto é que é a democracia a funcionar. Para eles, a coisa está feita, os culpados condenados e o caso encerrado -- e eferreá-eferreá, alequi-alecuá, xiripitatatatá.

Referência ao facto de ali estarem a participar numa farsa e numa ilegalidade, está quieto. Reflexões sérias é coisa que não lhes assiste.

O que me valeu foi que, entretanto, adormeci. Mas foi sol de pouca dura, nem deu para sonhar.

Vi os mails, trouxe para aqui a opinião informada do P. Rufino. E voltei a adormecer.

Agora aqui estou, pobre de mim, tentando acordar para ver se consigo chegar à cama. Mas gostava de ir com uma coisa boa em mente para ter bons sonhos senão ainda corro o risco de ter um pesadelo com o justiceiro José Gomes Ferreira ou com o Ventinhas.

Portanto, com vossa licença, um vídeo que não tem nada a ver. Mete segredo de justiça e outras cenas mas é pura coincidência.



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As imagens que mostram como o que se vê nem sempre é o que se vê provêm do Bored Panda e, como é bom de ver, também nada a ver.

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