Thérèse philosophe inspirava-se num caso célebre: o padre Girard, um jesuíta reitor do Seminário Real de Toulouse, fora acusado por Catherine Cadière, de quem era confessor, de a tentar seduzir. O padre fora absolvido pelo Parlamento de Aix, em 1731, mas numerosos panfletos repetiram e romancearam o episódio. Assim, Thérèse philosophe passava também a ser um roman à clef.
O padre Girard, Dirrag na ficção, usava os famosos Exercícios Espirituais de Santo Inácio numa desvirtuada acepção carnal, misturando sexo e sacrilégio. A mensagem era a desmontagem da dualidade corpo-alma e a disseminação de uma filosofia materialista. (...)
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Já Diderot, Voltaire e Montesquieu, em La Religieuse, Candide ou Lettres Persanes, conhecendo a ligeireza intelectual do beau monde, seguiam a mesta receita, servindo a filosofia em pequenas doses, facilmente digeríveis pelas elites do tempo, como os petits pâtés anticlericais de Voltaire. Uma das personagens de Thérèse philosophe, o abade, prevenia que semelhantes teses e temas só deviam ser apresentados e discutidos a "determinadas mesas e com discrição" e, ainda assim, "mandando sair os criados".
Só os escolhidos deveriam ter acesso a estas verdades, pois, se conhecidas e partilhadas por todos, poderiam subverter a ordem social. Assim, a filosofia ilustrada era só para as elites, permanecendo o povo na ignorância e nas trevas da religião e da tradição, sendo preferível e desejável que assim acontecesse.
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Na sequência de Filosofia e Pornografia e de Um best-seller em 1748, este também é um excerto de Bárbaros e Iluminados, Populismo e Utopia no século XXI de Jaime Nogueira Pinto.
Kate Moss aqui é fotografada por Tim Walker
Divna Ljubojevic interpreta Песма над песмама
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