terça-feira, março 20, 2018

A face oculta do Facebook.
Cambridge Analytica & Facebook -- dangerous liaisons
Riscos pessoais, riscos públicos. Crimes privados, crimes públicos.



Há cerca de 1 ano publiquei aqui um texto escrito pelo meu filho para o qual me permiti chamar a atenção de todos quantos por aqui me acompanham:


Infelizmente, nos dias que correm, o tema é tristemente ainda mais actual. Cambridge Analytica boasts of dirty tricks to swing elections. Bosses tell undercover reporters how honey traps, spies and fake news can be used to help clients

Por cá, a meu ver, a gravidade do que tem vindo a público não está a ter a repercussão devida. É notícia de primeira página em jornais como o The Guardian mas, por cá, o que vamos sabendo é quase como se fosse tema secundário (por exemplo, veja-se o destaque dado a uma notícia como esta: Parlamento Europeu pede investigação ao Facebook). Do que me tem parecido, as televisões não têm pegado no tema e as redes sociais, sempre tão lestas a papaguearem ém coro a propósito de qualquer irrelevância, parece que, sobre isto, não estão nem aí.

Conhecem os meus Leitores a minha aversão ao Facebook. Não é uma aversão que advenha de conservadorismo ou de alguma outra forma de reaccionarismo. Não. Acreditem que não. A questão é que sei que o conceito subjacente a uma plataforma digital como o Facebook propicia toda a forma de utilizações indevidas por parte de quem o queira e sem que os próprios, os lesados, de tal se apercebam. O que se passa é que o Facebook é um repositório de informação pessoal que as pessoas ingenuamente vão alimentando e que, pela própria natureza e complexidade tecnológica, tornam impossível a um vulgar e incauto utilizador ter sequer a noção da máquina brutal que subjaz a toda aquela montra, na aparência inofensiva.

O Facebook pode ter nascido como uma plataforma de comunicação e partilha mas, pela forma desregulada como cresceu e pela opacidade do seu funcionamento, girando sobre algoritmos que têm tudo para manipular as emoções e as vontades das pessoas, pode ser uma perigosa arma contra a democracia e contra a liberdade.

Há certamente muitas utilizações meritórias (e sei de algumas) mas, mesmo essas, alimentam uma máquina imensa que vive de conhecer os gostos, o que emociona, o que alegra, o que pensam as pessoas (e tudo devidamente estratificado: consoante a idade, o género, a ormação académica, o sector em que trabalham, a região em que vivem, etc). Para matemáticos, o que ali está é um apetite. Toda a espécie de análises, de correlações, de projecções, de simulações, de manipulações... tudo é possível. E tão fácil... Tinha que ser uma empresa na qual todos os seus trabalhadores fossem gente de uma moral, ética e robustez psicológica à prova de bala para que nada daquilo derrapasse para o lado perverso da coisa. E isso não há. O mundo não é perfeito. Não há empresas em que 100% dos colaboradores sejam 100% escrupulosos mesmo quando expostos a toda a espécie de tentações e em que o risco de punição seja, na prática, quase 0%.


O Facebook é uma empresa super-valiosa na qual os os próprios clientes são, ao mesmo tempo, os fornecedores de matéria-prima, de matéria-prima gratuita (a informação que a toda a hora lá colocam; e os likes são também informação, não o esqueçamos). E recebem a publicidade que, de forma inteligentemente selectiva, o Facebook coloca no mural de cada um.

Mas, tão grave como tudo isto, são as cancelas abertas que o Facebook tem, permitindo que empresas como a Cambridge Analytica vão lá abastecer-se de todo o valioso manacial de informação que lhes permita depois conhecer tão bem as pessoas que conseguem manipulá-las a seu bel-prazer.


É sabido como a vitória do Brexit ou a vitória de Trump foram fortemente alavancadas por campanhas políticas customizadas dirigidas aos gostos e receios dos eleitores, quase um a um. 

Se as pessoas não andassem tão anestesiadas, forçariam os seus governos a investigar e/ou multar o Facebook ou, mesmo, a interditá-lo enquanto todas as regras de compliance não estivessem cumpridas. No entanto, há tantos milhões de utilizadores e tão dependentes que dificilmente perceberiam uma medida tão radical.


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Para ajudar na compreensão do tema, dois vídeos, um de 3 minutos e picos e um outro de 16 minutos.
Cambridge Analytica claims to use data 'to change audience behaviour'. But now a whistleblower, Christopher Wylie, has come forward to expose the company's practices. Wylie describes how its CEO, Alexander Nix, attracted support from then-Breitbart editor, Steve Bannon, and investment from billionaire Robert Mercer before obtaining help from Cambridge professor Aleksandr Kogan to harvest tens of millions of Facebook profiles.


The British data firm described as “pivotal” in Donald Trump’s presidential victory was behind a ‘data grab’ of more than 50 million Facebook profiles, a whistleblower has revealed to Channel 4 News.
 
In an exclusive television interview, Chris Wylie, former Research Director at Cambridge Analytica tells all.


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