Tenho que arranjar outra estante. Já andei a ver se descubro um lugar. Não está fácil. Não quero atravancar a casa com estantes mas a verdade é que já não tenho onde guardá-los. Invadem cada recanto, aboletam-se nas cadeiras, no sofá ali ao canto, na cadeirinha baixinha, já se empilham ao lado e por cima de outras estantes. Um desatino. Talvez possa passar a estante baixa que está ao fundo do corredor, na zona onde o corredor alarga, para o hall dos quartos. Ainda há lá uma parede sem móvel. Só tem um quadro e um projector em cima. Talvez possa lá pôr a estante baixa e, no corredor, pôr uma estante alta. Mas receio que o problema não seja a falta de paredes para pôr estantes mas, sim, um outro: livros talvez a mais.
E o que eu gosto de colares, de brincos, de pulseiras. Uma meninice de menininha. Vaidosinha, coquetinha. Pérolas. Colares compridos, curtos. De continhas transparentes. Azuis. Rosadas. Douradas. Às florzinhas. Brincos a condizer. Mas é coisa a mais.
E blusinhas. Brancas, transparentes, suaves, decotadas, ondulantes, com golinha, com folhos dançantes em volta do colo. Rosadas. Azuis. Verde água. Rouge. Floridas. Demais.
E caixinhas. De porcelana, de vidro, de madrepérola, de tecido, de madeira, de música, de cartas, de jóias. Tantas. Demais.
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Nos anos 60 (Marianne com chapéu, Keith à frente, à direita)) |
E esculturinhas. De mulheres. De bailarinas. De santas. De meninas. De grávidas. De apaixonadas. Demais.
Santo Antónios. A sério, de devoção. A brincar, de diversão. De sentir ternura. Grandes. Pequenos. Demais.
E os objectos especiais. Bonequinhos de barro feitos pelos meninos. O leque de madeira com poemas e libelinhas desenhadas. Clepsidras. Ampulhetas. Esferas de cristal. Cubos de vidro. Saleiros de porcelana. Chávenas de colecção. Salvo os bonequinhos dos meninos, demais. Demais.
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Marianne (na altura com 53 anos) por David Bailey |
E vejo a casa de Marianne Faithfull, uma casa tão bonita, tão sem tralha. Ela com uma vida tão preenchida, tão louca, tão diversificada e soube não se agarrar a tudo. A carta do pai. As queridas flores. A fotografia do seu louco amor. Nada demais. Tudo com conta, peso e medida. Uma casa elegante.
Mas, enquanto a vejo mostrando a casa, vejo-a também a ela. Tem agora 71 anos. A jovem inocente foi perdendo a firmeza da pele, a elasticidade dos músculos, a elegância da tenra-idade. É agora uma mulher que se desloca com bengala, que, embora sorrindo, fala da sua solidão. E, embora eu pense que não é nada de mais, que é a natureza a seguir em frente, que é a lei da vida, a verdade é que sinto uma certa pena. A lei da vida, por vezes, pode conter alguns laivos de perversidade. É certo que apenas se conservam jovens, belos e perfeitos os que partem cedo. Mas faz-me uma certa impressão ver a bela Marianne agora nesta sua pele de mulher de idade, quase como se fosse a gasta avó daquela outra de que agora nos mostra em imagens. No entanto, se ela nos diz que nem um osso no seu corpo é nostálgico, não vou ser eu a desfiar aqui palavras apatetadamente melancólicas.
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Reeencontro com Keith Richards, 50 anos depois |
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Mas eis a casa de Marianne Faithful, mostrada por ela própria
Já agora, Marianne interpretando The ballad of Lucy Jordan
E a voz de Marianne: Annabelle Lee de Edgar Allan Poe
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E queiram descer de visita aos homens que gostam muito de mulheres e que, quando crescem, se dedicam a coleccionar serviços de chá.
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E queiram descer de visita aos homens que gostam muito de mulheres e que, quando crescem, se dedicam a coleccionar serviços de chá.
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