quarta-feira, fevereiro 28, 2018

Um homem, de vez em quando, tem uma certa serventia
- reconheço



Não sou feminista a ponto de achar que as mulheres são melhores que os homens ou que passam bem sem eles. 

Eu acho que não somos melhores. Nem melhores, nem piores.

E não acho que passemos bem sem eles. Quer dizer: se não os houver, paciência, lá terá que ser. Mas, havendo-os, há que não desprezar. Dão sempre jeito.

A mim, pelo menos, dão. Não sei mudar pneu nem ver a pressão, não sei onde se abre o capot do carro e, mesmo que o abrisse, ficaria a olhar como boi para palácio. Também não me dá jeito pôr a lavar o carro na estação de serviço. Nem me dá jeito o berbequim. Pregar prego ainda vá. Mas usar broca, escolher bucha... não tenho sabedoria para tal. E tentei usar a serra eléctrica e aquilo escorregou no tronco e não cortou. Desentupir o sifão também nunca fiz. Quando se monta um candeeiro de tecto, também seria incapaz de juntar os fios e aquela caixinha pequenina (acho que se chama de derivação).

Coisas assim, por exemplo.

E já uma vez o contei e conto de novo para mostrar outro aspecto da valia dos homens.

Um dia, à noite, desci uma rua estreita que tinha carros estacionados dos dois lados. Quando cheguei ao fim, para entrar na avenida, vi que que estava em obras, cortada. Devia ter sinal com aviso no início e, àquela hora, doida para chegar em casa, nem tinha reparado. Fiquei logo atrapalhada. Não tinha espaço para fazer inversão de marcha. Resolvi enveredar pela mais difícil missão: vir de marcha atrás numa rua estreita, a subir, e com uma curva de cotovelo pelo meio. Uma coisa pavorosa. Afastava-me dos carros da esquerda, ficava quase a roçar nos da direita, desviava-me destes e logo fazia tangentes aos outros. E quando estava a ponto de desistir, chamar um táxi e deixar o carro no meio da rua, aconteceu o pior: um carro a vir na minha direcção, também a descer a rua. Fiquei para morrer. O outro carro fez o óbvio: pôs-se também de marcha atrás e ficou à espera no topo da rua, onde a rua alargava. Pior um pouco.
Não pode acontecer nada que me atrofie mais do que estar atrapalhada com alguma coisa a nível de condução e ver que os outros estão à minha espera. Aí a nabice cresce exponencialmente. 
Imaginava o pratinho que ele estaria a gozar: uma naba a vir de marcha-atrás, aos zigue-zagues, devagarinho, devagarinho. Pensei: nunca mais vai ser sábado, uma vergonha. Então, tomei uma decisão drástica. Saí do carro, pus-me a pé rua acima e fui ter com o homem que estava no carro. 'Olhe, faça-me um favor. Traga-me o carro até cá acima.' E dei-lhe a chave para a mão. O homem saíu do carro, apalermado. Era um homem que não tinha aspecto de executivo, digamos que proleta do mais proleta que há e em fim de jornada, numa carripana a cair de madura. O homem hesitava. Insisti: 'Não me ajeito. Se ficar à espera que eu chegue cá acima, vai ter que esperar muito. Fico-lhe agradecida'. O homem estava banzado. Eu, de saltinho alto, toda nove horas, num carro todo dez horas, e a passar-lhe a chave para as mãos. Ainda me assaltou a ideia peregrina: 'Se for esperto, pisga-se no carro e diz que fui eu que lhe pedi'. Mas pensei que o risco valia a pena.

Coitado, lá foi. Fiquei cá em cima à espera. Em dois segundos pôs o carro cá em cima, certinho, direitinho. Sem espinhas. Uma coisa humilhante. Fiquei a pensar que só podia ter a ver com o tal cromossoma. Outra explicação não podia haver. Desconcertado, veio entregar-me a chave. Eu só me apetecia rir. Sentia-me absolutamente ridícula. 

Também me acontece vir eu a conduzir com o meu marido ao lado e ter que estacionar. Se passo por um lugar paralelo ao passeio em que só cabe um carro, faço de conta que não vejo. Se houver lugar para dois ou três, tudo bem, vai de frente. Mas, à justa e com ele ao lado, é complicado. Ele insiste. 'Estaciona. Faz como eu te digo. Chega-te à frente. Vira o volante. Não. Mais. Não, para o outro lado. Desfaz. Já, todo. Não! Para ao outro lado.' Aí desisto. Nessa altura já a porcaria do carro está quase perpendicular em relação ao passeio ou a galgá-lo. Obviamente, largo o carro. Não lhe resta outro remédio senão sair também ele e ir para o volante. E, então, para minha surpresa, de uma penada, chega o carro à frente, ajeita o volante e, à primeira, põe o carro no sítio. Uma coisa que não se percebe. Só o tal cromossoma pode explicar tal coisa.

Isto para dizer que, de facto, os homens têm alguma serventia.

Veja-se o vídeo abaixo que Leitor, a quem daqui agradeço, me enviou. Confirma a aptidão natural que os homens têm para tarefas elementares. Falham é nas coisas complexas mas, enfim, isso agora não é para aqui chamado.

Mas, no que se refere ao vídeo, vou já avisando os homens: nada de risinhos irónicos ou boquinhas foleiras, ok? 


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Mas, recapitulando, tirando coisecas destas, as mulheres têm muito brain e muito power.

Viramos o mundo do avesso, se necessário for. E a cabeça dos homens, então, nem se fala.

Yes, we can.


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E agora queiram, por favor, conferir se a criança que abaixo se mostra será mesmo filha do Bruno de Carvalho. Parecer, lá isso parece. Mas vejam com os vossos próprios olhos.

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