segunda-feira, novembro 20, 2017

A impossível palavra da verdade



Love me... love me... love me
Say you do
Let me fly away
with you
For my love is like
the wind
And wild is the wind

Escuta. Encosta o teu coração ao meu. Sente o vento suave, a doce aragem. Como uma seiva amorosa por entre o vento, eu ouço a tua voz silenciosa, tão minha, uma voz que só eu ouço. São as tuas palavras que alimentam o ar que respiro.

Da parede em azul ergue-se um pássaro, um bluebird, um secreto bird que acaricio entre as mãos -- meu passarinho, meu passarinho louco que queres acolher-te no seio de quem não sabe como guardar-te. Conto-lhe segredos, espero que adivinhe os meus mistérios. Ouves? Adivinhas?

Recolho-me a um silêncio só meu. Se as palavras não sabem dizer o que o coração grita, então que fique o silêncio, um silêncio impossível, um silêncio nu, sem disfarces. Com ele pinto o céu de azul, nele deixo voar o meu bluebird, com ele encho de luz as manhãs claras e com ele recolho palavras nos céus. E, sabes?, com elas construo um mundo só meu. E teu.


Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
a vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
as vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
a impossível palavra da verdade.
Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
para eu guardar dentro de mim,
para eu ignorar dentro de mim
a única palavra sem disfarce –
a palavra que nunca se profere.

Adolfo Casais Monteiro
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Fotografias feitas no Ginjal

Nina Simone interpreta Wild is the wind

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E queiram descer até ao olhar do tigre azul também no Ginjal

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