Como já o disse, as minhas so-called férias foram deveras atípicas e não me apetece entrar em pormenores. Já basta o que basta, quanto mais pôr-me ainda a falar disso.
Mas, no meio do que foi sucedendo, outros sucedidos foram igualmente atípicos.
Conto.
Conto.
Para começar, estávamos com uma fuga de água e sem fazermos ideia de onde. Todas as torneiras desligadas e o contador a correr.
Isso podia ser mau mas pior foram as contas da água. Uma loucura. E sem fazermos ideia de onde saía aquela água toda. Em casa ou cá fora, que se visse, nem uma gota. Do contador até à casa principal e do contador até ao estúdio e do contador até ao telheiro: tubos enterrados debaixo do empedrado que rodeia a casa. Depois, em cada um desses sítios, canos everywhere. Mesmo debaixo do telheiro há a torneira da mangueira, depois o tubo vai enterrado ou por dentro da parede, não faço ideia, até ao lava-louça. E dentro da casa principal? Espatifar a casa toda até descobrir? É que vestígios, como disse, zero.
Falámos com o vizinho da ponta da rua que conhece meio mundo. Ficou de ir lá com um canalizador e já punha a hipótese de neutralizar as canalizações existentes e fazer novas, por fora, à vista. Mas o canalizador não podia, disse que ia mas depois não conseguiu.
Entretanto, abro a caixa do correio e um aviso de corte da água. Espantada. Porquê, caraças, se o pagamento é por débito directo? Mas ainda ia a tempo de pagar desde que fosse in loco, ou mandasse um cheque e que pagasse juros e mais as despesas que tiveram para activar o aviso de corte.
Aflita, liguei para lá. Mas o que se passa?! O banco não tinha pago a factura. Pedi: Dê-me a referência que pago por multibanco. Não, por débito directo não há cá multibancos. Liguei para o banco: Por que raio não pagaram a factura? Falta de saldo não é. Foram ver. Mandaram depois um mail. Quando autorizámos a transferência, colocámos um valor máximo e, dada a fuga de água, esse plafond foi amplamente ultrapassado. Portanto, não pagaram. Indignada, perguntei: E não avisaram? Responderam que não, que é tudo automático. Indignada, questionei as Águas: Mas, então, viram que o banco não pagou e ninguém nos avisa? Isso é assim?. Resposta: É assim, sim, é tudo automático, não sabemos, não damos por nada, não podemos avisar. Conclusão. Lá fui a uma estação dos CTT enviar um vale postal.

Entretanto, o meu marido teve uma intuição: Não serão as raízes daquela azinheira? Não terão dado cabo da entrada dos canos em casa?
Toca a levantar a chão, as pedras todas fora, um buraco no chão. Nada. As raízes estão mais fundas que os canos.
Mas o meu marido com aquela intuição. Pediu ao pedreiro que chamámos: Abra mais. Um buracão. Nada. O meu marido: 'Mais'. O homem dizia: 'Pode ser noutro sítio qualquer'. Entretanto, naquelas nossas vidas agitadas, não pudémos lá ficar. Porque tudo isto se passou in heaven -- sim, no paraíso também há fugas. No dia seguinte, liga-lhe o vizinho: Teve sorte. Nem queira saber. Ao pé do portão, um repuxo! E logo ali combinaram que o vizinho, para resolver o repuxo, haveria de tapar os canos de qualquer maneira e que o canalizador depois ia arranjar aquilo como devia ser.
Suspendemos a ida lá do senhor com a máquina que detecta fugas. Menos mal, o mistério tinha sido detectado.
Depois foi a espera pelo canalizador. Que ia, que ia, mas nunca mais lá ia.
Até que lá foi. Canalização toda nova naquele troço. Agora estamos à espera que lá vá o pedreiro tapar o buraco e refazer o empedrado naquela zona toda.

Dois dias antes de nos virmos embora, tinham caído umas pingas de chuva na véspera. Estava eu não sei onde, à noite, chama-me o meu marido para ir ver um fenómeno. Odeio que me chame e se limite, depois de dizer o meu nome, a acrescentar: 'Anda cá'. Quero sempre que me diga o que é, para eu ver se vale a pena. Adiantou: 'Para veres uma coisa'. Ora abóbora. Quis pormenores: 'Para ver o quê?'. Nada. Assertivo. 'Anda cá. Vem cá ver se percebes o que é isto'. Contrariada, lá fui.
Daquela é que eu não estava à espera. Chovia na cozinha. Chovia do tecto entre a chaminé e o frigorífico. Ele estupefacto, eu estupefacta. 'Mas não choveu nada de jeito... ' E ele, 'Estará uma telha fora do sitio...?'. Mas não tinha chovido que justificasse, um dia depois, uma chuva daquelas dentro de casa.
Foi buscar o escadote, espreitar dentro do sótão. Não conseguiu ver nada. E continuava a chover copiosamente.

Tínhamos que fechar a água no contador. Mal a abríamos, uma chuva do caneco. Até que apareceu o canalizador. Foi ver. Veredicto: tinha que se abrir a placa para ele conseguir ver onde é que o cano trabalhava e onde é que havia o problema. Lá foi o pedreiro. À medida que abria o buraco na placa, a chuva caía mais copiosamente.
A despensa alagada, baldes e alguidares por todo o lado, a tralha da despensa na cozinha, o micro-ondas, na cozinha, fora do sítio, o carrinho das batatas e cebolas e toda aquela tralha também fora do sítio.
E isto tudo no meio dos nossos problemas -- ao pé dos quais isto eram amendoins.
Até que tivemos mesmo que nos vir embora. Um buraco no telhado, os canos rotos, tudo a cheirar a molhado e desarrumado. E um buracão na zona do jardim onde tinha havido a outra fuga. O pedreiro ficou de ir lá tapar o buraco da placa e voltar a telhar o telhado. Acho que isso já fez. O do jardim é que continua no mesmo estado.

Parecia que tínhamos deixado para trás uma hecatombe tal a sucessão de sucedidos. Os dias no Algarve foram bons mas muito curtos.
Esta segunda-feira já foi dia de trabalho. E eu só espero que agora sejam tempos de acalmia e que, para além disso, os canos parem de se romper porque não há paciência para tanta maçadoria.
E, assim sendo, qual a conclusão...? Ou seja, apesar de tudo, what...?
E a resposta é: Apesar de tudo, cá estamos. Ou melhor, que isto do plural majestático não está com nada: Cá estou.E a vida continua e é boa e eu gosto dela.
Um tio meu, quando soube que tinha cancro nos pulmões disse, com ar tranquilo, que não se importava muito, que já tinha vivido bastante e tinha vivido uma vida boa e que tomara muitos terem vivido o que ele já tinha vivido. Quando partisse, partiria feliz. Infelizmente todo este estado de espírito viria a desmoronar-se quando soube que a minha tia estava também com cancro, e bastante adiantado. Mas, enfim, isso foi apenas um azar dos távoras que apareceu para acelerar as coisas e fazer com que ele não tivesse morrido feliz. Mas, ainda assim, partindo do princípio que azares destes só acontecem once in a lifetime, continuo a dizer que a vida é uma coisa muito boa. Boa, boa.
E agora talvez vá já dormir que, parecendo que não, talvez eu tenha uns little motivos para andar ainda um bocadinho cansada. Já vejo se me aguento ou se vou juntar-me ao meu marido que já foi entregar-se aos braços do outro.
Do outro, salvo seja, claro, que isto do morfeu melhor fora que fosse assexuado para evitar confusões.
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Algumas fotografias são de Paolo Roversi e outras de Sølve Sundsbø. Podem não ter muito a ver com o descrito... mas quem vos diz que não têm a ver comigo...? E mesmo que não tenham.
Thomas Rhett interpreta Die A Happy Man e escuso de explicar porque me apetece tê-lo aqui comigo. Connosco. Ou, se calhar, até devia para não parecer que vem a despropósito. Mas, olhem, ficamos assim.
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E um dia feliz a todos quantos por aqui passam.
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E um dia feliz a todos quantos por aqui passam.
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