segunda-feira, setembro 11, 2017

Crónica de uma veraneante acidental à beira da piscina





Depois da praia, descanso à beira da piscina. Aqui descanso é mesmo descanso. Ninguém fala alto. Há um silêncio apenas entrecortado pela aragem nas folhas das altíssimas árvores. Palmeiras, bananeiras e, mais afastados, pinheiros gigantes com a copa a roçar as nuvens.

Não há muitas crianças. É natural, a época escolar já começou. Quem aqui está é, na grande maioria, gente sem filhos pequenos. Casais de meia idade, casais muito jovens, casais muito velhos. 

É a segunda vez que aqui estamos e, do que já experimentámos, não conhecemos melhor. Amplo, tranquilo, confortável. 

A piscina tem um desenho irregular com jardins a meio, em grandes canteiros, recantos e zonas de sol e de sombra entre árvores.

Ao contrário das piscinas rectangulares dos hotéis em que quem está à sua beira pode ver todos os demais, aqui não é assim. Vê-se os que estão naquela zona e, quanto muito, alguns que estão em frente e isto se não tivermos jardins e árvores pela frente.

Também, ao contrário do que é usual, não se ouvem conversas. As espreguiçadeiras não estão encostadas e, quem ali está, ou fala muito baixo ou, a maioria, não fala. Quase todos os que chegam vêm com pequenos tablets ou telemóveis e, mal chegam, começam a deslizar os dedos no écran. Ao todo devo ter visto umas quatro ou cinco pessoas com livros em papel (e uma das pessoas era eu, que estive a ler O Grilo na Varanda, correspondência de Luíz Pacheco para Laureano Ramos).


Chegou um casal inglês que era uma das excepções: vinham com duas crianças, uma menina que teria uns três anos e um bebé que teria uns sete ou oito meses. Não estão ainda em idade em que se fale de ano lectivo. Escolheram umas espreguiçadeiras relativamente à nossa frente. Ele sentou-se e imediatamente se conectou (emocionalmente) ao telemóvel, desligando de tudo o que ali se passava. A menina trazia um tablet cor-de-rosa de brincar mas que me pareceu funcionar como um tablet normal e, numa espreguiçadeira, esteve o tempo todo entretida com o que ali via. O bebé esteve sentado, encostado ao pai, com chucha e a brincar com umas argolinhas. A mãe esteve deitada de barriga para baixo entretida com o seu smartphone branquinho.

Enquanto ali estive, li, quase dormi, nadei, sequei-me. Aqueles dois não se mexeram das posições iniciais.

Nas espreguiçadeiras quase ao meu lado, com uma palmeira de permeio, estava um casal mais velho que nós. Entre os dois uma pequena mesa. Cada um com o seu tablet. Não trocaram uma palavra, apenas viram o respectivo tablet. Quando olhei para o tablet do senhor, pareceu-me ver um vídeo suspeito. Como sou um bocado míope, disse ao meu marido: 'Mas ele está a ver pornografia...?!'. O meu marido olhou mas estava ainda mais longe que eu, não teve a certeza: 'É capaz'. E não fez mais comentários, se calhar para eu me desinteressar de averiguar. Como ele inclinava o écrã mais para mim, certamente para a mulher não ver, tive quase a certeza disso. Fiquei um bocado incomodada, devo confessar.

A seguir chegou um casal cheio de contrastes. Ele sem nada a reportar a não ser que trazia um livro em papel na mão. Ela, extraordinária. Tal como ele, também ela bastante alta. Mas, em volume, talvez o dobro dele. Com um cabelo louro platinado, liso, quase até à cintura. Um vestido de renda, todo transparência, até aos pés. Despiu o vestido e ficou com um biquini curto em verde, exactamente da cor das unhas das mãos e dos pés. Com umas ancas generosas, um peito generoso, toda ela parecia querer transbordar do curto biquini. Sentou-se, ajeitou o cabelo, colocou a melena loura sobre um dos ombros. Chegou então um empregado com um jarro de sangria e uma garrafa de espumante que colocou na mesinha entre as espreguiçadeiras. A sangria era para ele, o espumante para ela.


Ele deitou-se de lado a ler, de vez em quando soerguia-se para se refrescar com a sangria. Ela reclinada, flute numa mão, telemóvel na outra. Depois de beber, pousava a flute e deslizava o dedo no telemóvel. Quando nos vínhamos embora, levantou-se ela, imponente, e foi ver se a água estava boa. Reparei que já tinha avançado bem na garrafa .

Depois de ter nadado, para me secar, fomos para umas espreguiçadeiras que estão ao sol num relvado afastado da piscina. Várias pessoas a dormir, outros a lerem em tablets ou telemóveis. Apenas um tinha um livro analógico.

Cruzámo-nos na escada com os dois casais de ontem, eles todos tatuados. Irlandeses, animados. Reparei que ambos, nas costas, tinham o que pareciam ser fotografias de homens. Uma banda? Companheiros de armas? Apenas imagens dos amigos? Na frente flores, monstros, dragões, borboletas. Nas costas um grupo de homens. Elas, sorridentes, sem tatuagens.

Depois saímos, armas e bagagens, e fomos comer sardinhas assadas. Óptimas. E uma salada de tomate também muito boa, com uma cebola doce, saborosa. e um pão saloio, com aquele sabor antido a fermento. O que eu gosto daquele pão molhado no molho das sardinhas ou no molho da salada de tomate. Claro que tanto me desforrei nestes dias que a balança também já se desforrou: um quilo a mais.


Entretanto, à vinda, voltei a adormecer no carro. Depois de uns dias que me exauriram, agora, onde pouso, adormeço. Também já passei pelos meus pais. Deixei lá o Expresso. O meu marido disse: 'Não sei para que compras esse pasquim'. Comprei para ler a entrevista com a ministra Ana Paula Vitorino, uma mulher muito corajosa. Também tinha comprado numa estação de serviço, mas isso à ida para baixo, a Hola. Tenho esta pancada. Quando vou de férias, gosto de comprar uma revista. Andei a ver e não vi nada recomendável. Então, para ver boas casas e boas toilettes e porque só custava 2€, trouxe a espanhola Hola!. Também ficou para a minha mãe. Não estranhou o Expresso mas ficou surpreendida com a Hola. Depois de lê-la, há-de passá-las à amiga J. a quem, volta e meia, também empresta livros. Não sei como subsistem estas revistas. Nada se aproveita ali. Só fotografias da beautiful people. Do que vi, a única coisa que retive foi que Mario Vargas Llosa saíu do seu usual retiro numa clínica para onde, pelos vistos, todos os anos, vai para se pôr 'al punto' e que apareceu formoso, ao lado da guapíssima Isabel Preysler. Também vi uma reportagem da baronesa Thyssen com as filhas gémeas de onze anos e fiquei muito admirada pois ela está mais para netas do que para filhas pequenas. Fui agora conferir a idade dela (74) e, de facto, li que foram concebidas via barriga de aluguer. Li também agora que se especula se o pai das crianças não será o filho dela, um tal Alexandro Borja. A ser, seria simultaneamente irmão e pai das miúdas. Tudo gente com uma certa pancada.


Agora já estou em casa. Já fiz uma máquina de roupa. Já fiz uma bela sopinha de nabiças e já assei umas costeletas com maçã para o jantar de amanhã. Já arrumei a roupa, já tomei banho, já passei um brilhozinho discreto nas unhas. E agora ainda aqui estou a ver se prolongo a sensação de férias.

Mas já passa da meia-noite, já é segunda feira e o que me espera é mais do que eu, neste momento, estou preparada para aguentar. Mas que remédio terei eu senão aguentar. É a vida.

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E, a todos quantos por aqui me acompanham, desejo uma boa semana, a começar já por esta segunda-feira.

Be happy.

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