segunda-feira, julho 03, 2017

Ainda o roubo de material de guerra em Tancos: o que pode ter acontecido
E se o que se vê nos vídeos do Monty Python vos parecer estranhamente familiar... talvez isso não seja simples coincidência



Já ontem falei disto. O que aconteceu nisto de ter sido roubada do paiol militar de Tancos uma inimaginável catrefada de granadas de toda a espécie e feitio, explosivo plástico, cartuchos, disparadores e sei lá que mais, parece-me de uma tal gravidade que acho que que António Costa deveria perceber, muito a fundo, o que pode ter acontecido para que um tal roubo possa ter sido tão facilmente levado a cabo .

Que não haja videovigilância ou uma alarmística, para além de uma fonte de um risco incomensurável, parece-me aberrante, ridículo, imperdoável. Mas... há quartéis com material de guerra desde há quanto tempo...? Desde tempos que não havia nada disto. Certo? Mas havia vigilância! Sempre houve. Guardas em guaritas. Sentinelas. Havia rondas, havia homens a defender o armamento e as munições. Ora em Tancos parece que nem isso, parece que também não há militares a garantir a segurança das instalações nem do perímetro. O que é que fazem durante o dia, para além de alguns treinos ou desfiles na parada? Jogam à bisca lambida no fresco dos gabinetes? Contam anedotas? Grandes desafios com as últimas novidades da PlayStation? What...?



É que, do que se vai sabendo, em Tancos a bandalheira parece total: para além de não haver meios mais sofisticados de vigilância, pelo que agora se sabe, a ronda teve 20 horas de intervalo, tempo mais do que suficiente para que levassem o que queriam. Vinte horas!!! Resta saber se foi a primeira vez que isto aconteceu.


Mas, pergunta a minha inocência: tanto material, quilos e quilos e quilos de material que ainda por cima, certamente, está acondicionado em caixotes já que é material sensível, leva-se como? Num saco, à costas? 

Claro que não. Isto requer transporte em carros ou carrinhas ou camionetas, o que for. E não é um mas vários homens que conseguem carregar tanto material. E, aqui chegada, pergunto: este roubo foi numa única noite ou andam há algum tempo a abastecer-se?

É que se a única coisa que deu nas vistas foi um dano na vedação... e só por isso é que lá foram contar se faltava alguma coisita... Ora, um carregamento destes não é coisa compaginável com a imagem de um vulgar meliante a passar com uma coiseca num bolso através da vedação. Quem garante que não é já um hábito que, entre rondas, uns artistas, volta e meia, lá vão encostar uma voiture e encher o porta bagagens? 

E aquela malta lá do quartel nunca deu por movimentações estranhas? Carros estranhos a circular a desoras? Nada...? Tudo a dormir, ferrado no sono...? Ou... aquilo não foi gente de fora mas... de dentro? Tudo normal porque... não houve, de facto, gente de fora?
Especulações, of course. Mas, face ao que se passou e às abstrusas explicações do general Rovisco e do ministro Azeredo, todas as efabulações passaram a ser possíveis.
Podiam ir lá roubar chaimites, tanques e o que quisessem que só quando lá passasse a próxima ronda é que davam por isso e ... era se os bandidos lá deixassem provas muito evidentes...? De gargalhada, isto.
Melhor: de susto (se pensarmos nas possíveis consequências do que se passou e do que pode voltar a passar-se se tudo continuar na mesma).
O meu marido lembrou-se que uma vez, há um bom par de anos, em Angola roubaram um Boeing 727 do aeroporto. Ninguém viu, ninguém soube do que se passou. Um Boeing. Ora, parece que Tancos está quase na mesma.


E outra dúvida: que conversa é essa das rondas serem aleatórias para ninguém conhecer os hábitos...? Nas empresas em que há coisas aleatórias (por exemplo, testes à taxa de alcoolemia ou a drogas), há um programa que gera números aleatórios que, mediante algoritmo, transforma esses algoritmos em número de cadastro de trabalhador que vai ser inspeccionado. Ou seja, não há intervenção humana nem previsibilidade. Ora aqui, pasme-se, ouço dizer que é um sargento que escolhe por onde passsam as rondas. Não dá para acreditar. O sargento escolhe...? Só pode ser uma brincadeira. É isso que para aquelas cabeças de alho chocho é aleatoriedade...? O que isto revela é um amadorismo que é de um vulgar mortal ir às lágrimas.


Portanto, eu espero -- mas espero muito a sério -- que o Marcelo e o Costa averiguem bem o que é que se passa nas Forças Armadas, nomeadamente com no que se refere a material tão sensível porque se há mais desta bandalheira, então, vou ali e já venho. 


Apoio, em geral, o governo do Costa, acho que tem atingido resultados notáveis, acho que restaurou a confiança e que pôs outra vez a economia a funcionar aliviando o garrote financeiro. Tudo certo.

Mas o meu apoio ao que quer que seja nunca é incondicional e, neste caso, só descansarei se o vir mandar proceder, no prazo de dias, a uma séria auditoria ao que se passa a nível de segurança nas instalações onde se guarda material de guerra; mais: que perceba como funciona a linha de comando ali e em todo o lado já que, como se viu neste caso, passam-se as coisas mais aberrantes e não há ninguém na linha de comando que se tenha apercebido de nada de estranho. Tudo totós, ceguinhos, chonés...? Isso não me tranquiliza nem um bocadinho.

Muita reivindicação com carreiras, muita rica vidinha, muitas mordomias... e, no fundo, como é que andam a ocupar o tempo... no dolce fare niente...?

Marcelo, como Comandante Supremo, António Costa, como Primeiro Ministro, têm que levar isto muito a sério. Uma coisa destas, para além de um risco imenso, é um desprestígio de todo o tamanho para as Forças Armadas... e, lamento, é uma paródia, é a gargalhada geral por esse mundo fora. E é um convite a que alguma malta venha buscar mais.


Ou foi uma coisa como esta aqui abaixo que se passou? Uns quantos mânfios irromperam por ali adentro e disseram o que queriam? Às tantas foi --- e deram com um sargento-totó, o tal das rondas aleatórias de 20 em 20 horas.

A Máfia (ou os Terroristas) no Exército
Monty Python



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Quanto aos cinco já exonerados na estrutura das Forças Armadas o que tenho a dizer é que temo bem que isso seja curto face à dimensão do que se vai sabendo. E, para começar, o primeiro que devia ter saído era o próprio CEME, general Rovisco Duarte.


E, lamento a insistência, mas a barracada que isto é e a gravidade da situação delapidam até à medula a confiança na condução política do Ministério que tutela as Forças Armadas. Azeredo Lopes pode não ter responsabilidade directa na condução das manobras de segurança dos quartéis, na reparação dos equipamentos estragados ou na substituição das lâmpadas que se fundem. Mas é o responsável por garantir que não há risco de que material de guerra seja roubado, comerciado ou o catano, pelo menos não com esta facilidade. A bronca e o risco são grandes e graves demais para ele poder contar com a nossa confiança. Deve sair porque é indispensável que o lugar seja ocupado por alguém que faça melhor do que ele mostrou saber fazer.


Temos pena.
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