sexta-feira, maio 12, 2017

Eu e os dois Papas que já vi -- e sem precisar de usar a APPeregrinos.
[Uma conhecida minha quase tocou a mão de Francisco e veio de Roma completamente santinha.
E Trump e o Comeygate
-- e a sua entrada a passos largos nos primeiros dias do resto da sua passagem pela Casa Branca.
É que não há milagre que o salve. Consta que, no FBI, os "Agents are pissed off...”
(e os artigos sobre o possível impeachment começam a apertar).





Eu nem devia contar isto porque, a partir daqui, toda a gente vai ficar a saber que tenho para cima de cento e muitos anos e eu, como é ressabido, quero ver se me confundem com a Cate Blanchett, mas com a Cate Blanchett em mais novo, para aí com menos dez anos do que tem hoje. 

Mas conto. Paciência.

Era eu menininha mas já assalariada, trabalhava num edifício gigante que deitava para uma avenida de Lisboa. O Papa estava cá. Não havia nada destas histerias -- gente a ir com dias de antecedência, as televisões com reportagens em permanência, directos all over, comentários multi-sabores -- pelo menos que eu me lembre. Sei que, de vez em quando, nesse dia, eu ia à janela, espreitar. Como nada acontecia, voltava a sentar-me. Até que, então, ouvi um sururu, toda a gente a ir a correr para as janelas. Também fui, claro. E lá ia ele, todo de branquinho, a dizer adeus. 

Anos depois, queria eu ir para um sítio qualquer, cheia de pressa, e o trânsito cortado. Era o Papa que ia passar. Também nada de histerias, nem sabia que o percurso se cruzava com o meu. Deixei o carro não sei onde e ali de uma das avenidas novas, vi-o a passar na Av. da República. Branquinho, de pé, lá ao longe.

Não me fez impressão de qualquer espécie, não me senti perdoada dos meus incontáveis pecados, não me senti capaz de voar de alegria. Nada. Apenas senti que tinha visto o Papa. E acho que nunca mais me tinha lembrado disso até agora que estou a escrever.

Mas, claro está, isto sou eu. A outra qualquer uma tal visão já tinha dado para se ir internar nas Carmelitas Descalças. A mim, qual quê? Ainda por aqui ando a espalhar gula e luxúria pelos céus. Sim, que aquela visão do Franco encerra em si cinquenta pecados capitais e estar eu a divulgá-la na net é estar a pedir a excomunhão das ondas etéreas, ámen.

E não é que eu ande em más companhias. Pelo contrário. Aqui há tempos, pessoa minha conhecida foi de férias a Roma. Quando a revi, parecia beatificada: 'Estive com o Papa...'. Pasmei: 'A sério...?'. E ela, pia e benta, cabeça santamente de lado: 'A sério'. Fiquei banza. Quem haveria de dizer? Qual sumidade, rainha ou primeira-dama tinha sido recebida pelo Papa. Mas ela, como eu permanecesse naquele estado de estupor catatónico, detalhou: 'Fomos para lá às seis da manhã para ver se arranjávamos lugar na primeira fila, já lá havia muita gente, mas conseguimos um lugar bom. Quando ele passou, estendi a mão e quase ele lhe tocava...' E sorria perante tal milagre.

Faltam-me aqui alguns pormenores pois só me lembro de ter perguntado: 'E aguentou-se tanto tempo sem ir à casa de banho?' mas ela tirou-me as dúvidas com aquele seu sorriso canonizado: 'Aguentei-me...' e parecia que estava a reportar um outro milagre.

Mas, portanto, isto para dizer que desta vez não vou ver o Papa em pessoa. E se eu gosto deste Papa. A sério. Vocês sabem que sim.

Quando vinha para casa, no carro, ouvi dizer que os parques de estacionamento de Fátima já estão cheios, que agora só numas tais 'bolsas' e que a organização recomenda que as pessoas usem a app Peregrinos. Pensei cá para mim: 'Bolas que a organização não brinca em serviço, já tem apps e tudo'. Mas, isto, está bom de ver, é pensamento solitário de uma idosa info-excluída no meio do trânsito de Lisboa.


Quanto àquilo das aparições ou visões ou césar-nevões, continua a polémica.


Já ontem, à hora de almoço, D. Januário Torgal Ferreira dizia aquilo que a ala mais civilizada da Igreja agora diz: que aquilo das aparições claro que não tem materialidade, é coisa interior, que com certeza que a Nossa Senhora não anda por aí a fazer o pino em cima das árvores.


Também, creio que na véspera, José Miguel Júdice se saíu com uma boa: que claro que tem a ver com a fé, não com a razão -- e, à luz da razão, qual a diferença entre uma menina dizer que tinha visto uma Senhora em cima da árvore ou que o Nicolás Maduro foi visitado por um passarinho que era o Chávez? Nenhuma, dizia ele, é uma questão de fé. Mas que não se pode deixar de dar um motivo (ou um símbolo) a que as pessoas se agarrem senão desatam a agarrar-se a outros símbolos, de outras religiões. E pronto, esta é a argumentação de Júdice, crente convicto.


E hoje, na televisão, Frei Bento Domingues dizia que isto das Nossas Senhoras é daquelas coisas que representa uma humanização da religião, o lado humano e feminino numa religião populada maioritariamente por homens. E que isto da Nossa Senhora há para todos os gostos, a de Fátima, a dos Aflitos, a dos Remédios, etc, etc. Soube ontem que também há a Nossa Senhora dos Coletes. Mas dizia também o Frei Bento que a mensagem que este Papa traz é que Fátima seja um local em que os crentes se devem unir a favor da Paz. Não para invocar histórias mal contadas (e esta das histórias mal contadas é minha) mas para receberem a mensagem de serem alegres, inclusivos e defensores da Paz. E, se for isso, parece-me bem.


Logo depois mostraram imagens de gente toda escadeirada, pés em bolha e, pior que isso, todos tomados de um fervor místico ao chegarem lá, a chorarem e a abraçarem-se uns aos outros. Se calhar, quando alguém faz caminhadas deste género e chega ao destino, também fica assim mesmo que o destino seja o lugar mais prosaico do mundo.

E pronto. Sobre o tema nada mais tenho a declarar. E, atenção, nada contra quem se entrega a estes exercícios de caminhadas extremas ou quem acredita mesmo numa senhora em cima de uma azinheira. Cada um é como cada qual e eu não sou aqui nenhuma super-juíza-alex para me pôr com juízos morais sobre os comportamentos de cada um. Sou apenas contra a Igreja que alimentou e alimenta isto, mesmo quando está mais que percebido que Francisco é completamente contra este obscurantismo e contra o aproveitamento, sem escrúpulos, das emoções mais primárias das pessoas.

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Já sobre o Trump, tenho cá para mim que está a entrar a passos largos nos primeiros dias do resto da sua passagem pela Casa Branca. O que ele fez ao do FBI só pode sair-lhe caro. O terem saído fotografias suas, na Sala Oval, a sala de todos os delitos, a receber os russos logo depois de ter corrido com o Comey é pormenor. O que se passou com esta corrida em osso ao dirigente máximo do FBI encerra sinais de uma perturbação que deve preocupar não apenas os Estados Unidos mas o mundo.



Razões de sobra tem, pois, Francisco em pedir aos peregrinos que olhem pela paz no mundo. Tomara é que o ouçam em vez de se porem a traficar favores com a Nossa Senhora.

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E, dado que tenho que ir pregar para outra freguesia, despeço-me já. Espero que se tenham sentido tocados pela religiosidade do Padre Borga e pela imagem de cristal da Nossa Senhora com que a Vista Alegre pretende assinalar as comemorações do Centenário. Algumas mentes perversas viram ali um dildo fresquinho e com ar de limpinho. Mas as mentes perversas não são admitidas neste meu espaço. Para essas, até me permito sugerir aquela imagem da Nossa Senhora que parece a Ana Bacalhau e que se encontra à venda em lojas virtuais brasileiras que anunciam que estão harmonizando sua vida.


Tirando isso, o que eu estimo é o que eu desejo. E peace and love, meus irmãos.


E não deixem de ver o Franco, o meu PT special one, que, entre outros atributos, tem o de ser dado a culinárias saudáveis. No vídeo que partilho convosco, temos pudim de chia ensinado por alguém que mostra que o pudim o fez desenvolver-se em todos os sentidos, presumo que até intelectualmente.

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