E, então, o sul. Desta vez, mais a sul. Houvesse tempo e iria ainda mais, rumo aos mares do sul, mais a sul, o mais possível a sul.
O sul. O sonho do sul.
As gaivotas que voam alto e gritam, o azul. O imenso mar. As aragens do mar. O perfume das árvores que ondulam com os suaves ventos dos mares a sul. Este não é o sul dos verdadeiros mares do sul mas, até onde os olhos alcançam, há mais sul, daqui podia ir até lá, aos mares do sul. Um dia hei-de ir, devagar, debruçada no convés, aspirando a maresia, sentindo as neblinas, espreitando o mar sem fim, no fim dos mares, lá bem a sul.
Os veleiros, os grandes paquetes que se fazem ao mar. Eu daqui, olhando o brilho das águas, olhando o porte majestoso destes grandes paquetes, com vontade que alguém de lá me dissesse adeus, lenço branco acenando ao vento, como nos filmes. Eu, mão em pala rente aos olhos, tapando o sol, tentando descobrir a mão acenando, dizendo eu também adeus.
Da varanda vejo os barcos, estou que tempos a vê-los partir. Tenho comigo um livro, vou lendo com desatenção, sempre à espera que mais um navio saia em direcção ao mar. O livro é um diário e estou a gostar mas a paisagem atrai o meu olhar e eu não consigo resistir.
Andando pelas margens, vejo casais conversando rente ao mar. Imaginarão talvez o futuro. E vejo, de vez em quando algum solitário, sobre uma rocha, olhando a distância. Junto ao porto, vejo homens tisnados que discutem arranjos ou a preparação de viagens, que se sentam com a cerveja na mão a olhar o céu, tomando o pulso aos ventos.
Passeio pelas arribas de onde se alcança o pequeno e colorido povoado que parece flutuar, a cidade branca lá mais ao fundo, Caminhamos ao sol, pelos caminhos que os homens desenharam junto ao mar. Por todo o lado os cheiros, a suavidade da aragem perfumada, a brisa que é fresca à sombra, quente ao sol, o grito das gaivotas.
Mais à noitinha, vamos até ao pueblito. Não é verão, as multidões ainda estão distantes. Agora as ruas têm pouca gente. é bom andar por aqui assim, olhando as casas, os pátios, ouvindo as vozes de quem passa. Sentamo-nos, petiscamos, o pescado sabe a mar, é fresco e bom, conversamos.
Ao fundo, umas mesas com grupos animados onde conversam, riem, e onde um jovem circula entre os convivas, com uns falando em inglês. Vão petiscando e bebendo cervejas enquanto estão naquilo. Chegam mais duas mulheres, talvez da minha idade, vêm alegres, cumprimentando de longe. O empregado dá-lhes dois cálices, que elas levam para as mesas. A animação ali é ruidosa. Vendo-me intrigada, o empregado diz-me: 'Trivial'. Como devo fazer uma cara ainda mais intrigada, ele acrescenta: 'Trivial Pursuit'. Percebo. Encontram-se ali, à noitinha, para jogarem ao trivial.
Mais à noitinha, vamos até ao pueblito. Não é verão, as multidões ainda estão distantes. Agora as ruas têm pouca gente. é bom andar por aqui assim, olhando as casas, os pátios, ouvindo as vozes de quem passa. Sentamo-nos, petiscamos, o pescado sabe a mar, é fresco e bom, conversamos.
Ao fundo, umas mesas com grupos animados onde conversam, riem, e onde um jovem circula entre os convivas, com uns falando em inglês. Vão petiscando e bebendo cervejas enquanto estão naquilo. Chegam mais duas mulheres, talvez da minha idade, vêm alegres, cumprimentando de longe. O empregado dá-lhes dois cálices, que elas levam para as mesas. A animação ali é ruidosa. Vendo-me intrigada, o empregado diz-me: 'Trivial'. Como devo fazer uma cara ainda mais intrigada, ele acrescenta: 'Trivial Pursuit'. Percebo. Encontram-se ali, à noitinha, para jogarem ao trivial.
Regressamos já bem de noite. Faço os meus telefonemas, sei da minha gente, vejo o correio, olho as luzes do porto. Vejo as fotografias feitam durante o dia, escolho uma música para aqui colocar e, de gosto, vou ouvindo várias. Opto por esta que talvez estejam a ouvir, Melodia de Manuel de Falla (1897), com Menchu Mendizábal no piano e Emilio Mateu na guitarra.
Amanhã o passeio levar-nos-á ainda um pouco mais a sul. A cal, o sal, o sol, a sul. O tempo vai arrefecer e talvez molhar-se mas não faz mal. Quase prefiro o tempo assim, o tempo de todos os dias, do que o tempo quente do turismo que tantas vezes desvirtua a beleza e a tranquilidade de lugares como este.
Amanhã o passeio levar-nos-á ainda um pouco mais a sul. A cal, o sal, o sol, a sul. O tempo vai arrefecer e talvez molhar-se mas não faz mal. Quase prefiro o tempo assim, o tempo de todos os dias, do que o tempo quente do turismo que tantas vezes desvirtua a beleza e a tranquilidade de lugares como este.
E talvez arranje coragem para ir apanhar um figo de pita. Estão desta cor, como os vêem, quase iridescentes ao sol. Não sei se são bons. Gostava que estivessem porque me apetece deliciar-me com um fruto assim, com uma casca desta cor, um fruto nativo, criado com o cheiro da maresia, crestado pelo sol e pelos ventos que vêm do sul. Depois vos conto.
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Ode ao Mar de Pablo Neruda, dito por Tomás Galindo
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Talvez até já
(se o sono não me vencer ou eu não for obrigada a apagar a luz - que lhe reduzi a intensidade... fraquinha, fraquinha, mas, ainda assim, pode incomodar).
(se o sono não me vencer ou eu não for obrigada a apagar a luz - que lhe reduzi a intensidade... fraquinha, fraquinha, mas, ainda assim, pode incomodar).
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3 comentários:
então até já.
mas a melodia do Falla é mesmo linda. Obrigada.
Bea,
Também acho. E, uma vez que gostou, já lhe servi mais uma dose, desta vez com castanholas e ostras fresquinhas.
Olé!
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