quinta-feira, abril 06, 2017

Comentários agressivos, ameaçadores.
[Quem são os mauzões da internet?]


Não vou alongar-me com o que não me interessa. Escrever só mesmo pela rama. O tema é um bocado mauzinho.

Explico porquê. Mas deixem que me faça acompanhar de umas quantas pinturas e de música. Textos arreliados e às escuras são apenas em casos especiais.




Durante algum tempo, 
-- era então Sócrates primeiro-ministro e, da direita à esquerda-mais-esquerda, toda a gente o vergastava (tanto que se uniram para o derrubar, sabendo que o que daí adviria seria a desgraça que se viu: Passos Coelho, Paulo Portas e a Troika) 
e eu continuava a defender que, numa perspectiva racional de análise de alternativas, ter o PS no Governo seria, apesar de tudo, incluindo as consequências da crise internacional e da debilidade da economia portuguesa para fazer face a um estrangulamento dos 'mercados', melhor alternativa do que a que se estava a desenhar, 
e, depois também, na era passista, eu a dar com força no láparo, no irrevogável portas e em toda a camarilha (a ver o crime que estavam a cometer, a darem cabo do país e da vida das pessoas a troco de nada, só a fazerem disparates, uma cambada sem competência, sem escrúpulos, sem noção de coisa alguma, sequer de patriotismo, podia lá eu ficar calada perante tal enxurrada de desmandos?),
eu recebia comentários muito ameaçadores. Não os publicava, claro, e muitas vezes, indirectamente era para os seus autores que eu depois escrevia, no corpo principal do blog, para que vissem que não me amedrontavam. Comentários desagradáveis que, de início, tinham a ver com a política, com as minhas posições, para, progressivamente, se tornarem mais e mais ameaçadores, mesmo aterrorizadores. Alusões por vezes difusas, insinuações, ameaças que quase pareciam ameaças de morte.


Quando os lia, sentia uma sensação desagradável, qualquer coisa parecida até com medo. Apagava-os. Outros guardei-os para que um dia que a minha memória teime em fazer-me crer que tal não aconteceu, que foram pesadelos, eu possa comprovar que existiram mesmo. No entanto, essa sensação de um frio descendo-me do peito até ao estômago durava pouco. Em mim as ameaças produzem o efeito oposto.
Funciono muito ao contrário. É como quando me dizem que tenho mesmo que ler um livro ou ver um filme porque é a minha cara: a minha reacção instintiva é pensar que agora é que, de certeza, não. Ou quando tentam meter-me uma cunha. Estão tramados. Involuntariamente deram cabo das hipóteses da pessoa que queriam beneficiar. Podia até ser pessoa válida mas comigo discos pedidos é coisa que não funciona. Em tudo. Alguém que está a querer barrar-me o caminho. Posso, até, parecer que não estou nem aí. Penso cá para mim 'o primeiro milho é para os pardais.' Deixo andar. Mas por dentro estou a dizer: 'com quem te vieste meter.'. E é. É involuntário. Talvez um certo instinto predador, reconheço. 

Portanto, voltando aos tais comentários. Ameaçadores? Está bem, está. De seguida era um post a provocar, a desafiar, a mostrar que podiam vir mais cem mil que eu diria ou faria ainda pior.

Os meus filhos, lendo o que eu escrevia, volta e meia avisavam-me. Cuidado, mãe. Não lhes contava dos comentários para não os preocupar mais. Ao meu marido sim. Ficava incomodado mas apoiava-me, sempre me apoiou, nas minhas reacções. 

Não sou de ter medo. Medo de verdade, quero eu dizer. Posso, como disse, na hora, ter uma reacção instintiva. Mas logo, logo, dou o peito às balas e vou até onde me apetece ir, até com aquele gosto cheio de adrenalina de quem aprecia uma boa disputa em terreno aberto.

Depois as ameaças foram rareando. Felizmente. Apesar de tudo é preferível um ambiente de paz. Prezo a harmonia. E depois a verdade é que nunca se sabe que maluco está por detrás de insultos, de insinuações torpes ou ameaças.


E eu nisto, pensando que era eu que atraía inimigos de estimação, até ao dia em que soube que gente que assim age está já bem catalogada: os trolls, aquelas maléficas figuras que invadem as caixas de comentários com violência, faltas de educação e ameaças.

Há bocado li, no The Guardian, um artigo sobre se faz algum sentido uma pessoa relacionar-se com um maluco que a agride verbalmente através de comentários alarves (Can any good come from engaging with internet trolls?). A resposta é que não. Claro. É todo um mundo paralelo, ou submundo, que gira em torno das redes sociais, blogues, jornais online. Um mundo habitado por gente um bocado estranha. Por vezes dá vontade uma pessoa largar-se disto e pôr-se apenas à varanda, contemplando a natureza, na companhia de um inocente gatinho.



Vi também um vídeo interessante que partilho convosco. Recomendo. Fica-se com uma ideia mais precisa do que é isto. É mesmo um submundo, o bas-fond da coisa.

The internet warriors



Why do so many people use the internet to harass and threaten people, and stretch the freedom of speech to its limits? Director Kyrre Lien meets a global group of strongly opinionated individuals, who spend their time debating online on the subjects they care most strongly about. Online platforms are their favourite tools to express the opinions that others might find objectionable in language that often offends. Do they behave in the same way when they come offline?


______

A primeira, a segunda e a última imagem são de Sam Yeates
As outras são de Arsen Levonee (aliás, a quarta é de certeza; a outra não consegui confirmar)

Lá em cima era Laura Marling a interpretar My Manic & I

______________

E queiram descer caso vos apeteça saber o que acho do arquivamento do inquérito a Dias Loureiro e das explicações dadas pelo Ministério Público.

___

6 comentários:

bea disse...

Não vi o vídeo, mas há gente com muito tempo livre e demasiada bílis dentro de si. É muita cobardia lançarem-na na net. E mau carácter. Porque nem todos são a JM. Há quem fique seriamente incomodado.

Anónimo disse...

vi o vídeo , é cada cromo

Comentários agressivos, ameaçadores.
[Quem são os mauzões da internet?]- ))))))))


Por exemplo, se trabalhasse com uma sociedade de advogados, em que por acaso, alguns dos seus elementos, estivessem na ribalta, e essa mesma sociedade prestasse serviços à sua empresa, sentia-se livre de desancar, ou era mais moderada ou nem sequer falava.

E a sua empresa precisava muuuuuuito dessa sociedade para resolver um problema

Pior que os trolls, são estas "limitações" à liberdade de expressão.Pode ter, mas...


Bob Marley

Anónimo disse...

Para além dos trolls também há os haters. Apenas a detestam, não fazem quaisquer ameaças.

Um Jeito Manso disse...

Olá bea,

Gente frustrada, má e amargurada há em todo o lado. Por muito que gostássemos não vamos conseguir ter 100% de gente escorreita e sã seja onde for.

De resto, quem por aqui anda, escrevendo, acaba por se habituar. Bom é que não sinta a sua liberdade cerceada. Se sentir mais vale não escrever.

Um dia bom para si, bea.

Um Jeito Manso disse...

Olá Bob,

Tem razão. Contudo, o anonimato ou os pseudónimos ajudam nisso, de se poder escrever evitando problemas com patrões, colegas ou, mesmo conhecidos e família.

Mas é verdade, querer escrever e ter receio das consequências deve ser muito mau.

E gracias pela companhia aí desse lado, Bob.

Anónimo disse...

Medida anti-troll - https://www.publico.pt/2017/03/01/tecnologia/noticia/antes-de-comentar-neste-site-e-necessario-responder-a-algumas-perguntas-1763735#

Desde o concurso aventar,e consegue um post ou mais por dia, é obra😋

Bob marley