segunda-feira, fevereiro 13, 2017

Ir ao IKEA e sobreviver.
E depois voltar lá para devolver o que se comprou antes.
E sobreviver outra vez.
Muita sorte, portanto. Também gostavam, não era...?





Pois, então, muito bem. Tudo em ordem. Roupinha lavada, comidinha feita, o que havia a arrumar, arrumado. Presentation despachada, relatório enviado. Tudo jóia. Sossegada aqui na minha salinha. 

Há bocado, quando me instalei aqui no meu sofá de estimação, puxei o saco do Expresso. Pesado. Pensei: continuam a ser mais as nozes que as vozes. Ou seja, quilos de papel. O livro do Estaline, o suplemento da Saúde, o da Economia (que ainda não abri), o Principal (que despachei, sem curiosidade, em três penadas), de novo a Revista. E, surpresa!... afinal também uma laranja. Ontem, antes de me vir embora, andei à laranja. Pelo caminho para cá, comi logo duas. Boas, boas. Só sumo. Docinhas. Nem pingo de tratamento. E bem que aquelas pobres laranjeiras precisariam de qualquer coisa. Parece que as folhas estão amareladas. Mas gosto que as coisas ali medrem por si. E também já aprendi a aceitar que, volta e meia, não vingam. É a natureza.


As amoras, as laranjas, as nêsperas, os figos são sempre uma maravilha. Já morreu um limoeiro e uma figueira. Não sei porquê. Maleitas, falta de rega. Talvez. Mas aprendi a não dramatizar.

Portanto, havia uma laranja no saco do Expresso e essa foi a melhor novidade desta edição.

Depois andei a ver blogs. Descobri outro. Encaro isto da blogosfera como encaro a natureza. Entram uns, saem outros. No outro dia, fiquei completamente desagradada com o que uma pessoa escreveu no seu blog. Deu-me uma veneta, tirei-o logo da minha galeria. Hoje, através do Ouriquense, descobri o Elogio da Derrota e já o incluí ali ao lado (se não o faço esqueço-me: há tantos blogs). Quem tenha tempo, pode passar o dia inteiro a descobrir blogs a partir de outros blogs, novas escritas, novas maneiras de ver a vida. E pode recuar no tempo, ler no tempo antes deste tempo, deixar-se surpreender.


Mas, então, adiante que vinha eu aqui para contar das minhas compras matinais e me distraí. Adiante, adiante.

......

No sábado, à tarde,o meu filho enviou-me uma mensagem perguntando se estavamos por perto pois os dois mais crescidos, com a chuva, fechados em casa, estavam que já não atinavam, se podíamos ir dar uma volta com eles nem que fosse para um centro comercial, só para ver se deixavam de embirrar um com o outro. Mas não deu, estávamos longe e já com os minutos contados até ao fim da noite. Mas, como tínhamos que ir ao ikea este domingo de manhã, podíamos levá-los. Assim ficou combinado.

Andamos há algum tempo a pensar mudar de colchão e um domingo de manhã podia ser uma boa altura. Durante a semana quase não há tempo e está sempre lá muita gente. Domingo de manhã devia ser tranquilo.

Quando íamos a chegar ao carro, para ir apanhar os meninos, lembrámo-nos que não tínhamos medido o colchão. Mas já não dava tempo de voltar atrás pois a combinação era estarmos de volta à hora do almoço e, de resto, eu tinha a ideia que era o tamanho mais pequeno. A cama é tradicional, cabeceira alta em raiz de nogueira, nada daquelas camas actuais, maravilhosas, onde duas pessoas podem estar deitadas como se não se conhecessem, sem aquele drama dele prender a roupa ou vir deitar-se com a cabeça também na nossa almofada,  

Lá fomos. Para começar, parque de estacionamento a deitar por fora. Fiquei logo incomodada. O IKEA cheio de gente é de fugir. Com duas crianças pequenas pior um pouco. Os meus filhso acham que eu fico stressada nestas situações e, se hoje me tivessem visto, teriam constatado que têm razão. Tenho medo de perder algum. Mal chegaram, os meninos ficaram com calor. Portanto, lá andava eu com a trench coat dela e a samarra dele nos braços. Depois ele enfiava-se numa tenda e ela fugia para se sentar numa secretária. O meu marido dizia-me: não tires os olhos dela que eu fico com ele. Mas está bem, está. Logo já ele se tinha esgueirado da tenda e se tinha enfiado noutra casinha e já ela tinha voado da secretária para fazer um puzzle num monitor que estava numa parede. Nestas alturas eu penso que uma pessoa austera talvez conseguisse impor algum respeito, trazê-los pela mão. Mas não. Não só sou contra a austeridade como o meu próprio facies desmentiria tal vocação. Portanto, foi assim, esgueirando-se um por aqui e outro por ali até conseguirmos chegar aos colchões. Lá chegados, uma festa. colchões de latex, de molas, de molas ensacadas, de espuma, de firmeza elevada, de firmeza média. Várias combinações. Com sobre-colchões ou sem, de solteiro ou casado. Lá me informei. Melhores os de molas ensacadas. Em circunstâncias normais, talvez tentasse saber que coisa vem a ser essa de molas ensacadas. Assim, acriticamente, aceitei. Cada um deitado em sua cama, mudando de cama em cama, e eu aflita, uma multidão de gente a experimentar colchões e eles a correrem de cama em cama. 
Percebemos, então, que havia uma promoção justamente para colchões. Daí aquela barafunda.
No meio daquela confusão, até o meu marido se deitou numa para confirmar: de molas ensacadas, firmeza elevada. Depois o tamanho. O mais pequeno: 140x190. Só podia ser essa a medida. Nada de 160 ou 180, essas larguezas paradisíacas. Tirar código, corredor, secção. Fotografar para não enganar.

Depois a odisseia de ir buscar ao armazém. Os colchões vêm enrolados, um big e pesado rolo. Os meninos queriam ir dentro do carrinho. Pôr lá o colchão foi obra. Lá fomos, a custo, então, para a caixa.

Quando estavamos na fila, olho para o colchão e vejo: espuma. Não dava para acreditar. Era para ser as ditas molas ensacadas. Tínhamo-nos enganado. A custo, o meu marido lá foi trocar, aquilo a pesar toneladas. Lá regressou com outro big chourição, coisa para quase trinta quilos, 

À saída, quiseram ainda um cachorro. Os pais odeiam que eles comam porcarias mas, enfim, um dia não são dias e não será uma salsicha que há-de fazer mal. Lá fomos. Estafados.

Depois ainda pior. Enfiar aquele monstro no porta bagagens com o banco de trás ocupado com duas cadeirinhas foi outra odisseia. A parte de trás do carro teve que ser quase desmanchada para se conseguir a proeza.

Mas, pronto, meninos entregues a horas. E lá andei outra vez com o bebé ao colo, fofinho, fofinho. Ia a sair de lá, mensagem da minha filha, que iam ver o bebé daí a nada, se não queríamos ir também lá ter. Bem que gostava, há uma semana que não vejo os outros pientinhas mais lindos mas com o que ainda tínhamos para fazer, não dava.

Lá fomos, então, para casa, o meu marido com aquele canhaozão nos braços. Quem já lá comprou um colchão sabe que aquilo parece que é dobrado em vácuo. Quando se tiram as fitas, aquilo desdobra-se, enche-se de ar ou lá o que é, expande-se, e fica um colchão normal. Felizmente não o fizemos. Lembrámo-nos de medir o actual colchão. Pois. Ia-nos caindo tudo. 1,30*1,85. E sem margem para um centímetro a mais já que a cama tem aquela parte dos pés para cima, a travar o colchão. O meu marido disse: Pois, não me admiro. Se me esticar, fico com os pés de fora. Ficámos passados a olhar para aquilo. Solução: voltar lá, devolver.

Voltar lá...?

Nããããããoooooooo....!


Outra vez com o canhão nos braços, outra vez a enfiar no carro. Desta vez mais simples, deu para rebater parte do banco de trás.

Fatalistas com aquilo tudo, já íamos a temer o pior. Não. Tudo na boa. Ninguém nas devoluções. Ficaram com o colchão, devolveram o dinheiro. Não vendem lá colchões da dimensão do nosso. O meu marido já queria ver-se livre da cama. Por ele trazia uma cama larga, um colchão largo. Era o que faltava, uma cama tão bonita.

Com isto já passava das três. O meu marido perguntou: 'Será que a esta hora, lá em cima, ainda servem almoços?'. Achei que sim, aquilo é gente com olho para o negócio.

Quando lá chegámos só nos apeteceu fugir. Uma multidão, muito pior do que de manhã. O restaurante a deitar por fora. Filas e filas. Mas ir a outro lado? Àquela hora...? Ficámos.

Almoçámos lombo de salmão com legumes grelhados, ele salada, eu caldo verde, cheese cake com mirtilos. Agradável. Saímos de lá às quatro da tarde. 

De lá, resolvemos ir, então, a casa dos meus pais. Pelo caminho fui compondo o post abaixo que já tinha começado em casa. Em casa dos meus pais recebi uma mensagem da minha filha com um dos flhos com o bebé ao colo. Mais tarde, o mano também com o primo ao colo. A seguir os habitantes da casa iam para casa da outra avó pois havia outra festa de anos. Imagino que o bebé, que fez este domingo à noite uma semana, lá deve ter continuado a andar de colo em colo. Nem protesta. No meio da confusão  e de colo em colo e a dormir descansado. Menino mais lindo.

E pronto, foi isto. Uma trabalheira doida, uma estafadeira no meio de uma multidão e resultado zero.

No entanto, tenho a dizer que fico sempre com vontade de ir um dia ao ikea, um dia em que milagrosamente haja pouca gente e em que eu tenha muito tempo.


Aquilo ali há de tudo e coisas fantásticas. Mesmo assim, de manhã, no meio de todo aquele fuzuê, ainda consegui trazer um saco de molas para fechar embalagens, que as anteriores levaram não sei que descaminho, uma garrafa com tampa, para a água, e uma caixa de vidro com tampa de plástico para guardar comida no frigorífico. Mas deitei o olho a mil outras coisas que me dariam um jeitão. Em relação a algumas teria, antes, que perceber qual a sua função mas, estou certa, quando a descobrisse pasmaria de ter sobrevivido até aqui sem elas. E não estou a brincar.


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Lá em cima The Lumineers interpretam Sleep On The Floor. Nem mais.

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E desçam, por favor. Em baixo, o ambiente é mais tranquilo.

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8 comentários:

Anónimo disse...

"se não o faço esqueço-me"

Anónimo disse...

Sou "ikeana". O conceito é giro, moderno.
Em início de vida pode mobilar-se a casa com pouco dinheiro! Compra-se, usa-se, deita-se fora! E nova compra(agora de outra loja com mais qualidade se a vida o permitir). E nem pensar mudar de apartamento. Não aguenta desmontar e voltar a montar.
Positivo: design, devoluções.
Negativo: qualidade.
Mas, galinha gorda por pouco dinheiro ...
Mozi

bea disse...

Cuidado não mate as árvores, as figueiras não se regam, são de sequeiro.

Um Jeito Manso disse...

Anónimo I,

Não quer desenvolver o seu raciocínio?

Obrigada.

Anónimo disse...

Pensei que bastaria o reparo. A senhora escreveu "senão o faço esqueço-me" e a forma certa é "se não o faço esqueço-me".

Um Jeito Manso disse...

Mozi,

Atenção: também sou ikeana. Vou é tentar encomendar por telefone e tentar que com as caixas venham uns quantos habilidoso que tragam tudo mesmo aquilo de que eu me esquecer (como me aconteceu com um roupeiro que lá comprei e que, quando os brasileiros que cá vieram montar acabaram, eu vi que me tinha esquecido dos puxadores. Admirada, perguntei: 'mas então junto com o roupeiro não vêm os puxadores ?'. Resposta : 'não, dona, tem que encomendar à parte.' E eu atrapalhada: 'mas e agora como abro as portas?'. E eles: 'a sinhóra bota a mão assim de lado, e com os dedos enfiados ali, puxa'.

E não acho que seja de má qualidade. O drama é andar lá no meio da confusão e vir com aquilo tudo....

Um Jeito Manso disse...

Bea,

Não deixa passar uma, bea... Implacável.

Não rego as figueiras mas as laranjeiras deviam ser regadas no verão e, coitadas, mal as rego... Quanto à figueira não sei porque morreu. talvez idade. Enorme, frondosa e depois, de um ano para o outro, morreu. De pé.

Have a big smile, bea.

Um Jeito Manso disse...

Caro Anónimo I,

Tem-me em mui elevada consideração. Se nem acordada sou muito perspicaz, fará a dormir. Li o que escreveu no seu comentário e pareceu-me bem. Fiquei a pensar: ora bolas, o que é que está mal? Achará que falta uma vírgula? E nem me ocorreu que o seu comentário era a correcção do que eu tinha escrito...

Claro que tem razão. É como o 'por que' e o 'porque'. Costumo ter tento na mão mas, sabe lá, a esta hora e com os dias que tenho, se for só isto até deito foguetes.

Mas saiba que agradeço. Agora tenho que ir à pesca disso no meu texto para emendar. E, se não for abusar, peço que me alerte sempre que a pata me fugir para a poça.

Uma boa noite para si, Anónimo I.