O João L. comentou o post lá mais para baixo sobre o substracto biológico das opções políticas, transcrevendo excertos de um interessante artigo do qual deixou o link.
Hard-wired: The brain's circuitry for political belief
When people's political beliefs are challenged, their brains become active in areas that govern personal identity and emotional responses to threats, neuroscientists have found.
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Li-o com muita curiosidade pois tudo o que tenha a ver com cérebro e com territórios (para mim) desconhecidos me atrai.
Já o vídeo que eu lá tinha deixado indicava que o medo é determinante nas opções políticas e que a forma como o cérebro reage a estímulos que desencadeiam sensações similares ao medo parece estar associada à escolha por uma opção conservadora, reaccionária, de direita ou progressista, de esquerda.
Tenho estado a pensar nisso. Lembrei-me de uma coisa.
Quando o Um Jeito Manso atingiu o milhão de visitas, pedi ao meu marido e aos meus filhos que escrevessem sobre mim.
O texto da minha filha começa assim:
A minha mãe é uma mulher sem idade, sem limites, sem medos - características que tanto invejo.
É em quase tudo uma menina em ponto grande, que tem um gosto apaixonado pela vida, de uma forma inconsciente e irracional.
Tenho que lhe dar razão. Não é que nunca tenha medo. Às vezes tenho mas, na maioria das vezes, até consigo conviver com isso. Mas é verdade: onde me recomendam cuidados, prudências, que me salvaguarde, que me resguarde, eu não quero nem ouvir. Conversa chata, pedras agarradas às pernas. Não gosto. A minha primeira tentação -- e geralmente a última -- é esta: chego-me à frente e logo se vê. É verdade: ao fazer opções, pode parecer que há em mim um lado insconsciente e irracional. Tolerante que sou para comigo, prefiro pensar que não é bem inconsciência ou irracionalidade, que é, sobretudo, intuição, esse short cut da inteligência.
Salvo casos bem identificados, sou destemida. Volta e meia vejo-me metida em situações em que me interrogo porque é que meti eu naquilo. Mas a reacção é sempre: adiante, para a frente é que é caminho.
Talvez, então, por isso, politicamente eu não me identifico com os que temem aventuras, os que se agarram à cadeira com medo de papões, os que se sentem quentinhos junto a tradições, os que nunca descalçam as botas do conservadorismo.
Se cheira a novo, a desempoeirado, se detecto um genuíno apelo de liberdade e se sinto que há vontade de descobrir novos caminhos, aí estou eu, pronta para embarcar.
A história não me condiciona e o passado é, para mim, coisa que já era. A mim é o futuro, o desconhecido, o que está por descobrir que me fascina.
No mundo profissional em que me movo, sou tida por early adopter: Se a coisa me faz agitar a adrenalina, se sinto que o risco existe mas, enfim, talvez seja controlável e que os potenciais benefícios são aliciantes, aí me têm. Não quero saber de referências, não quero saber de onde antes se fez assim. Nem me ocorre isso. O que me ocorre é dizer 'bora lá', vamos arriscar.
Leio o que a ciência tem para nos ensinar. É então o meu cérebro que assim me conduz, é então a minha amgídala que fareja os riscos da gente que apela aos medos mais primários e que, pelo contrário, se deixa empolgar por quem parece ter boa índole e mostra saber ousar, é então a minha amígdala que se põe em bicos de pés, que solta as asas, pronta para voar sempre que vejo quem, como eu, gosta de abrir as janelas, atravessar todas as portas para subir montanhas, enfrentar tempestades, atravessar oceanos, para trepar à lua, para deixar que a cintilante poeira das estrelas ilumine os misteriosos caminhos.
Sou, pois, insensível aos que tentam esfregar-me na cara o que os de antanho fizeram para que eu veja os riscos em ousar mudar de rota, não quero saber de lições gregas, de ensinamentos romanos, não quero saber de nada o que faça sentir-me soterrada pelo pó do passado. Quero é que mostrem os sons do universo, as ondas estranhamente musicais que percorrem o vasto infinito, quero é que me mostrem a alegria de partir à descoberta de longínquos horizontes.
Sou, pois, insensível aos que tentam esfregar-me na cara o que os de antanho fizeram para que eu veja os riscos em ousar mudar de rota, não quero saber de lições gregas, de ensinamentos romanos, não quero saber de nada o que faça sentir-me soterrada pelo pó do passado. Quero é que mostrem os sons do universo, as ondas estranhamente musicais que percorrem o vasto infinito, quero é que me mostrem a alegria de partir à descoberta de longínquos horizontes.
Por isso, então, o meu coração bate à esquerda.
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As imagens referem-se ao cérebro.
Quem canta, canta O quanta qualia, Petrus Abaelardus (1079-1142)
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Abaixo o filme de um 'quadrado' amoroso.
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